Geração P: os jovens não se afastaram da política, foi a política que se afastou dos jovens

Infelizmente, os partidos políticos continuam a não saber dialogar com as novas gerações, porque não as ouvem

Aos 28 anos, Raquel Lourenço foi eleita presidente da Câmara Municipal de Sobral de Monte Agraço, tornando-se na autarca mais jovem do país. A sua eleição marca uma mudança histórica no panorama político local, interrompendo um ciclo de quase 50 anos de governação da CDU. 

A Raquel é o rosto de uma nova juventude política. Num tempo marcado pelo desencantamento com as instituições políticas e a um desgaste da democracia, os jovens querem ganhar voz nas decisões e fazer parte da solução. 

Infelizmente, os partidos políticos continuam a não saber dialogar com as novas gerações, porque não as ouvem. Querem apelar à participação dos jovens, mas frequentemente acabam por instrumentalizá-los. Continuam a discutir os seus problemas, sem os envolver.

Os jovens não estão afastados da política, pelo contrário, há uma franja cada vez mais politizada, ativa, participativa. Integram projetos internacionais, mobilizam-se em associações de jovens e de estudantes, fazem-se ouvir nas redes sociais, nos podcasts e até como comentadores políticos.

A desilusão dos jovens é, sobretudo, com os partidos políticos tradicionais e as juventudes partidárias, em evidente declínio. Num mundo em rápida aceleração e mudança, a política continua a ritmo lento, presa a estruturas obsoletas. E chega até a ser confrangedor assistir a algumas tentativas de diálogo com as novas gerações, quase sempre em tom encenado e paternalista. A política tornou-se cringe. 

Sebastião Bugalho é um dos exemplos deste idadismo político. Antes do político, a sua idade. Antes das propostas, a inexperiência. Nos Estados Unidos, Alexandria Ocasio-Cortez tornou-se a mulher mais jovem a ser eleita para o Congresso norte-americano. Enfrentou descrédito baseado na idade e na experiência, sendo descrita como demasiado jovem, idealista e até ingénua. Apesar disso, conseguiu afirmar-se como uma das vozes mais influentes da ala progressista americana, inspirando muitos jovens a envolver-se politicamente.

Um estudo da Fundação Calouste Gulbenkian, publicado em 2022, sobre A Participação Política da Juventude em Portugal, concluiu que os jovens sentem desconfiança e afastamento face às instituições políticas tradicionais, devido à falta de representatividade, à ausência de resultados concretos e a um sistema pouco aberto à renovação geracional. Apesar desse ceticismo, o relatório sublinha que os jovens portugueses participam ativamente por outras vias, como o ativismo digital, o voluntariado e movimentos sociais. Ou seja, os jovens não são apáticos: escolhem as suas próprias formas de participação e de exercer cidadania.

Vivemos um paradoxo: os partidos não conseguem atrair as novas gerações, mas os jovens querem participar nas decisões, sobretudo nas temáticas que mais os afetam, como a habitação, o ensino ou a crise climática. 

Em terra de cegos, quem tem olho é rei. E, por isso, assistimos à ascensão de alguns partidos nas redes sociais e nas mesas de voto, sobretudo pela conquista do voto jovem. Se o TikTok serve de terreno fértil à proliferação de mensagens políticas junto das gerações mais novas, é porque existe uma audiência ávida dessa informação, disposta a discutir, refletir e partilhar preocupações. Sem filtros. Sem intermediários. 

Mas continua a haver uma clara sub-representação dos jovens na política, e isso afasta-os, porque não se revêm nela. Não encontram referências, nem pares. Não querem continuar a ser meros espetadores nem instrumentos ao serviço dos interesses partidários. Querem ocupar lugares, no Parlamento, nos executivos municipais, nos partidos.

Dissociar os jovens da política é dissociar a política do seu futuro. A sobrevivência da democracia passa por integrar os jovens nas decisões e, por inerência, nos cargos políticos. É preciso ouvi-los, incluir as suas agendas, permitir que criem as suas próprias dinâmicas, mensagens e linguagens. 

Mas, para isso, é preciso abalar estruturas e criar espaço. Dar representatividade e voz. Estará a política pronta? Porque os jovens estão.