Há dias estava a ver um documentário sobre a vida de Xi Jinping, o Presidente chinês, e fiquei ainda com mais fascínio por algo que me é tão longínquo. Como é óbvio, se quiser analisar a realidade chinesa pelos olhos de um português, vou achar tudo incompreensível. Vejamos. Durante a Revolução de Mao Tsé-Tung – em que terão morrido largos milhões de chineses -, o pai do atual Presidente fazia parte do aparelho, e Xi Jinping teve acesso a uma escola para privilegiados. Como no tempo do louco Mao Tsé-Tung tudo mudava num instante, os pais de Xi Jinping rapidamente foram acusados de traição à causa – sem qualquer razão aparente, como aconteceu a muitos milhões – e foram obrigados a colocar o chapéu de burro, além, obviamente, das agressões físicas de que foram alvo.
O próprio Xi foi obrigado a abandonar a escola, foi enviado para um campo de trabalhos forçados – as suas mãos de menino de escola sentiram muito a enxada e a picareta -, mas uns anos depois iniciou o seu percurso de regresso à elite. Percorreu a estrada do calvário e, digamos, chegou a ser uma espécie de presidente de câmara. Apesar das humilhações que a sua família e ele próprio sofreram às mãos do regime de Mao, nunca colocou isso em questão. Calculo que à semelhança de um fervoroso católico que aceitava as doenças como um desígnio de Deus, os chineses aceitavam a crueldade de Mao como algo natural. Ainda hoje, como é sabido, o retrato de Mao está na principal praça de Pequim. E é aqui que entra de novo Xi Jinping. Aquando do massacre de Tiananmen não se ouviu uma palavra de Xi a condenar a violência das tropas de Deng Xiaoping.
Mas voltemos a Mao. Enquanto o ditador matava milhões de chineses, na Europa, e não só, havia uma rapaziada que andava a gritar loas ao ditador chinês, com o célebre livro vermelho na mão direita. Tantos anos depois de Mao, ainda é comum, nalgumas festas partidárias, ver rapazes com t-shirts com a cara do facínora, como se isso fosse normal. Não conheço a cultura chinesa, mas, pelos vistos, é comum aceitarem os males infligidos, como se fosse uma dádiva do grande líder. E é aqui que quero chegar. Em Portugal, milhares e milhares de pessoas acreditam que os partidos com que se identificam são os melhores, independentemente de muito terem contribuído para o atraso do país, apesar das intenções serem supostamente as melhores. À semelhança de Xi, que aceitou o legado de Mao, milhares ou milhões de portugueses discutem assuntos políticos como se estivessem a falar de futebol, deixando a racionalidade à porta. E quem procura argumentar com racionalidade é logo fuzilado e apelidado de fascista e nazi. É certo que há uns nomes que não passam por esse escrutínio, pois já atingiram um estatuto de senadores, o melhor exemplo talvez seja António Barreto. O sociólogo tem escrito textos magníficos sobre a imigração e poucos se atrevem a chamar-lhe nomes, apesar dos argumentos ‘violarem’ a filosofia do politicamente correto. Felizmente, António Barreto é um livre pensador e está-se a borrifar para os cretinos da extrema-esquerda (ou da extrema-direita), dos wokistas e afins, e coloca os pontos nos is.
Mas o mesmo não se passa com outras figuras. Zita Seabra, por exemplo, que sempre foi odiada por ter deixado o PCP e ter-se refugiado no PSD, bem pode dizer as verdades todas que ficam todos a assobiar para o lado, como se fosse alguma leprosa. Numa magnífica entrevista a Felícia Cabrita, Zita diz o óbvio sobre os tempos que passou no partido da foice do martelo: «Não tive nenhuma dúvida sobre a invasão da República da Checoslováquia. Éramos absolutamente pró-soviéticos. A ideia, nessa altura e hoje, para um revolucionário profissional e para um comunista, era que as vítimas do comunismo não são iguais às vítimas da direita ou da extrema-direita. As vítimas do nazismo não são iguais às vítimas do comunismo. É terrível, mas pensei assim até me tornar dissidente». Como sabemos, são muitos os que pensam assim, mas que nos querem dar lições de solidariedade e de democracia.
Telegramas
Estava na cara
33 dos 38 imigrantes que chegaram a Portugal de barco, e de forma ilegal, pediram asilo político. Não faço ideia onde foram arranjar dinheiro para ‘levar’ o processo para a frente, mas cheira-me a esturro. Alguém acredita que são mesmo refugiados políticos? Calculo que o mais novo, de 12 meses, também irá pedir asilo político.
Criminalidade e jovens
Li, parte é certo, de um artigo do Público onde uma criminóloga, Josefina Castro, diz que os jovens de 16 e 17 anos nunca deveriam ser presos. Como não consegui ler tudo, não faço grandes comentários, mas parece-me um raciocínio um pouco estranho. E refiro-me, como é óbvio, a crimes violentos praticados por quem quer que seja.
Uma notícia inesperada
Li e tive de reler. Timor-Leste, um país que enfrenta graves problemas económicos – veja-se a quantidade de imigrantes ilegais que chegam ao nosso país -, anunciou que vai doar dez milhões de dólares «para apoiar a recuperação dos danos causados pelos incêndios» em Portugal. Surreal.