A narrativa do medo

O ser humano fica mais vulnerável quando se aproximam atos eleitorais decisivos para o seu futuro…

O ser humano é, por natureza, permeável à informação falsa, deixando-se levar com relativa facilidade por afirmações repetidas como se fossem verdades absolutas. Por maioria de razão, mais vulnerável fica quando se aproximam atos eleitorais decisivos para o seu futuro e, interiorizando as vestes de eleitor, pior se torna a influência perversa de quem abusa da mentira para o condicionar no seu discernimento.

A este turbilhão provocado pelos movimentos extremistas, junta-se uma manipulação cada vez mais recorrente das comunidades através do recurso à inteligência artificial, a ferramenta preferida para diminuir funções neurológicas a médio e longo prazo, incentivando o enfraquecimento da criatividade e da linguagem, neste campo tão fértil devido à perda de funções humanas nos relacionamentos.

O método mais habitual assenta na narrativa do medo, recorrendo aos instintos básicos desde os primórdios, aproveitando as fragilidades da própria essência da humanidade, motivando perceções provocadas nas quais se começa a acreditar.

Por se tratar de um mecanismo irracional que origina uma resposta de proteção e de sobrevivência, forçando uma reação para nos salvarmos de uma potencial ameaça, utiliza-se a parte da vida oriunda do instinto de autopreservação, tanto no que respeita à integridade física como patrimonial. Porém, a maior ameaça e os verdadeiros perigos residem na manipulação perversa e intencional do medo, bem visível nos movimentos extremistas. Não se trata de uma conceção original e vários exemplos podem ser observados ao longo da história.

Face às eleições autárquicas agendadas para outubro, não surpreenderá o recurso a este discurso alarmista numa grande maioria de autarquias portuguesas, por ser muito mais fácil lançar o pânico e as sensações de insegurança do que apresentar propostas concretas de desenvolvimento local.

Por esse motivo, em virtude das mensagens de campanhas populistas deste momento, a resposta terá de surgir pela apresentação de projetos geracionais que revelem o cumprimento das importantes missões dos autarcas sérios e responsáveis, sem esquecer a necessidade de restabelecer a confiança dos cidadãos, demasiado contaminados pela proliferação da insegurança. Só assim se descredibiliza o populismo e as suas falsidades.

Ao avançar para a instalação de 444 câmaras de videovigilância no espaço público, num investimento municipal de 12,5 milhões de euros, esteve muito bem a Câmara Municipal de Cascais, desmistificando a sensação de medo criada propositadamente por alguns, respondendo com uma afirmação de confiança e de credibilidade junto da população.

Colocadas em locais criteriosamente escolhidos pela Polícia de Segurança Pública e pela Guarda Nacional Republicana, este sistema irá promover uma melhor capacidade de resposta e de coordenação por parte das forças de segurança. Para além de ser um meio eficaz de dissuasão, permitirá sobretudo eliminar as vozes que procuram apenas aproveitar-se de um receio artificialmente criado.