Há dias estava num jantar de amigos e conhecidos, e alguém lançou o tema: «Não viram o último programa do Ricardo Araújo Pereira? Arrasou o André Ventura e o Chega. A história de boa parte dos candidatos autárquicos do partido é assustadora. Como é possível Ventura falar em ética e moral? Não tem mesmo vergonha nenhuma na cara». Curiosamente, três dos presentes dispararam quase em uníssono, sendo que um deles se chegou mais à frente: «O Ricardo Araújo Pereira (RAP) não tem credibilidade para atacar o Chega, pois fica ‘cego’ com essa obsessão. Por acaso ele falou nos candidatos autárquicos dos outros partidos que têm problemas com a Justiça? Por acaso alguma vez deu hipótese a Ventura de se defender?», rematou.
A conversa andou para a frente e para trás, cada um a defender os seus pontos de vista, e eu comecei a lembrar-me de uma conversa que tive com um rapper quando cheguei a Angola, na década de 10. «Vítor, aqui, em África, se queres dizer mal do Governo tens de começar a conversa por dizer bem. Depois de falares bem, então já podes começar a fazer as perguntas inconvenientes». E onde quero chegar com esta história? É simples, se RAP antes de denunciar o Chega começasse por dizer os podres dos outros, os seus ataques ao Chega teriam um alcance muito maior. Da forma como se comporta, RAP torna-se um dos maiores aliados do líder do Chega, pois os mais de um milhão e quatrocentos mil eleitores que votaram no partido nas últimas Legislativas – a que não se deve menorizar os novos eleitores das próximas eleições – encaram as denúncias do humorista como pura e simples perseguição a André Ventura. Não se combate o sentido do vento mantendo a mesma temperatura e os ataques de RAP só aquecem os fãs do Chega. RAP é apenas um cassete riscada para os defensores de Ventura.
Ricardo Araújo Pereira não é jornalista, mas faz escola na classe – chegando mesmo a ser idolatrado. Boa parte dos jornalistas encaram, por exemplo, a guerra na Palestina, como RAP encara o Chega. E se RAP ‘esconde’ a essência do PCP, partido de que foi militante, penso, os jornalistas ‘esquecem-se’ ou ‘menorizam’ as atrocidades do Hamas, optando por falar só nos palestinianos que estão a ser alvo de um suposto genocídio por parte de Israel. Talvez por isso, tenha visto tão pouco destaque dado às execuções do grupo terrorista palestiniano a três traidores, ou a esquecerem-se com frequência dos atentados de 7 de outubro, que esteve na origem da invasão de Israel, que alega querer recuperar os reféns que o Hamas ainda detém. Digamos que o mundo está partido ao meio e o bom senso não impera, sendo por isso que o wokismo está a ser combatido com a mesma parvoíce e violência que utilizou. Os contrawokistas são tão desprezíveis como os wokistas.
P. S. E o que dizer do que se vai passando com a flotilha? Segundo o que a imprensa internacional vai dando conta, alguns dos líderes estão a deixar a flotilha por não se reverem na cultura queer. Escreve o Le Journal du Dimanche, que Khaled Boujemaa, um dos coordenadores da iniciativa, ‘abandonou o barco’ porque lhe esconderam a participação de vários ativistas LGBTQ. Ainda segundo o jornal francês, «outra personalidade importante da frota, Mariem Meftah, também se afastou do movimento. E atacou violentamente o ativismo LGBT. ‘A orientação sexual de cada um é um assunto privado […]. Mas ser ativista queer é mexer com os valores da sociedade e seguir um caminho que pode colocar os meus filhos e os meus entes queridos numa situação que rejeitamos. Recuso-me a que proponham ao meu filho, na escola, mudar de sexo…’, afirmou a ativista pró-palestiniana, segundo declarações publicadas pelo Courrier de l’Atlas». Calculo que se a flotilha chegasse a Gaza alguns dos presentes teriam que pedir proteção a Israel…
Telegramas
Pensões vitalícias e Timor…
Manifestações de timorenses obrigaram o primeiro-ministro, Xanana Gusmão, e o Presidente da República, José Ramos-Horta, a apelarem ao Parlamento para acabar com as pensões vitalícias dos políticos. Não sei é se Xana Gusmão e Ramos-Horta pensam que são vitalícios nos cargos que vão alternando… Já agora, em Portugal ainda há quem beneficie da pensão vitalícia, algo que acabou para os novos deputados eleitos depois de 2005.
PJ detém mais energúmenos
Parte das claques de futebol pensa que vive num país à parte e que pode espalhar a violência de forma impune. Esta semana, a PJ prestou um belo serviço ao país ao deter mais três vândalos, no caso do Sporting, que, supostamente, quiseram ‘assar’ adeptos do FC Porto, no interior de um carro. Já três tinham sido detidos e ficaram em prisão preventiva.
Rui Pedro Soares sem tempo
O amigo de José Sócrates que fez uma perninha na Portugal Telecom (PT) ficou de entregar, por esta altura, um estudo sobre o Canal 11, da Federação Portuguesa de Futebol (FPF). Rui Pedro Soares, ao que consta, receberá de acordo com as audiências que conseguir alavancar. Será que Sócrates é amigo de Pedro Proença, presidente da FPF?