Tal como na ilusão ótica conhecida por Vaso de Rubin – em que podemos ver o vaso ou o rosto de perfil, mas nunca os dois ao mesmo tempo –, as pinturas de Giuseppe Arcimboldo (1526-1593)_mudam consoante o ponto de vista adotado pelo espectador. Este pode focar-se nos troncos, folhas, casca de árvore e raízes, frutos e legumes, plantas e flores; mas também pode ver rostos humanos, por vezes identificáveis, nas estranhas composições a que se dá o nome de teste composte.
Arcimboldo, que viveu nas cortes de Viena e Praga, encantou os seus contemporâneos com estes quebra-cabeças visuais que continham mensagens escondidas e subtis enigmas para decifrar.
Neste caso, trata-se de um conjunto de alegorias das quatro estações que vai a leilão em Londres no próximo dia 2 de dezembro. O inverno, mostra-nos a sua face despida e austera (e alguns cogumelos); a primavera, a natureza florida e em festa; o verão, os vegetais que simbolizam as colheitas; o outono faz alusão aos produtos da época e às vindimas, sendo o tronco do personagem feito por uma barrica de vinho.
«Esta fusão de artifício e alegoria explica a sua extraordinária longevidade – imitadas pelos contemporâneos, recolhidas por toda a Europa e redescobertas séculos mais tarde pelos surrealistas, que reconheceram em Arcimboldo um mestre proto-moderno da metamorfose», diz a nota da leiloeira Christie’s. «Contudo, para o seu público original, eram imagens profundamente sérias: alegorias cortesãs de continuidade dinástica, poder e ordem cósmica». Recorde-se que o pintor milanês trabalhou para a corte de Rodolfo II, o imperador habsburgo que reuniu em Praga um conjunto de alquimistas, e as suas obras podem ser vistas como o equivalente pictórico da transmutação dos materiais – da tinta em produtos vegetais e destes vegetais em figuras alegóricas.