O antigo cardeal Prevost, em 100 dias, tem procurado ser o Papa da conciliação, evitando a todo o custo ruturas. Há quem defenda que Leão XIV é uma boa fusão de três papas: João Paulo II, Bento XVI e Francisco, e que irá apostar em recuperar a América Latina, bem como expandir-se na China e na Coreia do Sul. O Jubileu da Juventude foi o seu grande momento
Dia 16, sábado, fez 100 dias de pontificado do Papa Leão XIV, e são muitos os milhares ou milhões de crentes e não crentes que aguardam pelo ‘caminho’ que o antigo cardeal Prevost irá seguir. Em todos os meios de comunicação social ligados às questões religiosas, as divisões são claras e há os que acreditam que o chefe máximo da Igreja Católica irá seguir um caminho, enquanto outros pensam o contrário. Não deixa mesmo de ser curioso como os católicos, já não falando dos não crentes, anseiam por uma definição de Leão XIV, algo que teólogos e sacerdotes consultados pelo Nascer do SOL não acreditam que venha a ser uma realidade em breve. «OPapa quer unir a Igreja, e sabe perfeitamente que se indicar um caminho que não seja o do diálogo, estará a abdicar de uma parte da Igreja. Por alguma razão o processo sinodal [consulta a todo o universo católico sobre as questões fraturantes] foi prolongado até 2028», defende ao nosso jornal um teólogo da ala progressista.
«Ele é matemático, agostiniano, é um homem muito cerebral no que faz. Ao contrário do anterior Papa que funcionava por impulsos, Leão XIV está a tentar apanhar os estilhaços , juntar tudo. É um Papa conservador em muitos aspetos, mas sem rejeitar o modernismo que já está dentro da Igreja. Quer é evitar roturas, no fundo é fazer um bocadinho a evolução na continuidade. Doutrinalmente é conservador, mas não tem problemas nenhuns em ser inovador/revolucionário na ação. Isso vem da profunda experiência dele no Peru. É um Papa muito dado às comunidades, que sabe que tem grandes desafios pela frente e que a mudança tem que se fazer por dentro e não de fora para dentro. Ele quer enfrentar os desafios da forma mais serena possível. As coisas irão acontecer naturalmente. Neste momento, os conservadores estão satisfeitos e os mais progressistas não estão contra. É o Papa do equilíbrio», acrescenta o mesmo teólogo.
As questões fraturantes
No fundo, o que o comum dos mortais espera é que o Papa diga se é a favor da ordenação de mulheres ou de homens casados, se os homossexuais ou os recasados podem receber a comunhão ou se defende as diaconisas. E sobre isso, como é sabido, Leão XIV não deu grandes pistas ao longo destes quase 100 dias. «É impossível dizer que é liberal, progressista ou conservador. É católico, está muito firme no caminho que está a fazer. Ora faz algumas coisas para agradar aos conservadores, ora faz umas coisas para agradar aos progressistas. Vai-se mantendo no meio, entre as duas coisas», começa por dizer um padre conotado com a ala mais conservadora da Igreja portuguesa.
«As nomeações episcopais que tem feito são de pessoas mais progressistas, como por exemplo na França. Mas não se consegue fazer nenhum juízo absoluto sobre isso enquanto não chegarem as questões da Alemanha [é principalmente neste país que se exigem as reformas fraturantes], e de como é que o Papa vai lidar com elas, e com as nomeações que são necessárias fazer para a cúria. Os dicastérios da Cúria ainda não têm novos responsáveis [leia-se ministros], inclusivamente ainda não foi nomeado o seu próprio sucessor, ele era perfeito do Dicastério dos Bispos. Isto é: ainda não nomeou ninguém para o substituir a si próprio. Enquanto não saírem essas nomeações, é muito difícil podermos dizer alguma coisa de mais concreto», acrescenta o padre.
