A história é bem conhecida:em 1885, o czar Alexandre III encomendou à casa Fabergé uma joia especial para oferecer como presente de aniversário de casamento à sua mulher, Maria Feodorovna. Esta princesa dinamarquesa– Dagmar era o seu nome de batismo – tinha sido, na realidade, destinada ao seu irmão mais velho, Nicolau, mas a morte súbita deste levou Alexandre a ‘herdar’ a noiva – e o trono. A joia criada por Peter Carl Fabergé era digna da sumptuosidade dos Romanov: um requintado ovo de galinha que se abria e revelava uma surpresa no interior, uma gema em ouro, que também ela se abria, à maneira das bonecas russas. Lá dentro encontrava-se uma coroa de diamantes em miniatura e um pendente de rubi. A partir daí, criou-se a tradição de todos os anos, na Páscoa, o czar encomendar ao famoso joalheiro um novo ovo – cada um mais faustoso do que o anterior – para oferecer à mulher. Quando Alexandre III morreu, o seu filho, Nicolau II manteve a tradição até 1916, só terminada com a chegada da Revolução de Outubro.
Na passada terça-feira, um dos três únicos ovos imperiais ainda em mãos privadas (foram feitos 50, mas desconhece-se o paradeiro de sete deles), bateu um novo recorde em Londres. Feito de cristal a imitar gelo e (4500) diamantes, o Ovo de Inverno foi vendido por 22,9 milhões de libras (€26 millhões). No interior encontra-se um cesto com flores minuciosamente trabalhadas em quartzo e nefrite, que simbolizam o advento da primavera. Este objeto foi oferecido em 1913 por Nicolau II, o último czar de Rússia, à sua mãe, a imperatriz viúva. Na década de 1920, quando o recém-implantado regime estava sedento de liquidez e divisas, foram muitos os tesouros que as autoridades bolcheviques venderam ao estrangeiro. O Ovo de Inverno foi então adquirido por um marchand de Londres por 450 libras. Voltou a mudar de mãos em 1994, 2002 e agora. A identidade do novo proprietário não foi revelada.