Hoje temos um homem extremamente respeitado na Sala Oval». Foi assim que o Presidente americano, Donald Trump, apresentou o seu mais recente convidado Mohammed bin Salman, príncipe-herdeiro da Arábia Saudita, à imprensa. «Tenho muito orgulho no trabalho que ele fez», continuou, elogiando o progresso «incrível em termos de direitos humanos e em tudo mais» do líder saudita.
A extrema cordialidade foi o pano de fundo para o encontro de alto nível que teve lugar na Casa Branca durante esta semana, com bin Salman a retribuir os elogios, dizendo que Trump está «realmente a criar muitas coisas boas, boas bases para gerar mais crescimento económico, mais negócios nos Estados Unidos», sublinhando ainda «o seu trabalho pela paz mundial».
Mas se a cordialidade foi o pano de fundo, numa visita que também contou com a presença do capitão da Seleção Portuguesa de Futebol e do clube saudita Al-Nassr, Cristiano Ronaldo, os acordos estabelecidos à margem das câmaras foram o ponto central.
De acordo com o site oficial da presidência norte-americana, Trump e bin Salman «finalizaram uma série de acordos históricos que aprofundam a parceria estratégica entre os EUA e a Arábia Saudita, ampliam as oportunidades de empregos americanos com altos salários, fortalecem cadeias de abastecimento críticas e reforçam a estabilidade regional». O executivo reforçou ainda que esta parceria é estabelecida e fortalecida «colocando os trabalhadores, a indústria e a segurança americanos em primeiro lugar». Defesa, energia nuclear, semicondutores e minerais raros foram os temas principais da parceria. Uma parceria que, segundo a Casa Branca, é o «resultado direto da visita bem-sucedida do presidente [Trump] a Riade, em maio, e dos 600 mil milhões de dólares em compromissos de investimento sauditas garantidos para os Estados Unidos naquela ocasião». E espera-se que esse investimento cresça, uma vez que «o príncipe herdeiro anunciou hoje que a Arábia Saudita aumentará os seus compromissos de investimento nos Estados Unidos para quase 1 bilião de dólares, refletindo a confiança cada vez maior e o impulso para os Estados Unidos sob a liderança do presidente Trump», explica Washington.
Os detalhes
Em matéria de defesa, o prato principal foram os caças F-35 que os Estados Unidos venderão à Arábia Saudita. Um acordo que, segundo o ex-subsecretário adjunto da Defesa para o Médio Oriente e embaixador dos EUA em Israel Daniel Shapiro, em declarações à ao Atlantic Council, significa que Trump «está a apostar tudo na relação entre os EUA e a Arábia Saudita». Todavia, Israel, o principal aliado dos Estados Unidos no Médio Oriente, não deixou de ser alvo de considerações da Casa Branca. Isto porque, segundo a Reuters, «os caças F-35 que os EUA planeiam vender à Arábia Saudita serão menos avançados do que os operados por Israel, em conformidade com uma lei norte-americana que garante a vantagem militar de Israel na região». Ainda assim, a China continua a ser uma grande preocupação quando este tema é alvo de discussão. Isto porque, como disse Tressa Guenov, ex-subsecretária adjunta da Defesa dos EUA para assuntos de segurança internacional, também ao Atlantic Council, a inteligência americana receia que Pequim consiga acesso aos F-35 na eventualidade da venda à Arábia Saudita, reforçando que «esforços semelhantes para vender F-35 aos Emirados Árabes Unidos não foram realizados durante os governos Trump e Biden em parte devido a preocupações com a transferência de tecnologia para a China».
No que à energia nuclear diz respeito, o Secretário da Energia dos EUA, Chris Wright, e o ministro da Energia saudita, o príncipe Abdulaziz bin Salman Al Saud, emitiram uma «Declaração conjunta sobre a conclusão das negociações sobre cooperação nuclear civil». «Hoje é um dia histórico para os Estados Unidos e para o Reino da Arábia Saudita», começou por dizer Wright num vídeo partilhado na sua conta oficial do X. «Chegámos a um acordo sobre cooperação nuclear civil. Juntos, com acordos bilaterais de salvaguarda, queremos fortalecer a nossa parceria, levar a tecnologia nuclear americana para a Arábia Saudita e manter um compromisso firme com a não proliferação». «Tudo isto», continuou, «é possível graças à visão do presidente Trump de prosperidade interna e paz externa. Esta filosofia, esta parceria, transformou o Médio Oriente numa região agora focada no comércio, e não no conflito». De facto, se os Estados Unidos fornecerem tecnologia nuclear civil aos sauditas, «podem exercer influência em questões de segurança e ajudar a impedir o desenvolvimento de armas nucleares na Arábia Saudita e não só», explica a diretora da Nuclear Energy Policy Initiative, Jennifer Gordon, ao Atlantic Council.
As terras raras e a China
E se a China é uma preocupação em matérias de defesa, não o deixa de ser quando o assunto são as terras raras – uma das grandes competições da geopolítica moderna dada a sua necessidade para a construção de bens de consumo elétricos – de eletrodomésticos a carros movidos a eletricidade – às turbinas responsáveis pela produção de energia eólica, passando também, naturalmente, pelo papel central que representam na indústria militar.
No final do passado mês de agosto, o Financial Times escreveu um artigo com um título categórico: «A China venceu a corrida pelas terras raras. Será que conseguirá manter-se no topo?». É esta corrida, e a necessidade de destronar o seu principal rival no tabuleiro internacional, que leva os EUA a procurarem alternativas. E uma das alternativas está contemplada num dos acordos assinados esta semana com os sauditas: «Os Estados Unidos e a Arábia Saudita […] assinaram um Acordo-Quadro sobre Minerais Críticos», diz a Casa Branca, «aprofundando a colaboração e alinhando as nossas estratégias nacionais para diversificar as cadeias de abastecimento de minerais críticos. Este acordo baseia-se em acordos semelhantes que o presidente Trump celebrou com outros parceiros comerciais para salvaguardar a resiliência da cadeia de abastecimento dos Estados Unidos em relação a minerais essenciais».
«Em conjunto com as iniciativas anunciadas […] nas áreas de minerais críticos, energia nuclear, inteligência artificial e defesa», concluiu o documento oficial do executivo dos Estados Unidos, «estes acordos criarão empregos bem remunerados nos Estados Unidos, impulsionarão a liderança tecnológica do país e proporcionarão retornos significativos para os trabalhadores e famílias americanas nas próximas décadas».