Governo avança com os hackers éticos

Na transposição da diretiva comunitária sobre cibersegurança, Portugal vai permitir que agentes do Estado possam ‘espiar’ sistemas informáticos sem autorização judiciária.

Governo avança com os hackers éticos

O Governo já fez chegar ao Parlamento, a 3 de julho, a proposta de lei para aprovação de hackers legais, conforme avançou o Nascer do SOL a 31 de maio.

O diploma visa transpor para o direito interno a diretiva comunitária sobre cibersegurança – conhecida por NIS2 – que, na proposta de lei, institucionaliza a figura dos hackers éticos. Trata-se de agentes ao serviço do Estado que entrarão nos sistemas informáticos sem a autorização nem dos proprietários nem de uma autoridade judiciária. O propósito é verificar se cumprem as normas legais de segurança.

Esta proposta começou no Governo PS, que caiu em 2023, foi continuada pelo Governo AD que caiu em março de 2024. O atual texto foi recuperado da legislatura anterior sem alterações, confirmando-se a informação adiantada pelo Nascer do SOL. Portugal já foi advertido pela Comissão Europeia pelo atraso na transposição.

A proposta contou com a participação de muitas entidades, e um amplo consenso. No entanto, a Ordem dos Advogados, fez alguns reparos no parecer assinado pelo advogado Ricardo Sardo. Por um lado, esclareceu que a criação dos hackers éticos, com a prerrogativa de entrarem nos sistemas sem autorização judiciária, é uma opção política. Por outro lado, lembra que a OA tem nos seus sistemas informáticos matéria e informação sensível e confidencial. Em declarações ao Nascer do SOL, Ricardo Sardo afirmou: «Nesta proposta de lei continua a não estar prevista qualquer norma específica sobre a compatibilização das regras em matéria de cibersegurança e do regime do sigilo profissional».

O diploma prevê uma alteração à lei do cibercrime que despenaliza, para estes casos, o acesso ilegítimo aos sistemas digitais. Tal como a proposta que visa transpor para o direito interno o regulamento europeu de combate ao terrorismo na internet, atribuindo à Polícia Judiciária poderes para apagar ou bloquear conteúdos sem autorização de um juiz, a nova lei vai estar em debate depois das férias parlamentares.