O ex-chefe do Governo falava na RTP durante o programa semanal de comentário político, quando questionado sobre o anúncio do primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, da saída de Portugal do actual programa de resgate financeiro sem recorrer a qualquer programa cautelar.
“Fiquei naturalmente satisfeito porque é melhor viver sem do que com programa cautelar. Para quem, como eu, sempre defendeu que Portugal nunca deveria ter pedido ajuda externa, fico naturalmente satisfeito por ver o país sem troika”, disse José Sócrates.
No entanto, o antigo líder do Governo socialista considerou que a declaração do primeiro-ministro ao país “é uma floresta de enganos e ilusões” que aproveitou para “desmistificar”.
“Pedro Passos Coelho diz que não foi ele que assinou o resgate, mas foi ele que o provocou. Ele causou uma crise política, dando um grande contributo para que Portugal pedisse ajuda externa”, referiu.
José Sócrates afirmou que a assinatura do Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC) IV — chumbado com a união de toda a oposição no parlamento – garantiria, na altura, a Portugal, o apoio do Banco Central Europeu, e que a recusa de Passos Coelho provocou uma crise política.
“Quando o doutor Passos Coelhos era líder do PSD tudo fez para que pedíssemos ajuda externa porque tinha pressa de chegar ao poder. Achava que esse pedido punha em causa o Governo, provocaria eleições e uma substituição do Governo”, sustentou o antigo líder socialista.
Nessa linha, considerou “absolutamente enganadora a versão histórica que o primeiro-ministro tem dado, segundo a qual foi o anterior Governo que atirou Portugal para a ajuda externa”.
“Eu recuso essa visão, foi ele que provocou uma crise política ao recusar o PEC IV. Teria sido melhor assiná-lo em vez de pedir assistência”, reafirmou, garantindo que o perigo de bancarrota não existia.
A decisão do Governo será formalmente comunicada aos seus parceiros da zona euro na segunda-feira, numa reunião do Eurogrupo, a última durante a vigência do resgate iniciado em 2011, na qual Portugal estará representado pela ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque.
Lusa/SOL