Não haverá cisma
Vejamos o que escreveu a vaticanista Elena Llorente, no Página 12, sobre as divisões na Igreja, em sintonia com o padre português citado. «O Papa terá muitas decisões a tomar. Dentro do Vaticano, por exemplo preferiu manter as pessoas nas suas várias posições até que decida o contrário (…) Especialistas da Igreja sustentam, no entanto, que ainda é muito cedo para responder a todas as perguntas que o povo e a Igreja estão fazendo. E, ao que parece à primeira vista, o Papa está dedicando o tempo necessário para refletir, analisar, estudar, enfrentar os diversos desafios e tomar decisões o mais justas possível. Leão XIV emergiu como “uma pessoa calma e serena” e um “Papa internacional e mestiço” como nenhum outro Pontífice, de acordo com Andrea Riccardi, fundador de uma conhecida organização católica de solidariedade internacional, Sant’Egidio, e historiador da Igreja moderna e contemporânea.
E sobre as divisões dentro da Igreja, que alguns atribuem a Francisco, ele [Andrea Riccardi] enfatizou que o Papa argentino “foi o homem da profecia, da Igreja em movimento, um revolucionário latino-americano”, entendendo a profecia como o dom sobrenatural que nos permite conhecer as coisas futuras. “A Igreja não está dividida porque Francisco estava lá. Um cisma dentro da Igreja não acontecerá”, enfatizou Riccardi, acrescentando que o Papa Leão quer ser um “consertador”, que conserta as fissuras dentro da Igreja. Ele esclareceu que “o Papa Leão segue o programa de Francisco, mas à sua maneira” (…) Ele não é o Papa a “restauração” de antigas tradições ou modos de comportamento, como alguns acreditam, porque foi morar no apartamento papal usado por outros Papas por centenas de anos e não no pequeno apartamento de Santa Marta onde Francisco morou. O Papa Leão “não é um anti-Bergoglio. Acredito que o Papa Francisco, nos últimos tempos, o considerou seu sucessor”, acrescentou».
O papa mestiço
Mas não é só pelos costumes que a Igreja enfrenta desafios. Irá o Papa ‘reabilitar’ o Opus Dei, que foi praticamente reduzida a uma associação de fiéis? Os progressistas, principalmente os argentinos, aguardam para ver o que irá decidir o Papa sobre o Opus Dei. Ninguém ainda percebeu, pelo menos publicamente, o que pediu o Papa ao prelado Fernando Ocáriz. Se tem de rever os estatutos, como determinou o Papa Francisco, ou se voltam a ter o ‘estatuto’ de diocese, permitindo que o prelado possa eventualmente ser bispo, e não depender de nenhuma diocese. Como foi um dos primeiros encontros de Prevost enquanto Papa, seria de esperar novidades, mas Leão XIV não pensa da mesma forma.Os adversários do Opus Dei estão ativos e um dos jornalistas com mais obra sobre a Obra, Gareth Gore, diz que o «primeiro Papa americano esteve intimamente envolvido na supressão do Sodalitium Christianae Vitae, ou Sodalício da Vida Cristã, grupo conservador peruano que, como o Opus dei, foi promovido por João Paulo II. Francisco, que tinha Leão como conselheiro próximo, ordenou a supressão formal do grupo no início deste ano», escreveu no National Catholic Reporter, acreditando que o Opus terá o mesmo destino que o Sodalício da Vida Cristã.
Vaticanistas, jornalistas, teólogos e sacerdotes tentam decifrar os discursos e atitudes de Leão XIV, que, à semelhança de Francisco, acaba por confundir as hostes. Vejamos o que se passou com o encontro com o rabim Noam Marans, responsável inter-religioso do Comité Judaico norte-americano. Muitos logo afirmaram que Leão XIV se estava a colocar sem entraves ao lado de Israel, mas o Papa tem sido duro a pedir o fim da morte dos inocentes de Gaza… Já o teólogo ouvido pelo Nascer do SOl faz outra leitura: «O Papa colou copos que estavam partidos, nomeadamente a relação com a comunidade judaica. Ele não tem sido como era o Papa Francisco, que só olhava para um lado e não olhava para o outro. É um homem muito preocupado em abraçar tudo e não partir. É o Papa do abraço e não do machado».
Se havia quem fizesse uma associação direta entre Leão XIV e os conservadores, devido aos encontros que teve nos primeiros dias de pontificado, logo os progressistas lembraram que uma das primeiras decisões do antigo cardeal Prevost foi precisamente assistir a uma missa dos agostinianos – faz parte da Ordem de Santo Agostinho.
