SEXTA, 5
A estratégia de segurança nacional dos EUA
A administração Trump publicou a estratégia de segurança nacional. Ao contrário do que muitos disseram, não é uma estratégia isolacionista. Pelo contrário, defende uma política externa bastante ativa e intervencionista. Até pretende que os Estados Unidos ajudem a mudar governos nos países europeus. Os governos da Rússia, da China, do Irão e da Coreia do Norte é que não precisam de mudar.
Também não é uma estratégia apologista de esferas de influência para as grandes potências. Esse direito é exclusivo dos Estados Unidos para a sua ‘esfera de influência’ no continente americano, recuperando a Doutrina Monroe, e acrescentado o ‘Corolário Trump’. Mas a China não tem direito a uma esfera de influência na Ásia, nem a Rússia na Europa. Os Estados pretendem continuar a influenciar o que se passa na Ásia e na Europa.
A grande ruptura da nova estratégia de segurança norte-americana é a oposição à União Europeia. Marca um corte com a tradição diplomática dos Estados Unidos desde 1945. A administração Trump quer um enorme Brexit para toda a Europa. Não acontecerá.
SÁBADO, 6
Programa do Governo
Todos os candidatos presidenciais afirmam que o programa do actual Governo não mencionava a necessidade de uma reforma laboral, e que esta reforma apareceu subitamente. Vejamos o que está escrito no programa do governo: ‘Metas para o sector do trabalho. Proceder à revisão da legislação laboral, desejavelmente no contexto da Concertação Social… melhorar a adequação do regime legal aos desafios do trabalho na era digital, equilibrar a proteção dos trabalhadores com uma maior flexibilidade dos regimes laborais, que é essencial para aumentar a produtividade e competitividade das empresas’.
Mas no programa eleitoral da AD, no capítulo sobre ‘uma economia do futuro’, também havia uma secção sobre ‘reformas do mercado de trabalho: mais produtividade, mais rendimentos’.
Desde a campanha eleitoral e desde a discussão do programa do Executivo no Parlamento que todos sabiam que o Governo queria reformar a lei laboral. Os candidatos presidenciais podem ser contra, não podem é ser demagogos e dizer que o Governo escondeu a reforma laboral. Não escondeu não. Discutiu-a no local certo: no Parlamento. A verdade é que a revisão da lei laboral está a ser vítima da campanha eleitoral.
DOMINGO, 7
Cotrim vs. Marques Mendes
Cotrim perdeu na questão das pressões para a sua desistência. Ou não dizia nada. Ou dizia tudo. Em certas questões, não se pode ficar a meio do caminho.
Mas nas questões económicas, Cotrim esteve muito melhor. Sabe muito mais de economia do que Marques Mendes. Tem experiência de gestor e conhece as empresas, ao contrário de Marques Mendes. Bem sei que estamos a eleger o PR e não a escolher o Prémio Nobel da Economia, mas estou convencido que em Belém Cotrim seria uma óptima ajuda para o governo implementar rupturas económicas que Portugal precisa. Duvido que nessa matéria Marques Mendes ajude o Governo.
Aliás, Marques Mendes repete muitas vezes a palavra ambição mas, por exemplo, é critico da reforma laboral do Governo. Disse mesmo que o bom desempenho da economia e o baixo desemprego tornam a reforma desnecessária. Marques Mendes mostra, assim, que na verdade não é ambicioso. É precisamente quando as coisas correm bem que se deve fazer reformas. Em crise, é muito mais difícil e penoso fazer reformas. Marques Mendes tem a atitude típica dos preguiçosos. Não fazer nada quando tudo está a correr bem; e depois tentar fazer alguma coisa quando está aflito.
SEGUNDA, 8
A ‘paz’ na Ucrânia
A administração Trump continua a tentar impor uma paz injusta para a Ucrânia. Trump está a cometer dois erros. Em primeiro lugar, decidiu colocar a pressão sobre o lado mais fraco, a Ucrânia. A tentativa de fazer a paz não é um erro. Mas a táctica está errada. Se os Estados Unidos não colocarem pressão sobre a Rússia, ninguém o faz. E a Rússia assim não faz concessões. Só aceitará uma ‘paz’ que seja uma capitulação da Ucrânia.
Em segundo lugar, Trump acredita que Putin se contenta com todo o Dombass. Está enganado. Putin quer derrubar Zelensky e controlar a Ucrânia. Não aceita uma Ucrânia independente e soberana. Não nos podemos esquecer que a guerra, em Fevereiro de 2022, começou com um ataque terrestre a Kyiv para derrubar o governo ucraniano. Os russos falharam, mas tentaram controlar a Ucrânia.
O controlo da Ucrânia é uma velha ambição de Putin, pelo menos desde a ‘revolução laranja’ na Ucrânia, no fim de 2004 e início de 2005. Até 2014, a estratégia de Moscovo foi a tentativa de colocar governos pró-russos em Kyiv. Depois, desde 2014 até 2022, foi através da fragmentação do território ucraniano, com a invasão da Crimeia e do Dombass. Finalmente, desde Fevereiro de 2022, através da guerra contra todo o território ucraniano. Enquanto não controlar a Ucrânia, qualquer ‘paz’, para Putin, será apenas uma trégua antes da próxima fase da guerra.
TERÇA, 9
António José Seguro vs. Gouveia e Melo
António José Seguro esteve bem, foi combativo e incisivo. Sabia que seria um debate fundamental para a sua campanha, visto que neste momento Gouveia e Melo é o seu maior concorrente pelo voto socialista. Foi, aliás, divertido ver Seguro e Gouveia e Melo competirem para ver quem era mais ‘Soarista’.
O facto de Gouveia e Melo estar a competir pelo voto socialista mostra o maior erro da sua campanha. Devia ter feito uma campanha assente em valores e não em ideologias. E não era difícil porque é uma eleição presidencial. Gouveia e Melo deveria ter feito uma campanha como um homem de valores, seriedade, honestidade, competência profissional, patriotismo, decência, etc. Muitos portugueses querem um homem de valores em Belém. Mas Gouveia e Melo acabou fechado num canto ideológico, socialismo democrático, do qual não está a conseguir sair.
QUARTA, 10
O debate entre António Filipe e Catarina Martins
Dois candidatos a Belém passaram um debate a atacar o Governo (nos minutos finais, também atacaram Trump). Será que os analistas vão criticar o entendimento errado do António e da Catarina do papel do Presidente da República, tal como fazem ao André Ventura?
A desonestidade dos dois a discutir a guerra da Ucrânia e o papel da Europa foi inacreditável. Mostraram bem que a verdade e a mentira para as esquerdas radicais não passam de pormenores, e são usadas de acordo com as conveniências do momento. António Filipe fez uma afirmação delirante: «Foi Boris Johnson que impediu a paz no início da guerra». Não senhor candidato comunista, Putin nunca quis a paz até hoje. Foi ele que começou a guerra, e tem sido ele a impedir sempre a paz.
Catarina Martins ataca a Europa por andar a reboque de Trump. Bom, nos últimos meses, o papel da Europa tem sido ajudar Zelensky a alterar os planos de paz apresentados por Trump. A antiga líder bloquista não vê a realidade, vê o que lhe convém.
Depois, claro, não faltaram os ataques ao ‘neo-liberalismo’ (até Seguro é um ‘neo-liberal’), os ataques ao ‘fascismo’, e a defesa do ‘socialismo de Abril’. Só faltou mesmo foi a televisão a preto e branco.