A 22 de janeiro, três dias antes de os gregos entregarem pela primeira vez o poder ao Syriza, Merkel entrava na campanha eleitoral grega avisando que o país tinha «de assumir responsabilidades pelas suas dívidas». Como os executores helénicos da sua receita austera, saiu derrotada. Alexis Tsipras chegava ao poder prometendo «deixar para trás a desastrosa austeridade».
Merkel manteve-se irredutível na recusa em aceitar o corte da dívida e manteve a intransigência meses mais tarde, ao insistir na manutenção dos helénicos na Zona Euro, quando o seu ministro das Finanças, Wolfgang Schauble, já desistira de disciplinar o seu irreverente homólogo grego, Yanis Varoufakis. A corda foi puxada até Varoufakis ser afastado e Tsipras levado a assinar novo memorando – mesmo depois do claro «oxi» (’não’) dado pelos gregos nas urnas.
Com Tsipras domado, outro problema chegava da Grécia (e não só). Foi pelo sudeste europeu que entrou no continente a grande maioria dos refugiados que por cá se abrigam dos conflitos que afetam os seus países. E Merkel quis liderar uma Europa humanista, dando o exemplo ao prescindir da regra de Dublin – que lhe permitiria devolver os imigrantes ao país europeu que registara a sua entrada no espaço Schengen. Em setembro, quando a pressão das entradas diárias já se refletia – fosse nos ataques da extrema-direita a centros de refugiados, nas sondagens ou na contestação interna que crescia dentro da ‘sua’ CDU –, a chanceler ainda mostrava alegria por ver a Alemanha como «um país que as pessoas associam à esperança, algo muito valioso se observada a História».
Até que o reconhecimento da derrota chegou no penúltimo domingo do ano. Pela voz do ministro do Interior, a Alemanha reabriu o controlo fronteiriço, voltou a aplicar a regra de Dublin e anunciou uma «redução drástica» no número de asilos. Os seus detratores foram rápidos a reagir: «Ao fechar a fronteira, a Alemanha mostra ter percebido a escala do seu erro», disse o líder dos nacionalistas britânicos, Nigel Farage. Um «erro que nos vai perseguir por muito muito tempo», lamentou Horst Seehofer, líder da CSU, o partido irmão da CDU na região da Bavária.