
Querida avó,
És conhecida, entre muitas outras coisas, por adorar celebrar aniversários.
Existem pessoas que não apreciam tal celebração, como é possível?
O aniversário é uma oportunidade de celebrar a vida, o nosso nascimento, existência e percurso até ao momento presente… É uma ocasião para agradecer por mais um ano vivido.
No meu caso, é também um momento de introspeção: pensar no que se conquistou, no que se aprendeu e no que se quer alcançar no próximo ano. Pode ser uma boa oportunidade para renovar metas e fazer planos, que são reforçados na passagem de ano.
Quem celebrou 91 anos, esta semana, foi a Olga Cardoso, mais conhecida por “Amiga Olga”.
Recordo-me de a ouvir no programa “Despertar”, na Rádio Renascença, onde esteve mais de vinte anos. Em parceria com o nosso amigo António Sala, o programa ganhou enorme popularidade, tendo liderado as audiências durante muitos anos. Um enorme sucesso, bastante recordado pelos mais velhos.
Aos 59 anos, prova que nunca é tarde para nada, estreia-se na televisão para apresentar o concurso “A Amiga Olga”, na TVI.
O biquíni também celebrou o seu aniversário. Chegou a Portugal nos anos 60, mas só se popularizou, verdadeiramente, na década seguinte. Inicialmente, o uso do biquíni enfrentou alguma resistência e até proibição em certas praias. A sua popularidade aumentou com o tempo, impulsionada por fatores como o cinema, a música e a crescente aceitação da moda praia reveladora.
Não sei se usaste muitos biquínis. Creio que a amiga Olga deve ter usado bastantes.
Creio que o facto de vestirmos o que queremos, também merece ser festejado. Em alguns países o uso de biquíni é proibido!
Como diria uma amiga nossa, que sempre gostou muito de festejar e usar biquíni: «Estar vivo é o contrário de estar morto».
Como tal, nada como festejarmos a vida!
Bjs
Querido neto,
É verdade, conheces tão bem esta avó que tanto te ama! Deixa-me contar-te uma que situação que me aconteceu esta semana:
Desde sempre que me lembro de ver – num dos muitos bancos de pedra que se encontram na rampa que dá acesso à Praia do Sul aqui na Ericeira, onde passo as manhãs, como sabes –, um minúsculo desenho de uma foice e um martelo e a frase «mata fascistas».
Um destes dias, ia a descer a rampa um senhor com um miúdo pequeno pela mão. E o miúdo perguntou-lhe:
«Ó pai, o que são fascistas?»
E o senhor, muito sério, deu-lhe imediatamente a explicação:
«Olha, meu filho, são aquelas pessoas que nunca estão satisfeitas com coisa nenhuma, percebes? Mas mesmo nunca! Querem sempre mais e mais, e estafam-se a trabalhar para o conseguirem. Às vezes nem têm tempo para a família!»
Fiquei a olhar para ele… boquiaberta.
Então, fiquei a pensar que este mundo deve estar a abarrotar de fascistas, e ainda bem!
Acho que a partir de agora nunca mais me ouvirão dizer «fascismo nunca mais!»
Ouvimos cada uma…
Se as datas fossem celebradas, verdadeiramente, não nos esquecíamos do que “são fascistas”!
Falando de coisa mais divertidas,
O meu querido amigo Mia Couto também celebrou o seu aniversário esta semana. Um dia eu estava na Editora Caminho (ainda não havia a Leya…), sentada ao lado de uma senhora estrangeira, Patricia de Baobetta, ou um nome assim parecido.
Metemos conversa e ela disse-me que estava à espera do Mia Couto porque gostava muito dos livros dele e queria publicar alguns na sua editora. Passado algum tempo o Mia chegou, beijocou-me e foi à vida. E ela sossegada a meu lado. Então apontei para ele e perguntei-lhe: «Então não queria falar com o Mia Couto?». Ela escancarou a boca de espanto: «Este é o Mia Couto???!!!». E então explicou-me: primeiro, porque era africano, pensava que era negro; e com aquele nome – Mia – pensava que era uma mulher…
Bjs