Outra das questões diz respeito às suas origens crioulas e o que isso poderá significar para a a Igreja. Irá o antigo cardeal Prevost aceder ao pedido do padre Kareem Smith, da arquidiocese de Nova Iorque quando anunciou: «Rezamos para que este novo pontificado traga maior reconhecimento ao legado dos católicos negros na América e um impulso renovado em direção à canonização dos ‘Sete Santos’», pediu Smith. Para se ter uma ideia da importância da origem de Leão XIV para alguns setores da Igreja, diga-se que as raízes do antigo cardeal Prevost estão a ser investigadas pela arquidiocese de Nova Orleans, e não só. Os quatro bisavós maternos do Papa Leão «eram pessoas livres de cor», na Louisiana, segundo Jari Honora, genealogista de Nova Orleans, de acordo com Jack Brook, num trabalho publicado noNational Catholic Reporter. Prevost não se pronunciou sobre as suas origens, mas para Andrew Jolivette, professor de sociologia e Estudos Afro-Indígenas na Universidade da Califórnia, em Santa Barbara, há ascendência cubana por parte materna, bem como uma conexão ancestral com o Haiti. Então, «há vários marcos inéditos aqui, e isso é motivo de orgulho para os crioulos», disse Jolivette, cuja família é crioula da Louisiana. «Por isso, também o vejo como um Papa latino, porque a influência da herança latina não pode ser ignorada na conversa sobre os crioulos».
Certo é que a grande obra de Leão XIV, até agora, foi o Jubileu da Juventude – também conhecido como a Jornada Mundial da Juventude – que contou entre um milhão e um milhão e meio de jovens, no fim de julho e início de agosto, em Tor Vergata, arredores de Roma.
«Este jubileu dos jovens foi verdadeiramente o início real do pontificado do Papa Leão XIV. Mais de um milhão de jovens estiveram presentes. O Papa passou agora a ser o verdadeiro Papa Leão. No estilo de discurso, no que disse, até aqui citava muito o Papa Francisco, o Papa Bento XVI, agora já quase não fala nos outros papas. Já anda sozinho. O jubileu dos jovens foi a grande prova de fogo, que foi superada», diz aoNascer do SOL outro padre. Recorde-se que mais de 11 mil jovens portugueses estiveram em Tor Vergata, e que, pelo menos, 1.600 fizeram a viagem de autocarro, tendo a acompanhá-los D. Rui Valério, patriarca de Lisboa, e figura com alguma afinidade com o atual Papa. E é ao Jubileu dedicado à juventude que muitos se agarram, achando que foi a luz do futuro da Igreja Católica que se acendeu.
Vejamos o que escreveu José Manuel Vidal, licenciado em teologia e sociologia, e responsável pelo Religión Digital. «Roma vibrou novamente, e desta vez o epicentro foi Tor Vergata: quinhentos mil, um milhão, talvez um milhão e meio de jovens de 146 países ao redor do mundo desembarcaram na capital eterna, investindo suas férias, seu tempo e até mesmo suas economias no que era impensável em tempos de descrença: reunir-se em torno de Cristo, cantar a esperança do Evangelho e conectar-se com o Papa Leão XIV, que, aos seus olhos, a encarna hoje, e, com ele, clama pela paz mundial. Uma multidão que não se move apenas pelo lazer, nem pela música, nem pelo consumo: ela se move – contradizendo os profetas do desencanto juvenil – pela fé, pelo sentido da vida e por um ideal que transcende a busca imediata do prazer».
No Jubileu da Juventude houve pormenores que também não passaram despercebidos: um grupo de alemães da Baviera causou sensação na Jornada Mundial da Juventude em Roma: levaram uma bandeira com as cores do arco-íris, que hastearam no evento como parte do Ano Santo da Igreja Católica. «Recebemos muitos comentários positivos», disse Pauline Erdmann, presidente da Federação da Juventude Católica Alemã (BDKJ) da Arquidiocese de Munique e Freising, à Agência Católica de Notícias (KNA). «Jovens de vários países que passaram por ali aplaudiram e agradeceram por termos hasteado a bandeira. Muitos queriam tirar fotos com ela», segundo se lê no Instituto Humanitas Unisinos. Jakob Stadler, porta-voz do Grupo de Trabalho Queer da BDKJ Munique-Freising, acrescentou: «Não encontramos nada de negativo aqui, mas sim muito apoio e abertura. O amor não é pecado. Estamos mantendo esta questão em alta porque pessoas queer também têm seu lugar na Igreja Católica». Não é difícil de imaginar que, na Igreja, tenha havido quem não tenha gostado muito da bandeira arco-íris…
Um papa deste tempo
O Jubileu ficou também marcado pelo encontro do Papa com padres, freiras e fiéis que usam a comunicação social para espalhar a fé. «É um Papa deste tempo, está muito atento às questões da comunicação atual. A mensagem que mandou para o festival de jovens, em que diz que nenhum algoritmo pode substituir um abraço, foram expressões muito fortes, de que a Igreja está presente nos meios digitais, mas a Igreja quer continuar a ser a guardiã da dimensão mais humana da comunicação».
