2026, entre a inteligência artificial e a conexão humana 

A Inteligência emocional e a empatia serão habilidades cada vez mais valorizadas, servindo como ponto de equilíbrio para a IA.

2025 foi claramente o ano em que a inteligência artificial se democratizou. Desenhos, perguntas, conselhos para viagens, roteiros, escolhas de vinhos ou montagens, para tudo esta poderosa ferramenta foi chamada a dar “uma mãozinha”. Os mais jovens já não vivem sem ela e as empresas que não iniciaram o processo de integração irão invariavelmente ficar para trás. O assistente mais culto, inteligente e rápido veio para ficar e, no próximo ano, o caminho é para que se torne mais forte e poderoso, ao ponto de colocar em perigo diversos empregos. Se por um lado esta é uma viagem sem regresso, por outro as pessoas cada vez procuram mais experiências imersivas e relacionais, o domínio do orgânico e da autenticidade (estética do real imperfeito), a conexão humana, a hiperpersonalização do conteúdo e a cultura local.

Se este ano que corre a passos largos para o seu fim foi o marco que alterou o paradigma, 2026 será, tudo indica, um ano onde se procurará um equilíbrio entre a inovação tecnológica e a necessidade humana de ligações profundas, experiências partilhadas e comunidades de nicho. Na música assistiremos à sequência da explosão dos micro-géneros com a audiência a procurar sons únicos, fugindo de classificações rígidas e de caixas estanques. Os vídeos curtos e interativos serão ainda mais relevantes marcando posição nas redes sociais ao mesmo tempo que se aprofundará a aposta na realidade aumentada e virtual, seja em produtos ou jogos. O mercado promete assim reagir em força ao chamado “Social Commerce 3.0” que não é mais do que a compra direta nas redes sociais, com integração de lives, notas, comentários e check-out instantâneo. Se a automatização é uma inevitabilidade, o desafio agora será, sem dúvida a sua conjugação com a parte emocional, a empatia, o propósito e a cultura colaborativa.

É assustador? Em certa medida, sim. Acima de tudo porque esta explosão da IA puxa-nos ainda mais para uma dificuldade evidente de uma inteligência emocional deficitária que desagua em comportamentos dissonantes com os padrões da sociedade atual. Trocado por miúdos, a comunicação entre pessoas revela-se uma barreira muitas vezes complicada de ultrapassar, gerando maior stress, isolamento e solidão. Talvez por isso, a previsão é de que, paradoxalmente, a criatividade, a capacidade de trabalho em equipa, a empatia e essa inteligência emocional que referi, sejam características muito procuradas por “caça talentos”. A revista Forbes fala do soft retirement como uma novidade que irá permitir aos trabalhadores a possibilidade de irem gradualmente aliviando a sua carga de trabalho mantendo rendimento e relevância enquanto as empresas conseguem reter experiência e conhecimento.

Acredito por isso que, num mundo cada vez mais tecnológico e em que muitas das vezes é difícil distinguir o real do virtual, a nossa capacidade humana única será também o nosso maior “ouro”. A forma como nos conseguimos distinguir com naturalidade através dos nossos sentimentos, do amor, da tolerância e do quanto conseguimos ser reliables (confiáveis) será a porta para um futuro mais profícuo, pessoal ou profissionalmente. Essa é a minha aposta que funciona um pouco como um wishful thinking, ou seja, que numa era em que o digital assume um papel decisivo no nosso dia a dia, possa ser a originalidade, o humanismo e o altruísmo a prevalecer e que seja a intersecção dos nossos valores, a chave para o nosso sucesso e para a felicidade que todos procuramos. Para isso (ainda) não há algoritmos…

A descobrir:

Se existem zonas das cidades que se vão descaracterizando à conta da massificação do Turismo e da falta de cuidado de quem as gere, outras há que se conseguem adaptar e evoluir servindo de exemplo com ofertas muito interessantes que lhe emprestam uma nova vida. Já aqui falei da Praça das Flores em Lisboa, agora é a vez da Travessa do Monte na Graça. Uma estreita rua na zona histórica, com tasquinhas ótimas que nos trazem o melhor dos sabores portugueses, mas também bares onde locais e estrangeiros confraternizam criando uma excelente atmosfera. Para comer sugiro o restaurante “o João” e a seguir beba um copo no “Vino e Vero” ou no “La Lisboeta”.

Uma música para dançar no fim de semana:

Life feels so good – Napstea