«No espaço de sete meses, acabei com sete guerras intermináveis. A ONU não fez nada. Eu salvei vidas. A ONU falhou». Foi assim que Donald Trump se dirigiu à Assembleia Geral das Nações Unidas esta semana. O tom egocêntrico não surpreendeu, já é habitual, mas o conteúdo do discurso ultrapassou o que seria expectável.
Trump regressou ao palco internacional como porta-voz de um negacionismo climático agressivo, perigoso e desfasado da realidade. Ridicularizou as alterações climáticas, desvalorizou os consensos científicos, atacou especialistas e defendeu os combustíveis fósseis como solução de futuro. Recordou, com orgulho, a decisão de retirar os EUA do Acordo de Paris. Chamou «golpe» à agenda climática, acusou os ambientalistas de quererem «eliminar vacas» e destruir economias, e afirmou que todos os países que apostam em energias verdes acabarão na falência.
Mas ignorou o essencial, porque a verdadeira ameaça não está nos painéis solares, nem nas turbinas eólicas. Está nos incêndios, nas secas, nos furacões e inundações, fenómenos cada vez mais intensos e frequentes, incluindo nos próprios EUA. E os dados são claros: o custo humano e económico das alterações climáticas está a aumentar a cada ano que passa.
Enquanto Trump se ocupa apenas com o imediato, a União Europeia prepara-se para o futuro. Fá-lo com seriedade, visão e responsabilidade. A COP30, que se realiza este ano na Amazónia, será um momento decisivo. Pela primeira vez, espera-se que cada país apresente planos climáticos nacionais compatíveis com o objetivo de limitar o aquecimento global.
O Parlamento Europeu estará representado por uma delegação multipartidária, que tenho a honra de presidir. Queremos que a União Europeia continue a liderar pelo exemplo. E, a este propósito, vale a pena recordar que nos últimos 20 anos reduzimos as nossas emissões em mais de 30%, facto que ocorreu em paralelo com um crescimento económico de 27%. Aprovámos o primeiro pacote legislativo do mundo com metas vinculativas para alcançar a neutralidade carbónica até 2050. Criámos o Mecanismo de Ajustamento de Carbono nas Fronteiras, para proteger as nossas empresas da concorrência desleal de países que não aplicam padrões ambientais tão exigentes quanto os nossos. Definimos metas obrigatórias para energias renováveis e eficiência energética.
Mas esta não é apenas uma agenda ambiental, é uma estratégia industrial. A transição energética é essencial para a nossa competitividade. O custo da energia é um dos principais fatores a considerar nos custos de produção e, como sabemos, a Europa não dispõe de recursos naturais e energéticos abundantes. A aposta nas energias renováveis é o único caminho para conseguirmos produzir a nossa própria energia, sem estarmos sempre dependentes de fornecimentos externos.
Trump gabou-se de ter acabado com sete guerras, mas se falharmos no combate às alterações climáticas, não será apenas o clima que colapsa. Colapsam os sistemas de saúde, a produção agrícola e a segurança alimentar. O mundo tornar-se-á mais inseguro, mais desigual e mais injusto. Trump acusa a Europa de destruir empregos, mas esquece que a indústria verde é uma oportunidade para a criação de novos empregos, não uma ameaça.
É por isso que a COP30, promovida pelas Nações Unidas, tem de ser um ponto de viragem. Um momento em que os países deixam de discutir quem fez mais ou menos, para discutir o que ainda falta fazer. Se assim não for, Trump terá falhado na resposta à principal ameaça com a qual todos nos vemos confrontados.