1. As próximas presidenciais são fundamentais por muitas razões. Uma é que o vencedor dispõe de uma probabilidade quase absoluta de ser reeleito por mais cinco anos, como tem acontecido. Em regra, os presidentes no primeiro mandato conseguem alargar a base de apoio, coisa que acontece mesmo que só sejam eleitos à segunda volta. Viu-se com Soares, o único a não conseguir o lugar na primeira chamada, cenário que é provável repetir-se desta vez, dada a proliferação de candidatos. No primeiro mandato, a preocupação do titular é garantir a estabilidade, pontes para todos os setores da sociedade, a fim que o país acentue o reconhecimento, mas também para garantir a reeleição. Com bom senso e tolerância, é algo que se tem conseguido, apesar de circunstâncias políticas internas e externas adversas. No decurso do segundo mandato não é bem assim. Sobretudo quando se chega aos últimos dois anos. Isto porque os diversos protagonistas políticos (governo, oposições e movimentos de apoio a putativos candidatos) começam a desligar do Presidente e a pensar na sucessão, enquanto o titular vai fazendo questão de manter uma presença ativa e opinante, evitando ser ignorado. Situações destas são recorrentes em Portugal, onde o regime é semipresidencial com pendor parlamentar, o que, por definição, cria atritos. É, pois, inútil manter o mesmo método e esperar resultados diferentes nos próximos dez anos. Como nenhum candidato sensato alguma vez juraria fazer um único mandato, só mesmo uma criatura desastrada ou uma doença que ninguém deseja pode evitar que o sucessor de Marcelo fique dez anos. Nesse período, é desejável que se reveja a situação atual, procurando uma outra que mantenha os poderes e o respeito devidos ao Presidente, sem o obrigar a desenvolver estratégias de oportunidade em nome de uma necessidade de popularidade no primeiro mandato e de uma afirmação muito vocal no final do segundo. Esta última circunstância leva a farpas, pontapés debaixo da mesa, convívios artificiais, guerras surdas ou mesmo confrontos políticos verbais tipo ‘temos que ajudar o presidente a acabar o seu mandato com dignidade’, coisa que já foi dita por um primeiro-ministro que depois a ouviu a respeito de si próprio. Um mandato único de sete anos, com possibilidade de recandidatura – só depois de um interregno com outro titular – seria uma opção porventura menos fraturante, por muito que se saiba que na política não existem soluções perfeitas. Para já nada vai mudar pelo que o melhor é termos presente que vamos eleger um novo chefe de Estado para outros dez anos, o que é mesmo muito tempo numa época tão volúvel.
2. Como previsto, o Governo francês caiu ao ver rejeitada uma moção de confiança. Macron não quer novas legislativas, dado que não quebrariam o impasse. Também não se demite, antecipando as presidenciais. O novo primeiro-ministro, Sébastien Lecornu, o quinto em dois anos, é um paliativo para o desastre que aí vem. Os franceses não aceitam a falência e recusam sacrifícios. Muitos aderem a protestos violentos em vez de enfrentarem a realidade. Alguns até acham, absurdamente, que a indústria automóvel francesa tem futuro. Hoje, já não é verdadeira a ideia de que há países grandes demais para caírem. Mesmo assim, um colapso da França arrastaria outros na UE, na Europa em geral e África. Numa entrevista, Bayrou explicou que quando a França produz 100, a Alemanha produz 116 e os Países Baixos 135. A dívida atinge 115% do PIB e o défice este ano anda pelos 5,4%. O que tem valido é os mercados acharem que não é loucura emprestar dinheiro a um país cuja dívida cresce 5 mil euros por segundo (!).