Leão XIV, que foi recebido em apoteose, agradeceu a ‘ajuda’ dos influenciadores digitais por espalharem a fé, mas reforçou que as únicas redes que contam são as da amizade, do amor e de Deus. «Sejam agentes de comunhão, capazes de romper a lógica da divisão e da polarização, do individualismo e do egocentrismo». O Papa acabou por tirar algumas selfies, mostrando à-vontade nessa missão que Marcelo Rebelo de Sousa tão bem desempenha. Sinais dos tempos.
Mas por que razão os padres e teólogos ouvidos pelo SOL falam tanto da importância do apelidado Woodstock Católico? «Porque demonstrou que é possível puxar os jovens para as causas mais nobres, sensibilizando-os a espalharem a fé e a praticarem o bem», resume um sacerdote ouvido pelo nosso jornal.
«Em comunhão com Cristo, nossa paz e esperança para o mundo, estamos mais perto do que nunca dos jovens que sofrem os males mais graves, causados por outros seres humanos. Estamos com os jovens de Gaza, com os jovens da Ucrânia, com os de cada terra ensanguentada pela guerra. Meus jovens irmãos e irmãs, vocês são o sinal de que um mundo diferente é possível: um mundo de fraternidade e amizade, onde os conflitos não se resolvam com armas, mas com diálogo. Sim, com Cristo é possível! Com seu amor, com seu perdão, com a força de seu Espírito. Meus queridos amigos, unidos a Jesus como os ramos da videira, darão muito fruto; serão sal da terra, luz do mundo; haverá sementes de esperança onde quer que vivam: na família, com os amigos, na escola, no trabalho, no ambiente profissional. Sementes de esperança com Cristo, nossa esperança», disse oPapa na oração de Ângelus.
Voltemos às divergências e a um dos principais discursos doPapa, nestes quase 100 dias de Pontificado. «O Papa tenta, desde o primeiro dia, falar para dentro da Igreja, procurando a união. Mas todos sabemos que é muito difícil», acrescenta outro sacerdote.
A fonte eclesiástica referia-se ao discurso que Leão XIV fez aos membros do Conselho Ordinário da Secretaria-Geral do Sínodo dos Bispos, onde defende que o processo sinodal é uma questão de estilo. «O Papa Francisco deu um novo impulso ao Sínodo dos Bispos, inspirando-se, como repetidamente afirmou, em São Paulo VI. E o legado que nos deixou parece-me ser sobretudo este: que a sinodalidade é um estilo, uma atitude que nos ajuda a ser Igreja, promovendo experiências autênticas de participação e comunhão. Durante o seu pontificado, o Papa Francisco avançou este conceito em várias Assembleias Sinodais, especialmente naquelas sobre a família, e depois o concretizou no último processo, dedicado precisamente à sinodalidade. O Sínodo dos Bispos mantém naturalmente o seu caráter institucional, ao mesmo tempo que se enriquece com os frutos amadurecidos neste tempo. E vocês são o organismo encarregue de colher esses frutos e de realizar uma reflexão orientada para o futuro. Encorajo-os neste trabalho, rezo para que seja frutífero e, desde já, estou-lhes grato».
