Para que serve a ONU?

Estando fora das grandes decisões do nosso tempo e tendo dado sempre palco a ditadores para sinalizar virtudes no púlpito, para que servem, realmente, as Nações Unidas?

A Assembleia Geral das Nações Unidas é sempre um dos momentos mais aguardados do ano na política internacional. Para alguns.

A questão palestiniana foi o prato principal deste ano. Os “pacifistas” não esconderam o júbilo pelo reconhecimento do Estado da Palestina por parte de vários países ocidentais. Um leque de nações, onde Portugal se insere, que, independentemente de não verem cumprida qualquer condição imposta há uns meses, e guiados pelo sempre dinâmico presidente Macron, decidiram recompensar o terrorismo.

A propósito disto, li um argumento de que tudo é defensável, nós é que não podemos defender tudo. Por isso, continuava o argumento, o reconhecimento de um estado palestiniano por parte dos países ocidentais é um sinal de que, finalmente, chegaram à conclusão de que não poderiam continuar a defender o que já não podia mais ser defendido. Ora, parece-me existir aqui um claro problema. E não é diplomático ou político. É de lógica. Vamos por partes.

Primeiro, não, nem tudo é defensável. Depois, sim, podemos defender tudo, desde que sejamos dotados de uma certa indecência moral e poder retórico, estando a história moderna repleta de exemplos: Lenine, Estaline, Mao, Hitler, Mussolini e outras figuras autoritárias de menor escala levaram milhões para o abismo. Mas o Homem conseguir defender doutrinas nefastas como as destes últimos não significa que sejam defensáveis do ponto de vista político, moral, ético e até factual.

Por fim, e quanto à parte do reconhecimento, o problema lógico aprofunda-se. Simplesmente porque não defender a proposição A não significa apoiar a proposição B. Principalmente quando B é, como escrevi antes, uma recompensa ao terrorismo. De forma curta, não defender a conduta do governo israelita em Gaza não significa apoiar o reconhecimento do Estado da Palestina que, à luz da Convenção de Montevideu, não cumpre os critérios definidos logo no primeiro artigo.

No fundo, o que o Ocidente está a fazer é legitimar internacionalmente um Estado cuja génese está num ato terrorista bárbaro. Um dos mais importantes membros do Hamas admitiu, ainda em agosto, e para desgosto de muitos, que esta onda de reconhecimentos é um dos frutos do 7 de outubro.

Mas parece que, finalmente, poderemos ter uma solução para o conflito no Médio Oriente. O plano apresentado por Trump e apoiado tanto por Israel quanto por um vasto leque de países árabes, é uma das melhores hipóteses, senão a melhor, para atingir a paz na região que já vimos nas últimas décadas. Mas não existem, de todo, garantias de que entrará em vigor. Porque haveria o Hamas de se desarmar e entregar Gaza? Ao fazê-lo, a raison d’être do grupo terrorista evaporar-se-ia. Tanto Trump quanto Netanyahu estão cientes de que é praticamente impossível receberem uma luz verde do Hamas. Porém, colocaram decisivamente a bola do lado de lá. Agora, para os que ainda duvidam, será o momento em que o Hamas vai revelar as suas intenções. Aceitar seria respeitar o povo palestiniano massacrado e os reféns israelitas ainda em cativeiro. Rejeitar é confirmar que o povo palestiniano nunca foi mais que um mero escudo de um grupo cujo grande objetivo é apagar Israel do mapa e consolidar-se no poder na Faixa de Gaza.

Ora, e voltando à questão que serve de título a esta crónica: para que serve, realmente, a ONU? Sendo que se encontra à margem das grandes decisões do nosso tempo e sempre serviu de palco a vários ditadores que sinalizam virtudes no famoso púlpito, a pergunta é mais que legítima. Analisando com alguma atenção o modus operandi da instituição ao longo dos anos, fica mais fácil entender William F. Buckley Jr., que serviu os Estados Unidos na ONU há algumas décadas, quando escreveu, ainda nos anos 70, que «[a]s Nações Unidas são o ataque mais concentrado à realidade moral na história das instituições livres».