Robert Redford. As várias vidas de um ícone

1936-2025. Sucesso à frente e atrás das câmaras, dissabores na vida pessoal.

Viveu várias vidas numa vida só. No grande ecrã foi o bandido Sundance Kid, o excêntrico Gatsby, o aventureiro Denys Finch Hatton, o jornalista que denunciou Watergate, jogador de basebol, soldado e espião. Ator, produtor de cinema, empresário, realizador e ativista político e ambiental, Robert Redford morreu terça-feira, aos 89 anos, pacificamente durante o sono.

Apesar do estrelato e do sucesso invejável, não teve uma vida isenta de dificuldades.

Nascido a 18 de agosto de 1936 em Santa Monica, na Califórnia, filho de Martha Woodruff Redford e de Charles Robert Redford, manteve uma relação distante com o pai e via como figura paternal o tio David, que morreu quando ele tinha nove anos. Foi a sua primeira grande perda.

As tragédias não se ficaram por aí. Aos 18 anos ficou sem mãe, que tinha apenas 40 anos e morreu durante um parto de gémeos, que também não sobreviveram. Tendo em conta que Martha era o seu grande suporte e apoio, não soube lidar com a sua ausência e refugiou-se no álcool. Chegou mesmo a ser expulso da Universidade do Colorado, para onde tinha ido estudar depois de ganhar uma bolsa de estudos para jogar basebol. «O meu pai atingiu a maioridade durante a Depressão e tinha medo de arriscar… por isso queria um caminho reto e estreito para mim, que não era o caminho que eu estava destinado a seguir. A minha mãe, independentemente do que eu fizesse, era sempre compreensiva e encorajava-me e achava que eu era capaz de fazer qualquer coisa», chegou a dizer. «Quando parti para o Colorado e ela morreu, percebi que nunca tive a oportunidade de lhe agradecer».

Depois deste episódio andou pela Europa e ganhou algum dinheiro que depois investiu na sua formação. Estudou artes dramáticas na American Academy of Dramatic Arts, em Nova Iorque. Em 1959, formou-se e conseguiu o seu primeiro papel como ator num episódio de Perry Mason. Com uma beleza natural, cabelo louro e um sorriso cativante, a partir daí a sua carreira foi sempre a subir.

Em 1961, estreia-se na Broadway com Sunday in New York, e pouco depois conquista o cinema com War Hunt (1962). Segue-se o sucesso com Descalços no Parque (1963, no teatro) e mais tarde a versão cinematográfica em 1967, ao lado de Jane Fonda.

O papel que o lançou para a fama foi o de Sundance Kid em Dois Homens e um Destino (1969), ao lado de Paul Newman. O filme tornou-se um clássico e Newman um parceiro e amigo até ao fim da vida. Como bons compinchas, adoravam pregar partidas um ao outro.

Nos anos 1970, Redford consolidou o seu estatuto com sucessos consecutivos como O Nosso Amor de Ontem (1973), com Barbra Streisand, o primeiro de vários filmes com o realizador Sydney Polack; A Golpada (1973), que ganhou o Óscar de Melhor Filme; O Grande Gatsby (1974), onde encarnou o célebre personagem de F. Scott Fitzgerald; Os Três Dias do Condor (1975) e Os Homens do Presidente (1976), onde interpretou o jornalista Bob Woodward, que fez a cobertura do escândalo Watergate.

A década encerra-se com The Electric Horseman (1979), novamente com Jane Fonda e Pollack.

A carreira na representação traduzia-se num sucesso inegável. Conhecido como o primeiro sex symbol de Hollywood, Redford quis ir mais longe. Ser um galã não lhe bastava e dizia mesmo que ser bem-parecido o tinha prejudicado. Estreou-se como realizador com Gente Vulgar, um drama familiar que o consagrou de imediato como cineasta: o filme venceu o Óscar de Melhor Filme e Redford o Óscar de Melhor Realizador.

Segue-se The Natural (1984), onde volta a atuar como jogador de basebol, e África Minha (1985), a inesquecível adaptação feita por Sydney Pollack do romance de Karen Blixen, com Meryl Streep no papel da escritora – outro grande sucesso, vencedor do Óscar de Melhor Filme. A atriz elogiou-lhe «a incrível tranquilidade e carisma».

Nos anos 90, continuou a intercalar representação e realização. Destacam-se Duas Vidas e o Rio (1992), com Brad Pitt, uma das suas obras mais elogiadas; Quiz Show (1994), sobre o escândalo de um concurso televisivo viciado – nomeado para o Óscar de Melhor Filme – e O Encantador de Cavalos (1998), que dirigiu e protagonizou.

Como ator, participou ainda em Proposta Indecente (1993), ao lado de Demi Moore, num dos papéis mais populares da época.

Já nos anos 2000, realizou e protagonizou Jogo de Espiões, em que vestia a pele de um espião em fim de carreira que passava o testemunho a um jovem discípulo, Brad Pitt, que parecia uma versão jovem de Redford.

Em 2012, protagonizou e dirigiu The Company You Keep.

No ano seguinte, surpreendeu a crítica com o portentoso All Is Lost, onde faz o papel de um navegador que enfrenta uma tempestade sozinho no oceano, um filme sem diálogos e uma performance justamente aclamada.

Paralelamente à carreira artística, Redford criou um dos seus maiores legados: em 1981, fundou o Sundance Institute, dedicado a apoiar jovens realizadores e projetos fora do sistema de estúdios. A partir daí, o Festival de Cinema de Sundance, realizado anualmente em Utah, tornou-se o maior evento de cinema independente dos EUA, revelando nomes como Quentin Tarantino, Steven Soderbergh, Chloé Zhao e Darren Aronofsky.

Se a vida profissional lhe trouxe muitos sucessos, a vida pessoal trouxe-lhe vários dissabores. Foi casado com Lola Van Wagenen (entre 1958 e 1985), com quem teve quatro filhos. O primeiro, Scott Redford, morreu com apenas dois meses de vida, em 1959. E James Redford faleceu em 2020. Depois da separação de Van Wagenen, o ator casou-se com Sibylle Szaggars, artista plástica, com quem viveu até ao fim da vida.