Anna Wintour. O legado da Dama de Ferro da moda

Conhecida pela abordagem autoritária e o estilo icónico, Anna Wintour esteve quase quatro décadas à frente da Vogue americana, revolucionando o mundo da moda e tornando a revista como uma das mais poderosas do setor. A rainha da moda deixa agora o cargo de editora-chefe da revista, mas vai manter-se dentro da empresa.

Falar de moda sem falar de Anna Wintour é impossível. A britânica enraizada na América, é uma das personalidades mais influentes do setor, conhecida pelo seu estilo único, visão inovadora e papel fundamental na definição de moda contemporânea. Aos 75 anos, deixa o cargo de editora-chefe da edição americana da Vogue, depois de quase quatro décadas ao leme da revista, ainda que continue como diretora global de conteúdos da Condé Nast.

A carreira deste ícone da moda começou em 1970 e não é de estranhar que tenha escolhido este mundo, tendo em conta que o pai, Charles Wintour, era editor do London Evening Standard. O jornalismo estava então no seu sangue e isto ajudou a moldar a sua carreira. Nos anos 70, começou a trabalhar para publicações britânicas como a Vogue e a Harper’s & Queen. Mudou-se, já no início dos anos 80, para os EUA; onde trabalhou primeiro como assistente de moda na revista New York Magazine antes de rumar à Vogue americana como editora de moda, o que aconteceu em 1988.

Chegou e deixou logo marca. A sua entrada na revista marcou o início de uma era de grande transformação para a publicação e para a indústria da moda. Foi sob a sua liderança que a Vogue se tornou uma plataforma de lançamento para novos designers, uma referência para as tendências de moda e um reflexo da cultura contemporânea. Com ela, ficou também popularizada a ideia de ‘celebridade na capa’, o que acabou por consolidar ainda mais a Vogue como um símbolo de poder e prestígio.

O mundo da moda defende que a «maneira implacável» como Anna Windour conduz os seus negócios e decisões editoriais ajudou a montar e a consolidar a sua reputação, sempre com uma imagem de mulher com personalidade forte e visão clara. E muito exigente.

E foi ‘mãe’, mentora e uma grande ajuda para muitos. Trabalhou ao lado de designers da moda de renome como Karl Lagerfeld, Yves Saint Laurent, Marc Jacobs e outros, tendo desempenhado um papel muito importante na introdução de outros como Alexander Wang, Marc Jacobs e Christopher Kane.

Estilo, vida e influência

Anna Wintour nunca passou despercebida, algo que se mantém até aos dias de hoje. Uma das suas imagens de marca são os óculos escuros de armação grande. É vista com eles frequentemente, mesmo em ambientes fechados, o que se tornou um símbolo da sua postura reservada e, ao mesmo tempo, poderosa.

Mas não só. O penteado é o mesmo há anos. O corte de cabelo reto, estilo bob é outra assinatura visual de Wintour, que se mantém há décadas.

Já no que diz respeito à roupa, não há como enganar: Paletas de cores clássicas e sofisticadas, com uma preferência por roupas minimalistas, com tecidos de alta qualidade e cortes precisos.

Quanto à sua personalidade, é conhecida pela postura distante e implacável, o que se aplica não só ao trabalho, mas também à sua vida pessoal. É muitas vezes descrita como «difícil» ou «fria». No entanto, no seu dia a dia mostra ser uma pessoa muito discreta, principalmente no que diz respeito à sua vida pessoal.

E terá também ligação ao cinema. Anna Wintour tornou-se uma figura cultural mais ampla, em parte devido à personagem Miranda Priestly, interpretada por Meryl Streep no filme O Diabo Veste Prada. Ainda que o filme seja ficção, muitos consideram a personagem uma alusão direta a Wintour. Esse papel ajudou a consolidar a sua imagem de mulher poderosa e inflexível, mas também carismática.

Seguimos ainda para o Met Gala, evento que organiza desde 1995. Anna Wintour tornou o evento um dos mais importantes do calendário de moda global. E foi através de si que o Met Gala se transformou numa noite de glamour, arte e entretenimento, sendo conhecido e divulgado a nível mundial.

Ao longo dos anos, a sua influência e o seu trabalho levaram-na a contactos com nomes muito conhecidos do público. Um deles é a princesa Diana, com quem Wintour teve uma relação de amizade. Lady D chegou até a ser capa da revista. Diz-se, no entanto, que não seria uma amizade íntima, mas uma boa parceria estratégica no mundo da moda.

Juntam-se outros nomes como Karl Lagerfeld, lendário da Chanel, Barack e Michelle Obama, Kate Moss, Rihanna, Beyoncé, Victoria Beckham, Tommy Hilfiger, Gisele Bündchen, entre muitos outros.

Prémios, reconhecimento e futuro

Ao longo de sua carreira, Anna Wintour recebeu vários prémios e reconhecimentos pelo seu trabalho na indústria e pelas contribuições à cultura global. É reconhecida como uma das pessoas mais poderosas do mundo, com uma lista de premiações que incluem o título de ‘Commander of the Order of the British Empire’ (CBE), concedido pela rainha Isabel II em 2008, e um lugar na famosa lista das 100 pessoas mais influentes da Time.

De saída, Wintour parece empolgada com o seu sucessor, que ainda não é conhecido: «Agora, o meu maior prazer será ajudar a próxima geração de editores a fazer a diferença com as suas próprias ideias, apoiados por uma visão nova e entusiasmante do que pode ser uma grande empresa de comunicação social. É esse tipo de pessoa que precisamos agora para ser o Diretor Executivo da Vogue americana», disse recentemente.

E sendo certo que a veterana da moda continuará a trabalhar dentro do grupo, não devem ser esperadas grandes mudanças.