SÁBADO, 15
Maria Corina Machado apela à liberdade
Maria Corina Machado é talvez o maior símbolo da oposição venezuelana. Não era a líder da oposição que venceu as eleições no ano passado, mas sim Edmundo Gonzalez (exilado em Espanha). No entanto, foi Corina Machado que ficou a combater pela liberdade na Venezuela. Por isso, ganhou o prémio Nobel da Paz. O Comité de Oslo quis reconhecer e premiar a luta da oposição venezuelana.
Corina Machado apelou às forças armadas que se virassem contra Maduro e se colocassem ao lado da maioria do povo venezuelano. Obviamente, com um grande sentido de responsabilidade, Corina Machado está a tentar evitar uma mudança de regime com violência e até com uma guerra civil. Um ponto é claro. O regime de Maduro devia cair o mais rapidamente possível. É um ditador militar que roubou a vitória eleitoral da oposição, condenou o povo venezuelano à pobreza e à humilhação, com nove milhões de pessoas forçadas a abandonar o seu país, e lidera uma organização de narcotráfico com braços em muitos países sul americanos.
DOMINGO, 16
Eleições no Chile
Realizaram-se eleições presidenciais, a primeira volta, e parlamentares no Chile. Nas parlamentares, os quatro partidos de direita conquistaram a maioria absoluta (com 90 de 155 deputados). Será necessário agora construir uma coligação entre esses partidos.
A coligação poderá começar a construir-se na segunda volta das eleições presidenciais. A candidata de esquerda, Lara (antiga ministra do Trabalho) ganhou a primeira volta, mas apenas com mais 3% do que o primeiro candidato de direita, Kast. A explicação é muito simples. A esquerda chilena realizou primárias e por isso uniu-se à volta de um candidato. A direita não fez primárias, ou melhor a primeira volta das presidenciais, onde concorreram os quatro candidatos de direita, substituiu as primárias. Dois dos outros três candidatos de direita já declararam apoio a Kast. O outro candidato de direita, Parisi, ainda não o fez, mas o mais provável é juntar-se ao resto da direita. E serão os quatro a formar uma maioria de direita parlamentar.
SEGUNDA, 17
André Ventura vs António José Seguro
Eu não olho para os debates eleitorais como um confronto entre quem está a debater. Vejo os debates como ações de campanha eleitoral. Ou seja, é irrelevante saber quem ganha o debate. O que me interessa é saber se o debate correu bem no contexto da estratégia eleitoral dos candidatos, e se os ajudou a ganhar votos (ou, pelo menos, a não perder votos). Por estas razões, julgo que o debate correu melhor a André Ventura.
Ventura tem uma estratégia eleitoral clara: repetir a votação do Chega nas eleições legislativas de Maio. Com esse resultado, vai de certeza à segunda volta. Por isso, está a usar os mesmos argumentos, e foi isso que fez no debate com Seguro. Muita gente não gosta. Mas também não gostava nas eleições legislativas, e isso não impediu o Chega de ficar em segundo lugar. Ventura é um político disciplinado e não se preocupa em hostilizar a maioria dos comentadores. Para mim só há uma dúvida: se o discurso de Ventura não estará a esgotar-se e a cansar parte do seu eleitorado. Aparentemente, Ventura acha que não. Em Janeiro, veremos.
António José Seguro quis mostrar que é mais institucional do que Ventura e que tem perfil de Presidente, ao contrário do seu oponente. Mas essa estratégia é errada na primeira volta. Se o debate tivesse sido na segunda volta, essa estratégia teria feito sentido. Na primeira volta, não é eficaz. Mas o maior problema de Seguro é a falta de estratégia eleitoral, que foi visível no debate. Como o PS ficou em terceiro lugar nas legislativas, Seguro não tem a certeza de que os votos dos socialistas sejam suficientes para chegar à segunda volta. Além disso, também sabe que não faz o pleno entre o eleitorado do PS. Por isso, precisa de crescer para fora do PS. Para a esquerda do PS, não consegue. Conseguirá crescer para a direita do PS? Parece ser esse o objectivo de Seguro. Não será nada fácil porque é um espaço sobrelotado, com Marques Mendes, Cotrim Figueiredo e até Gouveia e Melo.
TERÇA, 18
Marques Mendes vs António Filipe
À semelhança de André Ventura, Marques Mendes também sabe que se tiver a votação da AD, irá à segunda volta. No debate com António Filipe, falou para o eleitorado que vai da ala centrista do PS (com os elogios à UGT) ao eleitorado da AD. No entanto, Marques Mendes terá uma tarefa mais difícil do que Montenegro teve nas legislativas. Cotrim Figueiredo vale mais do que a IL, e vai tirar votos a Marques Mendes. O candidato social-democrata enfrenta ainda mais duas ameaças. Pode perder alguns votos para Gouveia e Melo, e também para Ventura da ala mais à direita do eleitorado da AD. Nas presidenciais, o voto útil não tem a força das eleições legislativas. Para passar à segunda volta, Marques Mendes tem três debates decisivos: Cotrim Figueiredo, Gouveia e Melo e André Ventura.
Quanto a António Filipe, o seu discurso não se distingue do de qualquer outro candidato do PCP. De resto, tem uma vida difícil e, simultaneamente, fácil. É muito difícil ser o candidato de um partido que está, lentamente, a chegar ao fim. É fácil ter um resultado melhor do que o PCP nas legislativas de Maio.
Quarta, 19
Ronaldo goes to the White House
Cristiano Ronaldo foi à Casa Branca, onde participou num jantar de gala entre o Presidente norte americano e o príncipe herdeiro saudita. No dia seguinte, 19 de Novembro, teve um encontro a sós com Trump. Ronaldo não tem vergonha de afirmar a sua admiração por Trump, sem se preocupar com o que pensa a bolha de comentadores na Europa (sobretudo no Reino Unido) e em Portugal. Não partilho a admiração, mas aprecio a coragem. E gosto que Ronaldo seja uma pessoa de direita; tal como era o seu pai, que lhe deu o nome de Ronaldo em homenagem a Ronald Reagan.
Ronaldo tem uma cultura anglo-saxónica e muito norte americana: admira o sucesso, e trabalha arduamente para ter sucesso, para ganhar. Por isso, durante muito tempo, foi o melhor jogador de futebol do mundo. Ronaldo já está a preparar o futuro pós-futebol. Será sem dúvida um grande empresário e investidor. É uma daquelas pessoas que terá sucesso um tudo o que fizer. Desconfio que uma das suas grandes ambições será comprar o Manchester United em parceria com o fundo soberano saudita e tornar-se presidente do clube que o transformou no melhor jogador do mundo. E Ronaldo voltará a colocar o Manchester United entre as melhores equipas de futebol do mundo.
Quinta, 20
E Catarina Martins está no Brasil
Há uma moda no Bloco de Esquerda. Quando há eleições, os seus candidatos principais vão para o estrangeiro. Nas semanas antes das legislativas, a (ainda) líder do partido, Mariana Mortágua, fez uma viagem pelo Mediterrâneo. Agora, na semana em que começam os debates das eleições presidenciais, Catarina Martins foi ao COP30 em Belém no Brasil. Pior, usa o COP30 para fazer campanha eleitoral em Portugal. Duvido que 5% dos portugueses saiba o que é o COP30. No fundo, Catarina Martins não aspira a mais, e se tivesse 5% nas presidenciais seria muito bom. Também não há dúvida que o Bloco está a deixar de ser um partido político português e está a transformar-se numa espécie de ONG de causas globais.