Em Agosto de 2022 publiquei nesta coluna uma crónica, a que chamei Silly Season, cujo conteúdo ainda hoje se aplica na íntegra: dizia eu “voltaram os fogos em força, com isso sermos na Europa o país com maior área ardida em percentagem (no dia 16 já se “tinha ido” o triplo do que “foi” no ano passado)”… “também não é novidade que, de 2017 para cá, continuam os nossos governantes a dizer que “temos de aprender com o que aconteceu”, sentindo, contudo, que temos sido conduzidos como se navegássemos à vista, sem rumo, ao sabor das correntes e marés… e dos milhares de euro que vão sendo “despejados” em cima dos problemas, sem os resolver”.
Hoje, 19 de Agosto de 2025, o flagelo continua. A área ardida continua a aumentar e era, há dias, superior a 130 mil hectares (sendo de novo Portugal o país da EU com maior percentagem de área ardida). Os Canadair não se encontram operacionais para o combate a fogos, que acabaram por ter que vir de Marrocos, enquanto os Fire Boss vieram há dois dias da Suécia. O solo continua sem ser limpo preventivamente, devido a questões pecuniárias e/ou burocráticas. O valor que damos à nossa floresta é nulo. Os incendiários continuam a atear fogos sem que sofram quaisquer consequências que os levem a não querer repetir o crime. E – por favor não se riam – que pensar da recente declaração do Ministro da Defesa segundo a qual Portugal vai adquirir dois “kits” de combate a fogos para os C-130, embora não comecem a ser aplicados ainda este ano por ser necessário tempo para o efeito?
Alguma vez aprenderemos com o que já aconteceu e gostaríamos que não se voltasse a repetir? Infelizmente não, esteja no Governo quem estiver!
Outros episódios do Agosto que atravessamos:
- Divulgou recentemente a SIC-N uns programas sobre o designado Triângulo Dourado, que abrange Vale do Lobo, Quinta do Lago e Vilamoura. Sim, foi da visão de Cupertino de Miranda e André Jordan que esta parte do país se transformou em local paradisíaco, que muitos nacionais e ainda mais estrangeiros demandam na época de Verão ou nela residem. E é de facto gratificante ouvir testemunhos abonatórios de diversas pessoas sobre estes três locais! Mas, sobre Vilamoura, que é onde me encontro, o que pensar sobre a profusão de “casas de massagens” que se podem ver a toda a volta da marina e que são, na realidade, centros de lenocídio? E o tráfico de droga na marina, impune, nem sequer escondido, à vista de todos? O que ganha Vilamoura com estes negócios? Quem autorizou as ditas casas de massagens e que espécie de turismo pretendem com este negócio em expansão?
- E as condições deploráveis de limpeza e degradação em que se encontram os caminhos e as escadas de acesso à marina?
- Somos clientes do mercado de Quarteira onde nos vamos abastecer de peixe. Há duas semanas deparámo-nos com umas obras de demolição de algumas estruturas que se transformarão no novo mercado municipal de Quarteira, há dezenas de anos prometido. O estaleiro destas obras, cuja área está obviamente vedada, encontra-se num espaço ocupado habitualmente por ciganos que vendem roupa e outros artigos, em tendas montadas para o efeito. Para onde é que a autarquia de Quarteira resolveu deslocá-los? Para o único parque de estacionamento junto ao actual mercado, retirando assim 32 lugares de estacionamento, em plena época alta, a quem vai fazer compras nessa zona central, provocando assim um coro de protestos dos comerciantes locais.
- Pois estas obras começaram … mas foram já interrompidas! Não é que o Presidente da Junta, que por certo recebeu instruções superiores do PS para as iniciar, desconhecia que, por determinação de 3 de Junho do Urbanismo da CM Loulé, estavam suspensas as obras de edificação e demolição realizadas em zonas urbano-turísticas no período de 1 de Julho a 31 de Agosto? Que leviandade!
- Finalmente, para quando disporá o município de Loulé das bicicletas de uso partilhado em Vilamoura, cujo procedimento concursal limitado por prévia qualificação foi lançado em 19 de Julho do ano passado, depois de anos de funcionamento deficiente, prolongados pela pandemia até à total supressão do serviço? Em contacto com a referida Cãmara concluí que, três meses depois da data-limite para a apresentação de propostas, ainda decorria essa fase do processo, não tendo havido decisão de adjudicação, quanto mais a celebração do contrato… De notar que o Caderno de Encargos estipula que, no prazo máximo de 180 dias após a assinatura de contrato, deverá estar instalado um mínimo de 50% do total de bicicletas adjudicado, sendo de 210 dias o prazo para a entrada em pleno. Curiosamente, da documentação oficial que consultei não se verifica qualquer alusão ao prazo de que a CML dispõe para analisar as propostas e celebrar o contrato de adjudicação… Cumprir prazos não é, decididamente, a nossa vocação!
Incompetência em matéria de fogos, leviandade nos processos de tomada de decisão e no funcionamento de estruturas de apoio, tudo conduz ao desrespeito pelo cidadão e contribuinte!