Futebol. O dérbi serve-se ao jantar

Hoje é dia de Benfica-Sporting, o dérbi que faz parar o país. É assim desde 1907! Este jogo pode ser o momento de viragem para os encarnados ou a confirmação da superioridade dos leões. Deixamos uma dica: José Mourinho nunca perdeu com o Sporting.

O Benfica recebe o Sporting com a motivação em alta depois da vitória sobre o Nacional (2-1), quando estava com a ‘corda na garganta’. O bicampeão nacional fez ainda melhor e goleou o Estrela da Amadora (4-0), antes de atravessar a Segunda Circular para defrontar o velho rival à hora de jantar (20h15). Tendo em conta o que se passou na última jornada, podemos pensar que as duas equipas atravessam um bom momento, mas não é bem assim. O Benfica está mais pressionado porque tem três pontos de atraso para o Sporting e seis para o FC Porto. José Mourinho ainda não conseguiu criar uma equipa à sua imagem, mas a atitude dos jogadores na parte final do jogo frente ao Nacional mostrou um conjunto guerreiro e capaz de trabalhar para vencer. «Isto é o Benfica, c…!», gritou Mourinho no final do encontro. Não, o Benfica tem de ser mais do que aquilo que mostrou na Madeira.

O futebol dos encarnados é pobre, não enche a vista aos adeptos e, em muitos jogos, faltou atitude, como reconheceu o treinador. As vitórias sobre o Ajax e Nacional resultaram mais do trabalho coletivo do que da qualidade do futebol praticado. Contudo, para o dérbi mais importante de Portugal a motivação é sempre elevada, por isso estes grandes jogos são sempre de resultado incerto. Partindo do princípio que o FC Porto ganha em casa do Tondela, a derrota penaliza mais o Benfica do que o Sporting, pois deixa os encarnados a nove pontos do primeiro lugar e a seis do segundo. Se os leões fracassarem na Luz, os azuis e brancos reforçam a liderança e os encarnados ganham novo fôlego.

José Mourinho sabe que o Benfica tem de chegar vivo a janeiro para depois atacar o mercado de inverno. É especialista em preparar taticamente estes momentos e em bloquear o adversário, virando o jogo a seu favor através de detalhes. Dificilmente vai abordar esta partida de forma expectante como fez no Estádio do Dragão. Agora, tem de atacar para ganhar, e deve apostar na mesma equipa que derrotou o Ajax.

O Sporting está com uma dinâmica positiva, capaz de criar desequilíbrios na estrutura adversária como se comprova pela sequência de nove vitórias nos últimos dez desafios. Tem bons jogadores em todos os setores, conta com o melhor ataque do campeonato e revela grande solidez e estabilidade com o sistema implementado por Rui Borges, que colocou a sua marca pessoal na equipa e acabou com o sistema de três centrais usado por Ruben Amorim. Por tudo isso, o Sporting chega ao dérbi no melhor momento de forma. O ano passado empatou no Estádio da Luz (1-1), resultado que abriu portas à revalidação do título, mas é preciso recuar a 2015/16 para encontrar a última vitória (3-0) no campo do rival, no regresso de Jorge Jesus à sua anterior casa.

