Organização denuncia ‘jogos viciados’ na II Liga

A Federbet, organização de casas de apostas europeias, apresentou hoje no Parlamento Europeu, em Bruxelas, o seu relatório sobre “jogos combinados” na época 2013/14, no qual constam três encontros da II Liga portuguesa de futebol, todos envolvendo a Oliveirense.

Apontando que "há outros casos" suspeitos verificados na recta final da II Liga, a organização, que monitoriza os fluxos de capitais e movimentos anormais das probabilidades, considera que foram "viciados", sem qualquer sombra de dúvida, os jogos Oliveirense-Benfica B (1-2), Trofense-Oliveirense (3-0) e Portimonense-Oliveirense (1-0), disputados respectivamente a 5 de Abril, 27 de Abril e 11 de Maio.

Referindo-se em concreto aos três jogos — e sublinhando que estes são apenas três exemplos, já que "há outros jogos estranhos em Portugal, sempre na II Liga" -, o secretário-geral da Federbet, Francesco Baranca, constatou que envolvem todos a Oliveirense, que foi sempre derrotada, pelo que é legítimo pensar que "talvez" os jogadores das outras três equipas não tivessem conhecimento.

Insistindo que as partidas em questão "não deixam dúvidas" de que foram alvo de manipulação, pois os movimentos de capitais e a tendência das probabilidades foram anormais e sem qualquer lógica, o responsável precisou que nos jogos Oliveirense-Benfica B e Trofense-Oliveirense havia "muito, muito dinheiro" que mostrava claramente que as partidas estavam destinadas a terminar com um resultado "over", ou seja, que seriam marcados pelo menos três golos (independentemente de quem os marca), e assim aconteceu, com os resultados finais de 1-2 e 3-0.

Quanto à partida no Algarve, o grande fluxo de apostas apontava para uma vitória do Portimonense sobre a Oliveirense, tendo a partida terminado com o resultado de 1-0 para os anfitriões.

Francesco Baranca, que ressalvou que muitas vezes os próprios clubes são alheios ao fenómeno e acabam mesmo por ser vítimas, sublinhou que a organização não pode fazer mais senão sinalizar e alertar para jogos sob suspeita, em função da análise exaustiva que faz de movimentações "estranhas" no mundo das apostas, cabendo às autoridades nacionais, organismos com tutela sobre as competições e clubes actuar.

Os três jogos da II Liga portuguesa apontados no relatório fazem parte de 510 encontros de futebol europeus da temporada 2013/14 sobre os quais recaem "fortes suspeitas" de resultados combinados, sendo que, destes, 110 não deixam "sombra de dúvidas", segundo o organismo que analisa os fluxos financeiros ligados às apostas.

O secretário-geral da organização de casas de apostas europeias — que estabeleceu um protocolo com a Liga espanhola de futebol BBVA, após o qual, disse, deixou de haver movimentos suspeitos nos encontros dos campeonatos espanhóis, opinião corroborada por um responsável da Liga espanhola presente na conferência de imprensa -, sublinhou que é "muito, muito fácil" por fim a um fenómeno que classificou como um "vírus" que ameaça matar o futebol: a prevenção.

Segundo Francesco Baranca, basta monitorizar os movimentos de capitais e de probabilidades nas apostas em torno das partidas e, ao detectar factos estranhos, comunicar imediatamente aos clubes, e estes aos jogadores, de que há suspeitas e de que o encontro será vigiado com particular atenção.

O responsável sustentou que, com o foco posto em si, um jogador deixará obviamente de estar tão disposto a cometer erros "combinados", que actualmente passam mais despercebidos, pois, sublinhou, o fenómeno dos jogos viciados atinge cada vez mais campeonatos ou de pouca expressão ou de divisões inferiores dos países com maior tradição, já que não há tantas câmaras nem testemunhas.

Em termos gerais, Baranca disse que os maiores problemas na Europa encontram-se nos países do Leste, destacando os bálticos, mas também Bulgária e Chipre, entre outros, afirmando que há muitos encontros amigáveis que têm lugar apenas para servir as apostas viciadas. 

De acordo com a Federbet, é mais urgente que nunca pôr um travão no fenómeno, que está a aumentar devido ao crescimento das apostas na Internet e à ausência de penalização eficaz dos prevaricadores.

Nesse contexto, saudou o facto de a FIFA já ter anunciado que irá monitorizar cuidadosamente cada partida do Mundial de futebol do Brasil, no qual participarão jogadores, observou, envolvidos em vários encontros "viciados" que foram detectados nas diferentes competições nacionais ao longo da temporada 2013/14.

Em Portugal, sugeriu, um bom arranque para combater o fenómeno "é começar a falar dele", como aconteceu em Espanha há poucos anos.

Lusa/SOL