Manuel Maria Trindade acalentava uma vida repleta de êxitos nas arenas, dedicando aos touros todo o tempo livre de que dispunha, esforço esse que o levou, ainda muito cedo, a atingir um estatuto de respeito no mundo dos forcados, destacando-se como uma das principais figuras do Grupo de Forcados Amadores de S. Manços.
Partilhava com os seus companheiros de lide as virtudes da coragem e da abnegação, pelo que naquela fatídica noite na principal Praça de Touros do País não hesitou, um segundo que fosse, em se fazer à cara de um animal com setecentos quilos de peso.
A sua valentia custou-lhe a vida, porque agarrou-se estoicamente ao toiro e não o largando até ser vencido no brutal choque contra a trincheira.
Será recordado pelo seu amor à tauromaquia, pelo profundo respeito que nutria pelos touros, pela sã camaradagem com todos aqueles que com ele partilhavam as principais Praças e pela enorme coragem e destreza que sempre evidenciou.
Ao partir da vida terrena, deixou o seu nome inscrito numa galeria de corajosos e valentes jovens forcados lusos que também pereceram na arena, sacrifício consequente da paixão a que se entregaram no meio taurino.
A arte do forcado está intimamente ligada à temeridade de um Povo que se lançou à descoberta de novos mundos, indiferente aos perigos que daí teve de enfrentar, aventurando-se em paragens nas quais semeou a Portugalidade e expandiu a Fé cristã.
O forcado representa a coragem e a bravura desse português que, apesar de temido, soube ser respeitado por todos os povos com que se relacionou.
A pega de caras é uma arte exclusiva portuguesa, sendo o forcado português quase único no mundo, exceptuando-se alguns grupos no continente americano que em nós se inspiraram, razão mais do que suficiente para que a sua preservação seja um desígnio nacional.
Vivemos tempos de incerteza para a Tauromaquia face ao ruído produzido por minorias citadinas e radicais, completamente alheadas da vivência no meio rural e apostadas em pôr fim a uma tradição cultural com centenas de anos, apenas porque se consideram detentoras da verdade e têm do mundo dos touros uma visão totalmente deturpada, tendenciosa e oposta à realidade.
À cabeça dessa seita encontram-se jovens extremistas, parasitas da sociedade, porque nada produzem e limitam-se a viver à custa da generosidade de terceiros, em particular do Estado, e cujo propósito de vida é pôr em causa e combater toda uma civilização que herdaram das gerações anteriores.
Quando comparados com os jovens forcados, que arriscam a vida por uma causa em que acreditam, a diferença é gritante.
O jovem forcado ama a sua Pátria e orgulha-se da sua História, fazendo questão, no final das Corridas, de entoar o Hino Nacional com toda a emoção e a plenos pulmões.
O jovem radical anti-taurino despreza o valor do patriotismo, envergonha-se e deprecia os feitos dos seus antepassados e o único hino que sente prazer em cantar é, quanto muito, a Internacional!
O jovem forcado respeita a cultura, os costumes e as tradições que foram passando de geração em geração, com elas se identifica e faz questão de as preservar e as transmitir no seio familiar.
O jovem radical anti-taurino odeia a cultura com a qual cresceu e busca todas as oportunidades, por mais mesquinhas e fantasiosas que sejam, para procurar ridicularizar a forma de vida dos seus conterrâneos, em particular o legado tradicional que estes insistem em preservar.
O jovem forcado prova a sua bravura na arena, fazendo frente a um animal bravo e usando apenas o seu corpo, sem o recurso a qualquer tipo de arma de defesa ou de ataque.
O jovem radical anti-taurino sente-se valente quando, no meio de uma turba, se entretém a incendiar carros indiscriminadamente e a provocar graves danos em lojas e restaurantes, castigando, dessa forma, pessoas inocentes que vêem os seu bens, adquiridos a grande custo, a serem destruídos sem nenhuma razão aparente, e a danificar património público, como autocarros e respectivas paragens e edifícios estatais.
O jovem forcado, assim que vê um dos seus em apuros, em particular quando estatelado no chão e impossibilitado de se levantar, corre de imediato em seu socorro e, desafiando o perigo de vida a que se expões, protege-o com o seu próprio corpo até que ele seja levado para fora de tábuas em segurança.
O jovem radical anti-taurino, perante uma legítima carga policial tendente a repor a ordem pública, foge a sete pés à primeira bastonada, desinteressando-se, por completo, da sorte dos seus camaradas ditos de luta.
O jovem forcado sente um amor genuíno pelos animais, fazendo, maioritariamente, do trabalho agrícola o seu modo de vida, o qual lhe preenche quase todo o dia.
O jovem radical anti-taurino vive em áreas urbanas e não tem sequer uma pálida ideia do que é a vida no meio rural, sendo que o único contacto que tem com animais é o cãozinho que tem aprisionado 24 horas por dia no seu exíguo apartamento.
O jovem forcado constitui família logo que lhe é permitido e educa os seus filhos com base nos valores ancestrais que recebeu à nascença, dedicando-se plenamente ao trabalho para os poder sustentar.
O jovem radical anti-taurino renega a sua própria família, não o preocupa minimamente a questão da prole e os seus rendimentos provém quase exclusivamente do que consegue sacar aos seus pais e ao Estado, deste último através de subsídios suportados pelo erário.
O jovem forcado representa o que há de melhor na sociedade, nomeadamente a honra, o espírito de sacrifício, a nobreza de carácter, a dedicação à família, o zelo no trabalho e o respeito pelo próximo.
O jovem radical anti-taurino encarna, na perfeição, a podridão de parte considerável da sociedade dos nossos dias.
“In memoriam”:
João Raiva, do Grupo de Forcados Profissionais de Lisboa, José João Lameiras, do Grupo de Forcados Amadores das Caldas da Rainha, António Santos, do Grupo de Forcados Amadores de Aveiras de Cima, Hélder Antoño, do Grupo de Forcados Amadores de Alcochete, António Gouveia, do Grupo de Forcados Amadores do Montijo, Pedro Belacorça, do Grupo de Forcados Amadores de Portalegre, Ricardo Soares Silva, do Grupo de Forcados Amadores de Vila Franca, Francisco Matias, do Grupo de Forcados Amadores de Portalegre, Pedro Miguel Primo, do Grupo de Forcados Amadores de Cuba, Fernando Quintela, do Grupo de Forcados Amadores de Alcochete e Manuel Maria Trindade, do Grupo de Forcados Amadores de S. Manços.
A memória destes heróicos forcados, que deram a sua vida na arena nas últimas décadas, jamais cairá no esquecimento e o exemplo de coragem, provada na hora da morte, servirá sempre como estímulo para todos quantos se aventuram na Tauromaquia.