
Querida avó,
Estamos em contagem decrescente para o Natal. Já fiz a Árvore de Natal e comprei a maior parte dos presentes. Falta dedicar-me a escrever os postais que costumo enviar, anualmente. Tento que algumas tradições se mantenham, os postais são uma delas!
Lisboa está pronta para celebrar o Natal. Iluminou-se recentemente num espetáculo lindíssimo, na Praça do Comércio.
Nesta época é impossível não fazer uma viagem às minhas memórias de infância.
Recordo-me que a sala dos meus avós cheirava sempre a café e bolos acabados de fazer enquanto começávamos a montar a árvore de Natal, com as luzinhas e enfeites guardados com carinho, ano após ano.
No cimo da Árvore de Natal a avó Vitória pendurava sempre uma estrela de madeira já um pouco gasta, pelo uso.
Depois passávamos para a mesa e contava-me histórias dos “Natais do seu tempo”.
«Era tudo tão diferente. A nossa árvore não era comprada, nem artificial, como as de hoje? Às vezes era um pinheiro que o teu bisavô cortava no quintal, outras vezes fazíamos com galhos secos e enfeitávamos com o que tínhamos: fitas antigas, algodão para parecer neve, cascas de noz pintadas à mão…».
«Quanto aos presentes, normalmente era só um. E muitas vezes feito à mão também. Uma boneca de pano, um carrinho de madeira… Mas nós ficávamos muito felizes! Não havia Pai Natal, mas sim o Menino Jesus. O Natal era mais simples, mas tinha um encanto especial. As pessoas reuniam-se, cantavam, contavam histórias. Não tinham tanta pressa».
Hoje parece que todos queremos receber muitas coisas…
O Natal continua a ser muito bonito, cheio de luzes, músicas, filmes, tecnologia… mas às vezes esquecemo-nos do mais importante: estar juntos, cuidar dos outros, agradecer pelo ano que passou. Com presentes, mas também com abraços, carinho e histórias.
Com tradições de ontem e de hoje – construímos memórias para o futuro.
Assim é que se faz o verdadeiro Natal.
Bjs
Querido neto,
Está a chegar o mês das grandes festas católicas e familiares. O mês em que as pessoas se reúnem para festejar o nascimento de Jesus e para confraternizarem.
Mais um ano em que a maioria se vai concentrar na loucura das compras, em vez de refletir sobre o verdadeiro espírito natalício. Lojas cheias de pessoas encavalitadas umas nas outras, tirando daqui e de acolá, muitas vezes até das mãos de outras pessoas.
Volta a fúria das listas que levamos nas mãos e de onde se vão riscando os nomes à medida que as vamos “despachando”. Porque é isso que a maioria pretende: “despachá-los” como uma espécie de “Missão Cumpria”.
Podíamos voltar a fazer o que há anos toda a gente fazia e hoje já ninguém faz: escrever cartas e postais.
Quem é que hoje ainda o faz?
Aqui há uns tempos lembro-me de estar nos correios e à minha frente um jovem, depois de entregar a carta à funcionária, insistia com ela: «Veja se está tudo bem, por favor». Ela garantia que sim, que estava tudo bem, mas a criatura não se calava: «Mas veja lá… É que lá no escritório insistiram muito para que eu não me esquece-se de pôr, aí,… o que eles queriam… “remessa”? Era assim uma coisa parecida». E a funcionária: «Seria “remetente”?».
Ele saltou de alegria: «“Remetente”, era isso mesmo!». Depois parou e, com ar intrigado, perguntou: «Que raio é isso?»
É que claro que não explico, porque tenho a certeza de que quem nos lê sabe o que isso quer dizer.
É verdade que hoje há telemóveis, internet e outras modernices, que são indispensáveis, e já não sabíamos viver sem elas.
Se eu quiser mandar um recado ou pedir uma informação… não vou enviar uma carta.
Até há muito pouco tempo era hábito mandar postais pelo Natal, para familiares e amigos.
Com os telemóveis passaram a enviar mensagens (a mesma para todos).
Agora, vão ao Facebook e escrevem uma única mensagem, o mais impessoal possível.
Devemos refletir.
Bjs