Por razões académicas tive de revisitar a desastrosa decisão de Passos Coelho, em 2012, sobre a alteração da TSU. Instado pela troika para poupar 2,4 milhares de milhões de euros, o governo planeara cortar os subsídios de férias e de Natal a funcionários e pensionistas do Estado. Perante a rejeição liminar do Tribunal Constitucional, em 7 de setembro, o primeiro-ministro (PM) anunciou que o Governo iria subir a Taxa Social Única (TSU), de 34,75% dos salários brutos, para 36%. Agravando a parte a cargo dos trabalhadores de 11 para 18% e reduzindo a parte correspondente a empregadores de 23,75 para 18%. Em 15 de setembro, ocorreram manifestações gigantescas em Lisboa, Porto, Coimbra e outras cidades, apoiando a rejeição unânime de sindicatos e entidades patronais. O Conselho de Estado reuniu com a presença dos parceiros sociais, expressamente convocados pelo Presidente da República. Pedida a interrupção da sessão, Passos Coelho apresentou a retirada da proposta. Entradas de leão, saídas de sendeiro, diria o povo.
Os políticos que não estudam História tendem a esquecer depressa. Com o pacote laboral o Governo desistiu de ser social-democrata, deixando à sua tendência sindical e a escassas vozes como Silva Peneda a defesa da derradeira honra do convento. Na iminência de greve geral, Montenegro, tentou o arrefecimento, recebendo com afabilidade a UGT. O Ministério proponente apresentou alterações cosméticas, quase provocatórias. À volta do debate parlamentar, além da habitual politização da greve, o PM alardeou ambição: até final da legislatura, crescimento da economia a 4%, salário mínimo a 1600 e médio a 3000 euros e acusou a UGT de cair numa armadilha da CGTP. Onde os candidatos presidenciais aconselhavam cautela, o PM optava pelo desafio, com irónico sorriso. O número de sindicatos aderentes à greve aumentou e sondagens indicam forte maioria da população a favor dela.
Os comentadores rejubilam com a ‘sova’ que Marques Mendes teria aplicado a Cotrim de Figueiredo. Segundo o radar do Observador, em 8.12.25, os três candidatos da direita somariam 54,18%, os quatro da esquerda (incluindo Seguro) teriam 23,63% e o único independente, Gouveia e Melo 19,45%. Fronteiras fluidas, certamente. Seguro apenas recolhe metade do eleitorado do PS; Cotrim divide com Marques Mendes o eleitorado jovem e liberal. Marques Mendes recebe umas franjas do PS. Gouveia e Melo tende a pescar em todas as áreas, exceto na já fidelizada pelo Chega. Convém não esquecer que estamos a quarenta dias das presidenciais e que o eleitorado nacional gosta de infligir e acolher surpresas.
O Natal cerca-nos, com iluminações, publicidades luxuosas, comidas finas para a classe média e alta, vinhos ao dobro do preço de há dois anos, os restos do bónus pensionário e dos aumentos já digeridos. A seleção de todos nós prossegue a sua carreira triunfal. A eletricidade e os combustíveis vão baixar. A Ucrânia está longe e Gaza já se foi. Certamente, ‘vai correr tudo bem’, mesmo que com gripe antecipada e urgências atulhadas. O estilo Trump veio com o Natal, como o circo.
Seria bom que tudo corresse assim! Infelizmente, apesar da sedutora visão do The Economist, a pobreza aumenta, a exploração dos imigrantes é uma chaga aberta, as escolas carecem de professores e o SNS de médicos, as exportações minguam, há políticos, demagogos ou histriónicos que mentem com todos os dentes, a Europa, perdida de tonta, não sabe que fazer. Nada há de mais fugaz que um pastel de nata: sabe bem, mas perde a graça de um dia para o outro, e contribui para a obesidade. Trump e Putin jogam as cartas sobre o dorso de Zelensky. Eis por que a decisão de 18 de janeiro é tão importante. Mais do mesmo, não, por favor!