É quase impossível ficar indiferente à performance de José Sócrates. O homem diverte-me imenso com as suas maluqueiras, mas tudo é muito triste, e o exemplo que está a dar, de desrespeito por tudo e por todos, irá sair caro a muitos juízes e procuradores espalhados pelo país. Quantos ‘moinas’ não vão copiar o seu comportamento?
Confesso, sou viciado no julgamento da Operação Marquês e fico agarrado à televisão da parte da manhã à espera da entrada em cena de José Sócrates para me rir sem parar. O homem tem essa capacidade de nos animar a manhã, com os seus avanços para o interior do edifício, os recuos, as falas mansas logo substituídas pelos ataques de fúria, e por aí fora. Por outro lado, é assustador pensarmos que foi este homem que comandou os destino do país.
Como foi possível tantos ministros e secretários de Estado terem pactuado com um animal feroz, que não sabe distinguir o bem do mal? Que quer transformar o julgamento numa espécie de circo, com umas aulas de teatro? Que não respeita ninguém e se faz de vítima do sistema? Qual será a estratégia daquele que ficou conhecido como Pinóquio? Espera que a juíza presidente faça o que qualquer um faria? Expulsá-lo ou dar-lhe ordem de prisão? Nunca me esqueci de uma frase que me foi dita, quando era novo e vivia nos Olivais, em Lisboa, em relação a alguns desempregados que passavam o dia encostados à parede: «Nunca respondas às provocações deles. O que eles querem é alguma animação que quebre a monotonia das suas vidas», dizia-me alguém. Sócrates só está à espera que a juíza o mande sair da sala para vir aos pulos queixar-se aos jornalistas. Sócrates joga tudo contra o procurador, a juíza, os jornalistas e se encontrar um periquito pelo caminho também será alvo da sua fúria. Quer, a todo o custo, fazer-se de vítima.
Infelizmente, este animal feroz é um péssimo exemplo para todos aqueles que têm de prestar contas à Justiça. Imagine-se o que não vai na cabeça de alguns ‘moinas’ ao ver o ‘político’ a estrebuchar com o tribunal, sem ter medo de ninguém.
Calculo que num futuro próximo muitos juízes terão que colocar na ordem aqueles que vão copiar o comportamento de José Sócrates. Também por isso, penso que a juíza não deve permitir que este animal feroz seja um exemplo para outros e deve ‘castigá-lo’ como faria ao comum dos mortais.Já estive em tribunal várias vezes para defender jornalistas e sempre que me distraía com o advogado contrário era logo chamado à atenção pelo juiz. Este julgamento ficará para a história como o melhor circo do mundo ou o teatro mais deprimente do universo. Ou Sócrates sairá em ombros, e aí talvez apareçam os amigos de outrora, como Vieira da Silva, Augusto Santos Silva, Pedro Silva Pereira,Pedro Adão e Silva, entre tantos outros. Seria engraçado vê-los com cartazes a gritar pelo grande líder.
Mas parece-me que iremos assistir, daqui a uns longos meses, a alguém sair do Tribunal numa camisa de forças, fazendo lembrar imagens de doentes de hospitais psiquiátricos, para não falar de outra coisa. Se comecei por dizer que me divirto com as maluqueiras do homem, pois estou sempre à espera do que vai inventar, a verdade é que o espetáculo que José Sócrates dá é mau demais. Confesso, de novo, que se alguma televisão, durante a noite, passasse todas as escutas conhecidas, bem como as sessões de julgamento, eu ficaria ainda mais viciado no Circo José Sócrates.
Telegramas
Uma provedoria sem nexo
A história está cheia de ironias e a da Provedoria de Justiça é uma delas. A atual ministra da Administração Interna, Maria Lúcia Amaral, era provedora da Justiça quando se deu a famosa rusga na Rua do Benformoso. Já esta semana, o seu vice-provedor de então, fez um relatório sobre a operação policial que não deve ter deixado a governanta muito feliz, criticando a PSP. Diga-se que o relatório é uma tontice pegada e só falta dizer que as revistas pessoais devem ser feitas numa suíte de hotel.
Agência de comunicação dividida
Luís Bernardo é um dos homens fortes em comunicação, tendo-se destacado ao lado de José Sócrates, e agora à frente da campanha de Gouveia e Melo.Curiosamente, o seu ‘diretor-geral’, António Galamba, está a ‘tratar’ da campanha do seu amigo António José Seguro. Nada como pluralidade no trabalho.