A semana (de 8 a 13 de novembro)

Os países da Europa central irão opor-se a outro VP português. Ainda bem. Se Centeno não tinha condições de independência política para ser governador do Banco de Portugal, também não tem condições políticas para ser VP do BCE; os critérios são os mesmos.

Sábado, 8

1640 e batalha de Montes Claros

No sábado estive em Borba onde visitei o Centro de Interpretação da Guerra da Restauração, entre 1640 e 1665, quando se deu a batalha decisiva em Montes Claros, (felicitações à Fundação Batalha de Aljubarrota pela abertura do Centro). Depois da revolta dos fidalgos portugueses contra os Bourbons em 1640, os portugueses tiveram que lutar pela sua independência. A batalha de Montes Claros foi decisiva para Espanha reconhecer a independência de Portugal e o poder dos Bragança em 1668.

Numa altura em que há muitos ataques à história de Portugal e à identidade nacional, é muito importante tratar do nosso passado, mostrá-lo e explicá-lo aos portugueses e especialmente aos nossos jovens. Um país sem orgulho no seu passado é um país fraco e envergonhado de si próprio. Os portugueses devem saber que durante a nossa história muitos morreram para podermos nascer e viver num país independente. A nossa obrigação é deixar às futuras gerações um país independente, tal como recebemos dos nossos antepassados. Uma nação é um contrato entre os vivos, os mortos e os que estão por nascer.

Domingo, 9

As mentiras da BBC

O diretor geral e a editora de política da BBC demitiram-se por causa da edição fraudulenta de um programa Panorama sobre Trump (Trump a Second Chance?). Alteraram propositadamente um discurso de Trump em janeiro de 2020 para passar a ideia de que o Presidente americano tinha apelado ao ataque ao Capitólio. Não é uma mentira menor. Faz parte de uma estratégia de muitos órgãos de comunicação social, onde a BBC tem um lugar de destaque, para passar a ideia que Trump tinha cometido um crime, atacando a democracia. É inaceitável e mostra uma má-fé evidente.  

A BBC não é uma televisão qualquer. É das mais prestigiadas mundialmente (ou era). É ouvida e vista em todo o lado. Os programas Panorama são transmitidos por outras televisões à volta do mundo. Já se averiguou se aquele programa foi transmitido noutros países por outras televisões? Seria importante saber.

No meu caso, como residente no Reino Unido, fico ainda mais indignado. Pago um imposto anual de cerca de 200 euros (TV Licence) para poder ver televisão. Não é só a BBC, eu passaria muito bem sem ver a BBC, são todos os canais de televisão britânicos. No Reino Unido, se não pagarmos um imposto para a BBC funcionar, não podemos ver televisão. É inaceitável que uma televisão que funciona com o dinheiro dos nossos impostos, minta aos espectadores de uma maneira tão reles.

Segunda, 10

Sá Fernandes, mais um amigo de André Ventura

Sá Fernandes resolveu ajudar André Ventura, liderando um grupo de cidadãos que pediu a um tribunal para forçar a retirada de um cartaz que diz ‘Os ciganos devem cumprir a lei’. Teoricamente, poderia criticar-se Ventura por discriminar um grupo específico. Toda a gente deve cumprir a lei. No entanto, o Estado português é que tem permitido durante décadas que a comunidade cigana se comporte à margem da sociedade portuguesa. A verdade é que membros da comunidade cigana têm comportamentos que são ilegais. Viajem por Portugal e falem com portugueses que vivem onde há comunidades ciganas. Todos sabem que muitas vezes ocupam terrenos privados, vivem de esquemas à margem da lei (como tráfico de droga), e cometem crimes contra mulheres absolutamente inaceitáveis.

Vale a pena recordar o modo como as mulheres são tratadas nas comunidades ciganas. Muitas delas, são oferecidas ou até vendidas ainda miúdas para casamentos com homens mais velhos. Ainda se mata quando mulheres ou até os seus familiares recusam os casamentos forçados. Esta semana, muitos atacaram (e muito bem) as afirmações sobre as mulheres do líder do movimento Reconquista (declarações chocantes e estúpidas). Muitos ciganos olham para as mulheres do mesmo modo da besta que lidera o Reconquista. É muito irónico, mas é a verdade. Se atacamos num caso, também devemos atacar nos outros. Em relação à comunidade cigana, não é o Ventura que está errado. O erro foi e é cometido pelo Estado português que permite uma comunidade viver à margem da lei comum. Não duvido que aqui a maioria dos portugueses concorda com Ventura. Sá Fernandes está a fazer tudo para que isso seja ainda mais evidente.

Terça, 11

Greve geral

As greves em Portugal não são, na verdade, greves. São manifestações políticas. Cada vez que as esquerdas perdem eleições, a oposição passa para as ruas. Ainda é pior quando o PCP tem um resultado eleitoral péssimo. O seu braço sindical, também conhecido como CGTP, passa a fazer política. 

Num programa de discussão política, João Ferreira confessou a verdade. Os protestos do ‘povo nas ruas’ são muito mais importantes do que ‘maiorias parlamentares conjunturais’. Ferreira mostrou o que o PCP pensa sobre eleições e sobre a democracia: momentos conjunturais. A verdadeira maioria que conta é o ‘povo’, uma entidade abstrata, liderado, obviamente, pelo PCP. Independentemente dos resultados eleitorais, o PCP e a CGTP lideram sempre uma imensa maioria, o ‘povo’. O que é estranho é o ‘povo’ não votar no PCP.

Quarta, 12

Centeno à procura de emprego

Mário Centeno não se conforma com a não-recondução como governador do Banco de Portugal. Ao mesmo tempo, não se consegue livrar do vício da política. Agora, quer ser vice-presidente do BCE, cuja escolha acontecerá provavelmente em março do próximo ano. Pelo meio, quando ainda estava no Banco de Portugal, tentou ser PM (sem eleições) através de uma sugestão de António Costa a Marcelo Rebelo de Sousa.

Parece que agora Costa, o ‘europeu’, continua a fazer campanha por Centeno, desta vez para ir para Frankfurt. Desconfio que mais uma vez o padrinho político de Centeno não vai conseguir ajudar o afilhado. Antes dos oito anos da vice-presidência do espanhol Luis Guindos, o VP do BCE foi Vítor Constâncio. A vice-presidência do BCE não é uma espécie de Tratado de Tordesilhas. A zona euro tem 19 países, e seguramente há outros que também querem, e têm o direito, de exercer funções no BCE. Os países da Europa central irão opor-se a outro VP português. Ainda bem. Se Centeno não tinha condições de independência política para ser governador do Banco de Portugal, também não tem condições políticas para ser VP do BCE; os critérios são os mesmos. Só faltava Centeno usar o BCE para fazer oposição ao governo português. Até para José Luís Carneiro, seria um pesadelo.

Quinta,13

A coragem de Marco Almeida

Nas eleições autárquicas e nas coligações pós-eleitoriais, a AD fez de tudo. Apoiou uma antiga comunista em Setúbal. Fez uma coligação com o PCP em Beja. Fez coligações com o PS em Cascais e no Porto. Seria muito mau que o PSD se aliasse a todos, incluindo aos comunistas, menos ao Chega. Marco Almeida não deixou que isso acontecesse. Louvo a sua coragem. Nos tempos que correm, Portugal precisa de políticos com coragem. A direção da IL é que esteve muito mal ao retirar a confiança política à vereadora do partido em Sintra. Mas em Beja a mesma IL não se opôs a uma aliança com o PCP. Estou à espera que a Mariana Leitão explique por que razão não se opõe a uma coligação com os comunistas, mas é contra uma com o Chega.