Marcelo Rebelo de Sousa está otimista quanto ao futuro próximo da política e da economia nacionais e confessou-se mesmo convicto de que a legislatura vai durar quatro anos, a não ser que haja uma «grande crise
internacional».
«A ideia é que há uma legislatura, são quatro anos, o Executivo deve durar e a composição do Parlamento deve durar quatro anos. Portanto, não há razão para os orçamentos futuros serem mais complicados, a não ser que o mundo entre numa situação ainda mais difícil do que a atual», profetizou o Presidente-comentador no dia em que a Assembleia da República aprovou a proposta de Orçamento do Estado para 2026, com os votos favoráveis das bancadas que apoiam o Governo (PSD e CDS) e a abstenção do PS.
E não lhe faltam argumentos para acreditar que, depois de António Guterres (1995-99) – curiosamente quando o atual inquilino de Belém liderava a Oposição – e António Costa – com a sua ‘geringonça’ (2015-19) –, Luís Montenegro poderá tornar-se o terceiro chefe de um Governo minoritário a cumprir o mandato até ao fim (2025-29).
Marcelo não disse mas certamente pensou que assim será se, além da conjuntura internacional não evoluir desfavoravelmente, também não houver um terramoto político em S. Bento do género do que conduziu à demissão do outro primeiro-ministro com quem teve de coabitar nos últimos 10 anos. Sendo que está em curso, e se arrasta já há quase meio ano, uma averiguação preventiva que envolve a empresa familiar Spinumviva e a casa de Espinho do atual primeiro-ministro.
Em política, quatro anos é demasiado tempo e as previsões, mesmo as de quem com a vastíssima experiência de Marcelo, não passam de exercícios de adivinhação com um enorme risco de saírem furadas.
Quem diria, por exemplo, que o líder do segundo partido mais votado numas eleições legislativas conseguiria levar até ao fim da legislatura um Governo nascido de um golpe constitucional e cairia a metade do exercício depois de ter conseguido uma maioria absoluta de um só partido duas legislativas depois?
As profecias do Presidente ganham outro significado se olharmos para os discursos dos principais candidatos à sucessão de Marcelo.
Porque todos eles, de Henrique Gouveia e Melo a Luís Marques Mendes ou António José Seguro, consideram que o facto de uma proposta de Orçamento do Estado ser chumbada no Parlamento não tem por consequência inevitável a demissão do Governo e convocação de eleições antecipadas, tal como, aliás, a eventual demissão de um
primeiro-ministro.
Sendo que essa foi a prática de Marcelo Rebelo de Sousa e a solução que impôs tanto em 2021, quando o OE do segundo Governo de António Costa foi chumbado na AR pela Oposição em peso – incluindo BE e PCP –, como em 2023, quando o mesmo António Costa se demitiu na sequência da Operação Influencer.
Montenegro sabe que, estando Marcelo nos últimos meses do seu segundo mandato, nunca o eventual chumbo do Orçamento do Estado se traduziria numa crise política com eleições antecipadas.

Como também sabe que, seja quem for o próximo Presidente, não é certo que o eventual chumbo de um dos próximos Orçamentos de Estado obrigue a novas eleições.
Embora esse cenário seja objeto de outras elucubrações ou cenários alternativos construídos por muito boa gente que se movimenta nos corredores do Poder e da Oposição.
É_por isso que, não obstante, Montenegro vai continuando a construir pontes à esquerda e à direita, seletivamente e em função dos consensos possíveis, com uma habilidade que reforça a convicção de Marcelo de que a estratégia do líder da AD e chefe de Governo está certa e continuará a dar frutos, como deu nas recentes eleições autárquicas.
De facto, a aprovação do OE 2026 com a abstenção do PS e da nova Lei da Nacionalidade com os votos favoráveis do Chega provam que o líder do PSD_e chefe do Governo tinha toda a razão quando disse que a navegação à vista era a melhor forma de levar o seu Governo a bom porto.
Com ventos contrários, Montenegro sabe que só avança aos bordos, à bolina, ora pela direita ora pela esquerda. E vai indo.
Por mais contraditório que possa parecer, vai mas é de vento em popa. Com a Oposição desorientada, à deriva.