O drama na Saúde reflete bem o estado do país, revelando a dificuldade que Portugal tem em aproximar-se dos países da frente. Os vários protagonistas envolvem-se em discussões ridículas, em que o aproveitamento político, e de associações como o SOS Racismo, é evidente. Os problemas estão devidamente identificados, mas interessa a muitos que não sejam resolvidos. Vamos a casos concretos. As urgências metropolitanas funcionam a Norte, mas a Sul parece que todos querem fazer atrasar o processo. Tudo é ainda mais ridículo quando se sabe que as urgências quando são fechadas, por não cumprirem os requisitos necessários, devido à falta de determinados médicos ou pessoal auxiliar, mas qualquer hospital privado pode estar aberto 24 horas, mesmo não cumprindo as mesmas obrigações. E é por essa razão que os privados optam por assinalar Serviço Permanente em vez de Urgência. Há vários casos em que os médicos que estão de prevenção nesses locais, são acordados para irem ao hospital. Como sabemos, tal é impossível no público. Parece óbvio, e falo pelo que dizem os especialistas, que as urgências de obstetrícia não podem entrar nas urgências metropolitanas e não é por acaso que não existem a Norte.
Continuemos com o problema das grávidas – todas as mortes são lamentáveis – onde é evidente que o SNS foi apanhado desprevenido com o ‘aparecimento’ de grávidas, algumas das quais, com oito meses de gestação. Jorge Roque da Cunha, do Sindicatos Independente dos Médicos (SIM), ainda há umas semanas garantia ao SOL que qualquer ginecologista-obstetra aconselha grávidas de seis meses a não fazer viagens de avião. Roque dizia não perceber como é que aparecem grávidas de oito meses no SNS pela primeira vez. Só não vê quem não quer que esse é um dos problemas que ‘afeta’ as maternidades. Bem pode o SOS Racismo dizer as suas palermices do costume, que nenhum país aguenta receber, indiscriminadamente, as grávidas de outras latitudes.
Mas vejamos as contas da Direção Executiva do SNS – Marcelo Rebelo de Sousa tem razão em perguntar quem é que manda na Saúde em Portugal. «Relativamente à atribuição de médico de família, importa esclarecer que, a setembro de 2025, o número de utentes sem médico de família diminuiu em 75.772 face ao mesmo período do ano anterior. No mesmo período, foram atribuídos médicos de família a mais 309.538 utentes do que em 2024, mas registou-se também um aumento de 233.766 novos inscritos no SNS».
Vamos agora a outra das discussões da semana: os tarefeiros, médicos que prestam serviço em diferentes hospitais sem ter qualquer vínculo contratual. A palavra de novo a Jorge Roque da Cunha: «O masoquismo do Estado é tal que não regula essa situação. Esses colegas, à partida, podem dizer assim: ‘Fim de ano, não trabalho. Anos do meu filho, não trabalho. A minha avó faz anos, não trabalho. São eles que impõem as condições, por um lado, e, por outro, não há qualquer penalização, quando, por exemplo, estão escalados para um determinado local e depois não aparecem. O que há aqui a fazer? Só trabalha nos serviços de urgência quem tem o contrato individual de trabalho com o Estado. É evidente que isso, no curto prazo, vai criar alguma dificuldade, mas é a única maneira que existe para acabar com esta espiral».
Foi pois com alguma estupefação que vi um grupo de tarefeiros a anunciar greve de três dias às urgências, caso o Governo decidisse diminuir as remunerações. A saúde das pessoas já não interessa? E tudo isto é penoso, pois, como é sobejamente conhecido, há profissionais, incluindo tarefeiros, que prestam um serviço público de excelência –_que não podem ser confundidos com biscateiros que apenas têm o lucro como único objetivo. Por fim, a ministra tem de dar a cara e mostrar os números de uma forma transparente e não remeter para os diferentes organismos que tutela. É elementar, cara Ana Paula Martins.
Telegramas
O circo de Sócrates
Pedro Delille, o agora ex-advogado de José Sócrates, desistiu da defesa do antigo primeiro-ministro por não querer ‘colaborar’ numa fantochada, mais coisa, menos coisa. Sócrates conseguiu, mais uma vez, distrair as atenções, numa semana em que testemunhas colocaram a nu as suas ‘golpadas’. Veremos onde quer chegar com o número de Delille, mas a rábula do advogado oficioso é perfeita para Sócrates.
Self service nas cadeias
As notícias não mentem. Drones foram vistos dentro de cadeias, assim como embrulhos com álcool, droga e telemóveis. Quando os detidos começarem a encomendar armas é que as autoridades vão acordar.
Um plano para a rua
Frederico Francisco foi secretário de Estado das Infraestruturas e decidiu escrever o livro Um Plano Ferroviário para_Portugal, tendo ido a Coimbra fazer a apresentação do mesmo. Quando regressava, de comboio, e depois de ter gasto dinheiro no bar, sentou-se para consultar o computador, até porque era o único cliente. Recebeu ordem de expulsão do lugar e, sabemos agora, pelo Público, que os novos comboios não vão ter serviço de restauração. Já chegámos, de facto, à República das Bananas.