Não consigo perceber, e se calhar até é melhor, o caminho que alguma comunicação social está a seguir. Os factos já não são factos, as opiniões é que são a nova verdade. Vem esta conversa a propósito dos acontecimentos da localidade de Torre Pacheco, em Múrcia, Espanha, que tomei conhecimento através de dois vídeos que me mandaram, depois de alguém me ter alertado para o caos que ali estava instalado. Quando liguei a televisão ainda mais confuso fiquei. Quase todas as notícias falavam do ataque da extrema-direita a imigrantes que vivem em Espanha há décadas, e houve um canal que chegou mesmo a noticiar que tudo teve origem num ataque de um espanhol a um idoso imigrante de 68 anos.
Que raios, pensei. Isto é demais, então tudo terá começado porque houve um ataque de jovens imigrantes a um espanhol e agora em Portugal descobrem que foi ao contrário? Tenho ideia que não vi uma única notícia que dissesse que os ataques de elementos ligados à extrema-direita aos imigrantes tiveram origem, precisamente, na selvejaria de imigrantes sobre um homem de 68 anos. Não é que isso justifique o que se passou a seguir, nem é essa agressão bárbara que suaviza as agressões monstruosas contra imigrantes. O jornalismo costumava noticiar factos, factos, factos. Se é verdade que se diz que elementos de fora da cidade de Torre Pacheco se juntaram à ‘festa’ para agredir – e tenho a maior repugnância por violência, seja ela de quem for – grupos de imigrantes, também não é menos verdade, pelas imagens que vi, que jovens imigrantes se ‘vestiram’ a rigor para atacar espanhóis.
Nem vou aqui discutir o problema complicadíssimo de Espanha e a imigração, muita dela verdadeira mão-de-obra escrava, o que me faz mesmo confusão é os jornalistas não quererem saber da verdade e estarem numa espécie de regresso à primária, quando nos davam um texto e nos pediam uma redação sobre o mesmo. Muitos estão a fazer redações sobre as imagens que recebem, e calculo que queiram receber uma boa nota nas redes sociais, dos amigos a colocarem likes sobre os disparates que disseram.
Continuando em Espanha, a festa de maioridade de Lamine Yamal, provavelmente o jogador de futebol mais talentoso do mundo, mereceu destaque em toda a imprensa nacional e internacional. Que houve prostitutas e anões contratados, mostrando o quão miserável é Yamal. Como as prostitutas não devem ter sindicatos, não houve ninguém que as tivesse defendido – consta que o jogador exigia alguns requisitos físicos às contratadas, numa clara atitude de exclusão… –, mas o mesmo não se passou com os anões. Depois da Associação de Pessoas com Acondroplasia e Outras Displasias Esqueléticas (ADEE) ter criticado violentamente o jogador, e que, inclusivamente, avançou com uma queixa contra o jogador, um dos quatro artistas que fizeram parte da festa, disse precisamente o contrário. «Ninguém nos faltou ao respeito, deixem-nos trabalhar em paz. Não percebo porque é que há tanto alarido. Somos pessoas normais que fazem o que querem fazer de uma forma absolutamente legal», disse, acrescentando, segundo A Bola: «Em nenhum momento humilharam as pessoas com nanismo». O artista, que não deu o nome, terminou acusando a ADEE: «Há alguns anos que estas pessoas nos prejudicam, querem proibir um trabalho de que gostamos e em nenhum caso ofereceram trabalho ou cursos às pessoas afetadas. Trabalhamos como animadores, porque é que não o podemos fazer por causa da nossa condição física?». Quando li a primeira notícia pensei que Yamal se tinha inspirado no filme O Lobo de Wall Street, mas felizmente não foi o caso.
Telegramas
Comunista até ao fim
O histórico comunista Domingos Abrantes deu uma entrevista a Anabela Mota Ribeiro – que está a anos luz do que foi – e confessou tudo o que lhe vai na alma. Que o 25 de Abril praticamente morreu nessa noite de 1974, e que no «dia em que os animais tiverem os seus historiadores, Soares não será o pai da democracia», entre outros mimos. Quem diz que o PCP_tem um pensamento democrático que leia esta entrevista que saiu na revista Somos Livros. Ah!_Mas teve uma saída genial e verdadeira: «Em Portugal, houve um milagre maior do que o de Fátima: a seguir ao 25 de Abril, desapareceram os fascistas. Eram todos democratas».
As deambulações do PSD
Que o PSD quer gritar vitória no maior número de autarquias percebe-se, mas que o faça a todo o custo é que é estranho. A nomeação de Maria das Dores Meira, antiga autarca do PCP em Setúbal, ultrapassa o bom senso. O apoio a Isaltino Morais é estranho, mas é a prova de que o PSD percebeu que não pode lutar contra o presidente-rei de Oeiras.