A cidade dos mendigos

O cenário alterou-se profundamente nos últimos anos. Durante o mês de Agosto, Lisboa já não fica apática e deserta como uma cidade espanhola à hora da siesta. Há animação, muita gente nas ruas e clientela nos restaurantes.

Este fenómeno relativamente recente deve-se, em parte, ao facto de muitos portugueses já não poderem ir de férias para fora como noutros tempos. Por outro lado, são cada vez mais os estrangeiros que afluem à capital nesta época. Graças a artigos elogiosos em meios de grande prestígio e difusão como o New York Times – mas graças também à instabilidade que grassa no Norte de África, como me chamou a atenção um amigo – Lisboa tornou-se uma espécie de coqueluche do turismo, uma cidade da moda.

Esta injecção de visitantes estrangeiros tem beneficiado a hotelaria e o comércio. Mas também tem tido um efeito perverso:atrai cada vez mais figuras oportunistas que querem ‘participar na festa’.

Diria que temos hoje em Lisboa dois tipos de pedintes. Em primeiro lugar, os ‘genuínos’: sem-abrigo ou pessoas que foram apanhadas pela crise, desempregados ou pensionistas que vivem no limiar da pobreza e se vêem obrigados, muitas vezes contra a sua vontade, a pedir. Não têm outra saída.

O segundo tipo é constituído pelos tais ‘oportunistas’, que vão para onde sentem que há dinheiro e fazem da mendicidade o seu modo de vida. Muitas vezes começam por solicitar apenas um minuto da nossa atenção. Dizem que representam alguma instituição ou associação de caridade e até ostentam um cartão pendurado numa fita ao pescoço. Mas o que prova isso? Apenas que têm um cartão ao pescoço, nada mais…

No final do tal minuto em que contam a sua história, pedem um donativo. Garantem que trabalham em prol de uma causa nobre, mas penso que só querem ajudar-se a si próprios.

Para terminar em beleza, a cereja no topo do bolo: refiro-me às personagens sinistras que oferecem droga aos passantes, em plena luz do dia e nos locais mais movimentados. Será necessário dizer que figuras destas não fazem falta nenhuma a Lisboa? Dão uma péssima imagem da cidade e, pior do que isso, mancham a reputação dos portugueses. 

jose.c.saraiva@sol.pt