Sporting em vantagem

Analisando as performances desportivas na temporada 2025/26, o Benfica realizou 25 jogos, ganhou 16, empatou cinco e perdeu quatro, marcou 42 golos e sofreu 15. O Sporting fez 21 jogos, ganhou 16, empatou dois e perdeu três, marcou 53 golos e sofreu 15. Fez menos quatro jogos porque teve acesso direto à Liga dos Campeões, mas apresenta melhor aproveitamento. Se considerarmos apenas o campeonato nacional, o Sporting apresenta igualmente melhores registos, com dez vitórias, um empate e uma derrota, ao passo que o Benfica regista oito vitórias e quatro empates, o que explica a diferença de três pontos. O Sporting marcou 31 golos e sofreu seis, já o Benfica marcou 25 golos e sofreu sete. A equipa de José Mourinho ainda não perdeu e empatou no Dragão (0-0), no jogo de maior dificuldade. O Sporting deu-se mal no primeiro medir de forças com os rivais e foi derrotado, em Alvalade, pelo FC Porto (1-2), que assumiu a liderança e por lá continua. No que diz respeito ao tempo útil por jogo, a equipa de Rui Borges leva vantagem com uma média de 56:33 minutos (57,2%), o Benfica fica-se pelos 54:46 minutos (54,7%). Os dois melhores marcadores da competição são Vangelis Pavlidis (Benfica), com 10 golos, seguido por Luis Suárez (Sporting), com nove, que está a fazer esquecer Gyökeres. Um dado curioso, o Benfica tem sido particularmente letal para os adversários nos últimos 15 minutos de jogo, onde marcou 10 golos, ou seja, 37% do total de golos marcados.

A história não ganha jogos, mas o Sporting tem funcionado como um talismã para José Mourinho, que nunca perdeu nas dez vezes que defrontou os ‘leões’ enquanto treinador do Benfica, União de Leiria, FC Porto e Chelsea. Curiosamente, o último jogo que fez como treinador do Benfica aquando da sua primeira passagem em 2000 foi contra o Sporting. Venceu de forma clara (3-0) e a seguir pediu a demissão porque não queria ser «um treinador a prazo», justificou na altura.

Rui Borges vai defrontar José Mourinho pela primeira vez: «É um desafio e um privilégio defrontar aquele que continua a ser um dos melhores treinadores do mundo e uma referência para todos nós», afirmou. Em relação ao momento atual da equipa, foi claro: «Tem sido visível o seu crescimento. A equipa está cada vez melhor preparada, muito confiante e ligada coletivamente».

Sempre que joga em casa, o Benfica tem tido o colinho dos adeptos, como se verifica pelo número de espetadores. As seis maiores assistências desta época foram no Estádio da Luz, só que os encarnados não aproveitaram o fator casa e empataram três vezes. A sétima melhor casa pertence ao Sporting, no jogo em que perdeu com o FC Porto.

Se fôssemos olhar apenas para o atual valor de mercado de cada equipa, o Sporting era favorito para o dérbi desta noite. Segundo o Transfermarkt, gastou ‘apenas’ 68,8 milhões de euros a reforçar um plantel que vale 456,5 milhões de euros, já o Benfica ‘derreteu’ 105,5 milhões em reforços e tem um plantel avaliado em 357 milhões de euros. Não custa comprar, o que custa é saber comprar.

Histórico é do Benfica

A última vez que as duas equipas se defrontaram foi em agosto, na Supertaça, com vitória do Benfica (1-0), treinado por Bruno Lage. Recuando no tempo, o primeiro dérbi disputou-se no Campo da Quinta Nova, em Carcavelos, a 1 de dezembro de 1907. Jogava-se a terceira jornada do Campeonato de Lisboa e o Sporting venceu o Sport Lisboa (2-1), que no ano seguinte viria a juntar-se com o Grupo Sport Benfica (associação de ciclismo). A vitória dos leões foi obtida com um autogolo de Cosme Damião, que viria a ser fundador do Sport Lisboa e Benfica.

As duas equipas defrontaram-se 327 vezes em todas as competições (Campeonato de Portugal, Campeonato de Lisboa, Campeonato Nacional da 1.ª divisão, Taça de Portugal, Supertaça, Taça da Liga, Taça de Honra da AFL e Taça Império), com 140 vitórias do Benfica (43%), 116 triunfos do Sporting (35%) e 71 empates. Realizaram-se 155 jogos no Estádio da Luz, o Benfica venceu 85 (55%), o Sporting 33 (21%) e empataram 37 jogos. No total, o Benfica marcou 550 golos e o Sporting 498 golos. Fernando Peyroteo é o melhor marcador da história do dérbi com 48 golos em 45 jogos, o segundo melhor registo pertence a Eusébio com 27 golos em 29 partidas. A média de golos entre os dois clubes é de 3,2 golos/jogo.