Há dias conversava com um amigo sobre a razão que leva alguns políticos a concorrerem a eleições que sabem que vão perder. Falando sobre um nome em concreto, que ainda não decidiu se avança ou não, dizia-me: «O tempo de antena pode ser ótimo para fazer contratos. Imagina que alguns embaixadores, principalmente de países árabes ou da América Latina, o ouvem a falar de determinadas matérias e decidem contratá-lo para facilitar futuros negócios. Aí está uma boa razão para concorrer», dizia-me esse amigo, antigo político.
Se uns concorrem para ‘tratar’ de futuros negócios, outros há que apenas querem aproveitar o tempo de antena para dar visibilidade às ideias do seu partido, estando neste caso figuras como António Filipe, do PCP, e Catarina Martins, do BE. Os dois partidos perderam muito nas últimas eleições e ambos apresentam candidatos ‘simpáticos’, sendo que Catarina Martins está a quilómetros do ar ‘furioso’ e até ‘vingativo’ que o rosto de Mariana Mortágua inspira no comum dos mortais. Já João Cotrim Figueiredo é um mistério de difícil compreensão. Saiu da liderança alegando que o partido precisava «de uma atitude mais combativa, abrangente e popular», algo que não lhe faltou para ser o cabeça de lista do partido às últimas eleições europeias, nem tão pouco às próximas eleições presidenciais. Cotrim não se candidata para o seu partido – que continua a controlar à distância – ter tempo de antena, mas sim para ter visibilidade pessoal. Sabendo que tem muito poucas hipóteses de ganhar, e cá estarei para me retratar se vencer, a candidatura de Cotrim é a de mais difícil compreensão.
O almirante Gouveia e Melo acredita que o país precisa de um comandante em Belém e por isso avançou. Portugal não é uma fragata ou um submarino, mas Gouveia e Melo está convencido que é a injeção necessária para recuperar valores que a instituição militar defende. A honra, o compromisso e a frontalidade. Tem perdido gás, depois de ter conquistado muitas milhas antes mesmo de ligar os motores, mas todas as sondagens o dão na segunda volta.
Marques Mendes é o candidato natural do PSD. Depois de ter tratado da sua vida pessoal no setor privado, quer ser o segundo Marcelo, apesar de estar cada vez mais a afastar-se da magistratura do atual Presidente da República. Estou convencido, apesar de não ter nenhuma bola de cristal, que se passar à segunda volta com André Ventura será o vencedor. Já se o adversário for o almirante, aí penso que perde, pois com o eleitorado partido ao meio, haverá o fator rejeição.
Quanto a André Ventura, é óbvio que o líder do Chega quer cavalgar a simpatia do eleitorado e vai ter muitas horas de antena para expandir os seus ideais. A grande questão que se coloca é como é que um homem que aparece nas sondagens como o preferido do eleitorado para ser primeiro-ministro aceita candidatar-se ao cargo de Rei de Portugal, leia-se Presidente da República? Fará isso sentido, pese embora o tempo de antena que terá? Se, como tudo indica, passar à segunda volta, Ventura corre o sério risco de unir todos os partidos contra si, podendo nem atingir 20%.
Achará que é um bom resultado? Mas vamos imaginar um cenário muito pouco provável, para não dizer impossível. Se Ventura ganhar as eleições em janeiro, recusa o cargo ou irá encontrar um engenheiro Hermínio Martinho para fazer o seu lugar no partido e no país? Outro mistério.
Por fim, António José Seguro. O antigo líder do PS pode ser o grande beneficiado desta luta à direita, além de que não ter o apoio da tralha socrática só jogará a seu favor. Para Seguro seria ótimo que o PS não o viesse a apoiar mas, para mal dos seus pecados, José Luís Carneiro será obrigado a apelar aos socialistas para votarem no antigo líder socialista.
Telegramas
O Rei da esquerda europeia
Pedro Sánchez, o líder do Governo espanhol, que fez uma das alianças mais estrambólicas da política europeia, assume-se como antissemita e dá gás aos manifestantes que invadem ruas para impedirem uma corrida de bicicleta, a Vuelta, porque no pelotão estava uma equipa israelita. Arturo Pérez-Reverte diz mesmo que tem a sensação de ir (viver) a bordo de um autocarro suicida…
Dilema ideológico
Não consigo perceber a razão de a comunicação social escrever que em Londres estiveram 150 mil pessoas de extrema-direita a protestar contra a imigração desregulada, enquanto em Madrid, escreve-se, estiveram milhares de manifestantes a apoiar a causa palestiniana, sem se dizer que eram de extrema-esquerda.
Contra a pena de morte, mas a favor da morte
Que o mundo está perigoso, poucos duvidam, e o extremar de posições, de um lado e de outro, não augura nada de bom. Fiquei banzado com comentários que ouvi sobre a morte do republicano norte-americano Charlie Kirk. Pessoas de esquerda, que chamam fascista a André Ventura por este defender a pena de prisão perpétua, quase abriram garrafas de champanhe pela morte do homem próximo de Trump.