O tempo do sofá…e do cinema

Filmes e séries para todos os gostos, uma época perfeita para nos entretermos quando o tempo não permitir passear pela cidade.

É fácil gostar do verão. O calor, os dias mais compridos, as férias e tantas outras razões. Toda a gente gosta do verão. Já a chegada do outono é só para apreciadores, para os que não se esgotam nem se deixam abater. O outono traz-nos a magia da profundidade, de estarmos mais connosco e com os mais próximos, de sermos menos do Mundo. Entrega-nos às portas do Natal e percorre todo aquele mês de dezembro cheio de luzinhas e de sentimentos bons, dos momentos aconchegantes e dos passeios pelo parque onde o frio parece não fazer mossa, que nos levam através da Avenida até à medida dos nossos sonhos. Do que quisermos ser. É também a época em que nos entregamos ao sofá, à lareira, aos cinemas e aos livros. Sabermos valorizar cada estação, apreciando-as tal qual elas são é no fundo uma preparação para sabermos apreciar a idade e as diferentes idades, conseguindo retirar de cada momento e de cada espaço temporal, o melhor que nos podem dar. Aceitando que não são todas iguais mas tendo a perfeita noção de que todas podem ser mágicas, cada uma à sua maneira.

A semana passada regressei ao cinema. Já não ia há mais de um ano e confesso que senti falta. Acho que só dei conta no preciso instante em que lá entrei. Tive a sorte da companhia e do filme escolhido. E quando a sorte nos bate à porta é preciso termos disponibilidade emocional para saber aproveitar. A estreia de O Agente Secreto chamou-me à atenção, primeiro porque o ator Wagner Moura é para mim uma referência desde os tempos do Narcos, depois porque gosto muito da realidade crua e pungente das produções brasileiras. Sem querer ser “spoiler”, posso-vos contar que a história retrata um Brasil de 1977, em que um especialista em tecnologia chega ao Recife na semana do Carnaval, depois de uma longa viagem. Vai em fuga e aloja-se num prédio onde os seus habitantes se encontram mais ou menos na mesma situação. A procura do filho e o seu reencontro não são, no entanto, o conto de fadas de que estava à espera. Um filme que merece ser visto porque mostra de forma cruel um país cheio de perigos, especialmente nessa época, mas traz-nos também um excelente guarda-roupa, uma banda sonora meticulosamente definida e um elenco escolhido a dedo.

Mas há muito por onde escolher este mês. De todos escolho um que ainda não vi, mas que me desperta particular curiosidade e que procurarei ver numa próxima oportunidade. Vem do Médio Oriente, na senda de grandes outros filmes que nos trazem a difícil realidade de uma região, sem grandes holofotes ou privilégios. Foi só um acidente é uma produção iraniana realizada por Jafar Panahi, rodada clandestinamente e que se centra num mecânico que encontra um homem que ele julga ser o seu antigo torturador no Irão e planeia a sua vingança.

No domínio das séries terminei há pouco Ninguém quer isto. Uma comédia romântica que junta uma agnóstica com um podcast sobre sexo e um rabino recém-solteiro. Divertido do princípio ao fim sem cair em clichés ou lugares comuns, mas com diversas situações em que nos conseguimos rever. Um elixir para a alma, perfeito para um domingo à tarde. Já Black Rabbit é o oposto. Intenso, dilacerante e depressivo. Uma viagem pelo submundo de Nova Iorque quando se encontram no mesmo espaço de restauração a loucura das drogas e os limites dos negócios. Um suspense psicológico guiado pelas atuações magnéticas de Jude Law e Jason Bateman. A próxima será Os Donos do Jogo, sobre a dura realidade do clandestino jogo do bicho, no Rio de Janeiro. Sobre essa falarei numa próxima oportunidade…se valer a pena.

A descobrir:

Às vezes vivemos uma vida inteira numa cidade e não a descobrimos como deve ser. Parece que os turistas que a visitam conseguem extrair dela uma beleza que a nós nos escapa. Talvez porque a damos como dado adquirido. A minha sugestão é que nesta época do Natal, sobretudo à noite em que as ruas se iluminam, dê um passeio a pé, sozinho ou acompanhado de quem mais gosta e vai ver que a serendipidade anda por aí.

Uma música para dançar no fim de semana:

Jamaican (Bam Bam) – Hugel, SOLTO (FR)