Para quem está de fora, parece ser um discurso inofensivo, mas para quem está dentro da Igreja a leitura não podia ser mais controversa…
Num texto do Página 12, Marco Politi, escritor e jornalista do Vaticano, não é meigo a falar das divisões na Igreja – e é por isso que é estranho como ainda não houve um novo cisma, e a conclusão não é minha, mas de muitas pessoas ligadas à instituição. «A Igreja vem passando por 10 anos de guerra civil lançada por ultraconservadores contra a linha teológica de Francisco. Leão quer consertar todas as divisões para que a Igreja possa realizar sua atividade missionária, abordando os grandes problemas do mundo. O caminho da Santa Sé para a paz continua». Politi já escreveu seis livros sobe papas, e acredita que «um dos desafios importantes que o Papa Leão XIV enfrentará é a paz, sempre seguindo o caminho do Papa Francisco. Por isso, ele recebeu Zelensky e conversou com Putin». Não querendo ser repetitivo, Politi não terá muitos amigos na ala denominada de conservadora…
As diferenças e as semelhanças
São muitos os que tentam comparar Leão XIV com Francisco ou Bento XVI, mas há quem ache um disparate, pois o antigo cardeal Prevost pode ter «determinada atitude, que não queira dizer rigorosamente nada, mas que alguns logo vão dar um significado. Há muita gente nervosa não por causa do futuro da Igreja, mas por causa do que gostaria que a Igreja fosse», defende outro teólogo, referindo até os não crentes que se acham no direito de imiscuir na vida dos outros, dos que têm fé.
As comparações vão desde a vestimenta, à casa que escolheram, a permissão ou não de beijar o anel do Pescador, ao uso da prata em detrimento do ouro, e por aí fora. O mais atentos até dizem que Leão XIVanda num Volkswagen elétrico preto, que gosta de conduzir quando pode, em vez do Fiat 500L branco em que Francisco era transportado.
O principal desafio de Leão XIV será o de unir a Igreja, algo que não será nada fácil, já que os interesses, preocupações e gostos, se quisermos, são completamente diferentes de África para a Europa, ou da Europa com a Ásia, só para dar dois exemplos. Nuns países, ou continentes, quer-se o reconhecimento por parte da Igreja do casamento de casais do mesmo sexo, enquanto noutros países, ou continentes, luta-se para que os casais do mesmo sexo não sejam condenados à morte.
Leão, à semelhança de Francisco, não deixará o tema do ambiente cair da agenda. Os pobres, imigrantes e a paz são outros dos temas que o antigo cardeal Prevost quer manter em cima da mesa. Pouco tempo depois de tomar posse, Leão quis deixar claro que «os papas morrem, mas a Cúria permanece». Se ficará unida ou separada, só o tempo o dirá.
Terminemos com o teólogo mais próximo dos próximos de Leão XIV. «Há quem diga que este Papa é uma boa fusão entre João Paulo II, que era um homem aberto ao mundo, com experiências difíceis, como o comunismo, este lidou com a pobreza e a miséria no extremo do Peru. É parecido com João Paulo II, que era um homem aberto ao mundo, e que tinha uma enorme convicção, e uma fé interior gigantesca, mas também não renega fazer novos caminhos como o Papa Francisco, de olhar para as periferias e para os assuntos mais difíceis. E tem a solidez própria de um agostiniano, como o Papa Bento XVI. Tem a solidez teológica e doutrinária de Bento XVI, não tanto, obviamente, mas este Papa será uma síntese dos três papas».
E quais são as áreas que o Papa quer dar preferência? «É um Papa que quer uma Igreja muito ativa na América Latina, que tem sido um dos sítios onde a Igreja Católica tem recuado mais. O Papa quer avivar a Igreja da América Latina, mas sem cair nas teologias da libertação e de matriz marxista. Isso não, ele rejeita. Ele quer é espírito de comunidade. Por outro lado, vai ser o grande Papa – aí sim, o Papa Francisco teve uma grande coragem que tentou normalizar as relações com a China – que vai dar uma especial atenção à Igreja Católica na China, porque a grande esperança da Igreja Católica reside na China e na Coreia do Sul. Onde o aumento dos crentes é exponencial. A China pode vir a ser o grande espaço católico do mundo dentro de duas décadas. O outro desafio dele é não deixar morrer o catolicismo na Europa». Como se percebe, para este teólogo, Leão é o homem certo para oVaticano. «É um Papa com grande profundidade teológica e espiritual, e transmite muita convicção na fé dele. É um Papa que não se pode dizer que é argentino, ele é americano, mas ninguém sabe bem em quê, ele é peruano e ninguém sabe bem em quê, ele é italiano e ninguém sabe bem em quê. Ele é um homem dos novos tempos, é do mundo, e tem conseguido trazer tranquilidade e serenidade à Igreja».