Na rua

Agora, entramos em período festivo, as famílias vão estar juntas e estou convicto que, para lá do bacalhau, em cima da mesa os temas de conversa vão ser futebol/arbitragens e o sentido de voto

Uma campanha eleitoral é um longo processo, contínuo, é uma soma de diversas peças como um puzzle que vai criando as percepções dos eleitores no sentido do voto que se manifestará em Janeiro nas presidenciais. Os debates tiveram boa audiência, os comentários pós-duelos também, mas terminaram agora. Não são decisivos mas podem influenciar, sobretudo se graves erros fossem cometidos. E tal não aconteceu por parte de nenhum candidato. 

É certo que estiveram em cima da mesa uma imensa plêiade de temas, alguns que nem são da responsabilidade de um Presidente da República, porém, também houve questões de carácter e dossiers sobre o passado. Porque o maior inimigo de um político é a hemeroteca. Isto é, o baú, o arquivo onde residem histórias e afirmações proferidas anteriormente. 

Um debate é um combate (de ideias também, naturalmente) onde se mata ou se morre e onde os profissionais da matéria tentam ganhar sem dó nem piedade. Pois como dizia o ex-líder chinês, Deng Xiao Ping, «não importa se o gato é cinzento ou branco, o que interessa é que cace ratos».

Nestes 28 confrontos, o candidato que vinha a perder fôlego porque não é um técnico do assunto era Gouveia e Melo. Contudo, a exibição avassaladora, à André Ventura, de rolo compressor afinado contra Marques Mendes levantou a moral aos seus apoiantes e fez perguntar onde andava este almirante. Não foi desespero como ao tentar vitimizar-se o ex-líder do PSD assinalou, foi confiança e boa preparação para vencer o debate mais importante deste processo.

Agora, entramos em período festivo, as famílias vão estar juntas e estou convicto que, para lá do bacalhau, em cima da mesa os temas de conversa vão ser futebol/arbitragens e o sentido de voto.  Os jovens estão a encarreirar no sentido de Ventura e Cotrim mas o eleitorado mais velho, aquele que vota sempre, deve estar baralhado e vai engrossar o exército de indecisos. Há muitas alternativas porque, como reforcei deste o ponto de partida para surpresa de muitos, esta será uma corrida a cinco, algo que a sondagem da Pitagórica para a TVI/CNN demonstrou cristalinamente.

Passamos então para a fase da campanha oficial na rua. Quem tem máquina partidária ganha balanço e aqui também o almirante que vem de fora da política parte em desvantagem. PSD e PS vão dar tudo, Chega tem uma máquina fidelizada de suporte a André Ventura (para lá da fortaleza das redes sociais) e Cotrim tem feito grande campanha, moderna e dinâmica, assente no digital. A minha intuição não me diz claramente ainda o que vai acontecer. Só tenho a certeza absoluta que Catarina Martins, António Filipe e Jorge Pinto (se não desistirem antes para fortalecer o voto útil em António José Seguro) não estarão na segunda volta. De resto é tudo imponderável e imprevisível. Que fascinante campanha eleitoral.