O artigo desta semana aborda um tema que se poderia considerar encerrado: as consequências económicas do Brexit. Escolhi escrevê-lo por que este mês foi publicado um artigo que utiliza abordagens rigorosas para avaliar as implicações do processo do Brexit no PIB, no investimento, no emprego e na produtividade 1. Este estudo constitui exemplo magnifico do poder da moderna análise contrafactual associada a bases de dados detalhadas. Medir rigorosamente, sem propaganda, as consequências na saída do Reino Unido da União Europeia ajuda a prevenir outras tentações no mesmo sentido. Por outro lado, a experiência britânica com o Brexit apresenta algumas semelhanças com a recente imposição de tarifas alfandegárias e controlos de imigração nos Estados Unidos na medida em que ambos perturbaram o comércio e as migrações e aumentaram a incerteza em matéria de política económica. As consequências de um podem ajudar a perceber o impacto do outro.
O estudo combina a análise macro com a microeconómica. A análise macro baseia-se na comparação do desempenho agregado da economia britânica com um conjunto de países comparáveis no período anterior ao referendo sobre o Brexit e no período posterior. A análise ao nível micro utiliza dados ao nível das empresas e identifica os efeitos do Brexit aproveitando o facto de o voto a favor do Brexit ter sido em grande parte inesperado e, consequentemente, as diferenças entre empresas mais e menos expostas à UE após 2016 deverem refletir principalmente o impacto do voto pelo Brexit e do processo subsequente.
O processo do Brexit foi muito prolongado, tendo passado quase 10 anos entre o referendo de junho de 2016 e conclusão das negociações sobre a Irlanda do Norte em 2023, passando pela saída formal em 31 de dezembro de 2020. O artigo estima que, no início de 2025, a economia britânica era cerca de 8 % mais pequena do que teria sido sem o Brexit, com base em dados macroeconómicos, e 6 % mais pequena segundo dados microeconómicos ao nível das empresas. O investimento terá sido 12-18 % inferior, o emprego 3-4 % inferior e a produtividade também 3-4 % inferior ao que teria sido caso o Reino Unido não tivesse votado pela saída da UE. São números grandes e superiores às estimativas contemporâneas que, contudo, tinham apenas um horizonte de 5 anos – o que indicia que os efeitos foram prolongados no tempo. Naturalmente, as consequências sentidas durante este período, dominado pela indefinição e incerteza, serão também diversas daquelas que se registarão ao longo da próxima década.
O artigo identifica quatro principais canais através dos quais o Brexit terá afetado a economia do Reino Unido. Primeiro, a decisão do Reino Unido de sair da UE gerou um aumento persistente da incerteza, que pesou especialmente sobre o investimento. Segundo, o crescimento do investimento e do emprego foi afetado pela menor procura esperada de bens e serviços. Terceiro, o crescimento da produtividade dentro das empresas foi prejudicado por menores níveis de inovação e de investimento em tecnologias de informação, bem como pelo tempo e recursos das administrações que foram desviados para a preparação do Brexit. Finalmente, o crescimento da produtividade entre empresas foi reduzido, uma vez que as empresas mais produtivas e mais expostas internacionalmente foram as mais negativamente afetadas isto é, houve uma realocação de recursos e da produção de empresas mais produtivas para outras menos produtivas.
1 The Economic Impact of Brexit Nicholas Bloom, Philip Bunn, Paul Mizen, Pawel Smietanka, Gregory Thwaites, NBER Working Paper 34459 http://www.nber.org/papers/w34459, novembro 2025.
Professor universitário