A coragem de não depender

A experiência local tem essa virtude: aproxima-nos da vida, da urgência e da verdade. E mostra como a autonomia pode gerar inovação, participação e confiança

Num tempo em que a política vive de lealdades automáticas e estruturas fechadas, é urgente devolver espaço à independência. Ser livre não é ser dissidente, é ter a coragem de propor um novo caminho, e não o conveniente.

Entre aparelhos partidários, burocracias lentas e uma sociedade civil que se sente afastada, cresce a perceção de que o poder já não responde ao país real: aquele que trabalha, cria, exporta, educa e cuida.

Nos últimos anos, tive o privilégio de servir a minha cidade, o Município do Porto. Aprendi que o verdadeiro sentido da política está no terreno, nas decisões concretas, nas pessoas. Que o serviço público é nobre quando é livre de interesses, de conveniências e de alinhamentos cegos.

A experiência local tem essa virtude: aproxima-nos da vida, da urgência e da verdade. E mostra como a autonomia pode gerar inovação, participação e confiança.

Mas também vi, de perto, como as estruturas rígidas resistem a tudo o que é novo. Como o medo da diferença e o apego ao controlo impedem muitas vezes o avanço das ideias e das pessoas.

Por isso, acredito que a independência não é um gesto de ruptura, é um gesto de construção. É a forma mais madura de fazer política no século XXI. Sem dogmas, sem fidelidades cegas, mas com ética e propósito.

Portugal não precisa de mais trincheiras. Precisa de pontes.

De lideranças capazes de unir competência técnica e sensibilidade humana. De gente livre que saiba pensar, criar e decidir pelo bem comum e não apenas pela manutenção de poder.

Ser independente é, antes de tudo, ter um centro de gravidade ético e não ideológico. É recusar a tentação da obediência e escolher o caminho da responsabilidade.

O Porto foi, nestes doze anos, um laboratório de autonomia. Mostrou que é possível governar com autenticidade, inovação e proximidade. E provou que a liberdade conduz ao progresso. 

O futuro exigirá coragem: a de não depender.

A de agir com convicção mesmo quando o sistema prefere a submissão.   

A de acreditar que o país pode renovar-se se abrirmos espaço a novas vozes, novas formas de pensar e novas formas de servir.

Porque só quem é livre pode criar.

E só quem cria pode mudar o que parece imutável.