Uma súmula da situação europeia

Lembram-se dos jornalistas e comentadores que se horrorizavam com o ‘Mussolini de saias’ que iria destruir a Itália, a Europa e o mundo? Onde estão essas luminárias? Caladas.

Paris. Exit Bayrou, um ex-libris do establishment centrista. Durou 8 meses e 26 dias. Como antes dele se sumira Michel Barnier, outra velha glória do ‘faz que anda mas não anda’ desse centrismo radical. Durara três meses. Antecedido por Gabriel Attal, velha jovem promessa do extremo centro. Atall bateu Bayrou por um dia, ocupando o cargo 9 meses e 27 dias. Todos se agitaram por alguns momentos à boca de cena, sem qualquer resultado palpável, por conta do Senhor Macron que, segundo as sondagens, a maioria esmagadora dos franceses quer ver pelas costas. Detestado em França, exibe-se em todas as capitais europeias vestido de ‘homem de Estado’, a dar lições a Trump e ao mundo mas que Trump e o mundo dispensam. Segue-se a Bayrou o Senhor Lecornu, glória do universo macronista, desde 2017 membro de todos os governos do atual Presidente. Augura-se-lhe futuro igual. A França está ingovernável. A RN, da Direita nacional conservadora, lidera as sondagens.

Berlim. O chanceler Friedrich Merz declara, alto e bom som, que o Estado Social alemão não tem viabilidade nos seus atuais moldes. Há que cortar na despesa sem subir os impostos. O SPD, parceiro da CDU-CSU na coligação governamental, não quer cortar na despesa mas sim subir os impostos. Mais um governo que não vai conseguir governar com cada um dos parceiros a puxar para o seu lado. Mas Merz calcorreia, com Macron, as capitais europeias a dar também lições a Trump e ao mundo. Entretanto a AfD, o partido nacional conservador alemão, na última sondagem ultrapassou a CDU e é o partido mais votado.

Londres. O primeiro-ministro Keir Starmer, com muito pena dele fora da EU mas um compagnon de route fiel dos outros dois e das suas agendas está também imobilizado, neste caso pelos deputados da ala mais à esquerda do seu partido. O Reino Unido caminha, alegremente, para o abismo económico e está socialmente desestruturado. Mas Starmer, na alegre companhia dos outros dois, não pára de dar lições a Trump e ao mundo. Adivinhe o leitor quem lidera, de longe, as sondagens e ganharia hoje eleições com maioria mais do que absoluta: O Reform UK, partido nacional conservador.

O que há de comum a estes três países? Governos inoperacionais porque fruto de coligações contra natura feitas com o único propósito de barrar o caminho aos partidos nacionais conservadores em quem os eleitores cada vez mais confiam. Para assim defenderem, enquanto possível, os seus interesses tecidos ao longo de 70 anos. Resultados à vista.

Em contrapartida:

Roma. Giorgia Meloni dirige um dos governos mais duradouros de Itália desde o pós-guerra. Liderando uma coligação estável de três partidos que vão do centro-direita até à direita conservadora e nacionalista, vai aplicando a agenda que reúne os pontos essenciais defendidos pelos três partidos com firmeza e bom senso. Os índices económicos e sociais vão melhorando sem aumento de impostos ou da dívida herdada. Sem por isso muito se esforçar, é uma voz ouvida na Europa e nos Estados Unidos. As sondagens dão-lhe bem mais votos do que aqueles com que ganhou as últimas eleições. Lembram-se dos jornalistas e comentadores que se horrorizavam com o ‘Mussolini de saias’ que iria destruir a Itália, a Europa e o mundo? Onde estão essas luminárias? Caladas.

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Vice-presidente da Assembleia da República