Após bater Andrew Cuomo, ex-governador do Estado de Nova Iorque, nas primárias do Partido Democrata, Zhoran Mamdani é o candidato favorito para chegar ao posto de mayor, equivalente a presidente de Câmara, da maior cidade dos Estados Unidos. De acordo com o Polymarket, Mamdani tem 73,6% de hipótese de vencer, sendo que o mayor incumbente, o ex-democrata Eric Adams, vem em segundo com apenas 19,4%.
O candidato tem 33 anos e parece ser a nova coqueluche da esquerda progressista americana, gozando já, naturalmente, de popularidade um pouco por toda a Europa. É visto como a nova esperança da esquerda, alguém que a pode resgatar da crise intelectual, eleitoral e até moral profunda que atravessa. Até em Portugal, os supostos socialistas democráticos parecem estar em êxtase com a eleição provável de Mamdani, visto como uma alternativa corajosa, veja-se, a um «centrão moderadão, sem causas e convicções», citando Sofia Pereira, a líder da Juventude Socialista.
Recordemos, então, algumas das causas e convicções de Zhoran Mamdani. Comecemos pela mais importante e que devia receber mais atenção de todos os chamados socialistas democráticos, patrocinadores de um socialismo que, teoricamente, se soltou das amarras dogmáticas do socialismo de Marx que provocaram, sempre e em todo o lado, miséria e violações grosseiras e sistemáticas liberdades individuais dos cidadãos. Em 2021, Mamdani disse que os socialistas não se devem esquecer, nem esconder, do seu grande e final objetivo: apoderar-se dos meios de produção. Há poucas coisas mais marxistas que isto. E se podemos dizer que hoje existem em muitas comunidades políticas vários comunistas encapotados, dada a impopularidade natural do seu ideário dogmático, Mamdani não é, certamente, um deles, chegando até a propor a criação de mercearias controladas pelo aparelho municipal com o objetivo de oferecer preços mais baixos aos consumidores. Mostrar a Mamdani e aos seus correligionários a imagem de Boris Yeltsin na sua primeira visita a um supermercado americano após o colapso da União Soviética seria, talvez, uma ação inteligente por parte dos seus opositores.
Para além desta afiliação doutrinária que deverá ser objeto de tentativas de encobrimento, Mamdani é ainda a favor da BDS, uma campanha de boicote, desinvestimento e sanções contra o Estado de Israel, que apela aos seus seguidores que deixem de consumir produtos de «empresas que lucram com o genocídio do povo palestiniano». Falamos de empresas, apenas para mencionar algumas, como a HP, a Siemens ou a Remax, já para não falar das que devem ser alvo de «boicote orgânico» como o McDonald’s, o Burger King ou a Pizza Hut.
Outra das questões em que Zhoran Mamdani tem funcionado como um megafone do esquerdismo mais radical é na questão a polícia. Por exemplo, em 2020, escreveu na sua conta oficial do então Twitter, que não seria necessária uma investigação «para saber que que a NYPD [Polícia de Nova Iorque] é racista, anti-queer e uma ameaça à segurança pública. O que precisamos é de #DefundTheNYPD. (…) Não aos cortes falsos – não financiem a polícia».
A eleição de Mamdani poderá conseguir duas coisas, mesmo que possam parecer paradoxais: reavivar, ainda que momentaneamente, a esquerda e dar mais uma machadada no Partido Democrata que parece empenhado em continuar a sua “kamalização”, desta vez de uma forma ainda pior. A primeira não é certa, mesmo que seja provável. A segunda é garantida. Esperam-se tempos complicados na Grande Maçã, que pode bem, a curto-médio prazo, tornar-se pequena de tão espremida.