As férias ideais sem a família por perto

Para Carla Travessa, funcionária pública e mãe de um rapaz de oito anos, “três meses de férias seguidos é exagerado, sobretudo porque cria nas crianças e nos jovens uma sensação de liberdade interminável”. Chamando a atenção para a diferença entre o número de dias de férias dos pais e o dos filhos, Carla defende uma…

As férias ideais sem a família por perto

Já para Cristina Henriques, mãe orgulhosa de duas filhas, de seis e 10 anos, as férias ideais passam por “juntar o máximo de dias para gozar com elas, encontrar uma ocupação que inclua actividades desportivas e praia, recorrendo a ATL e reservar alguns dias para os avós”. Cristina considera que as “crianças precisam de férias e de descansar, após um ano de carga escolar muito pesada”, mas sabe que “sem possibilidades económicas, muitos pais têm de recorrer a ATL escolares, por vezes pouco apelativos”.

Se o orçamento parece ser um factor fundamental na escolha das férias dos filhos, já a oferta é vasta e cada vez mais variada. “Existem hoje programas para todos os gostos, incluindo desporto, cultura, praia, com ou sem dormida, em Portugal ou no estrangeiro, entre entidades privadas, públicas e associações”, garante Carla Travessa. “O mais difícil é conciliar actividades interessantes com a bolsa dos pais”. Cristina Henriques é da mesma opinião: “As maiores dificuldades são a nível financeiro, porque as opções mais interessantes têm preços elevados, sobretudo quando incluem transportes”.

Férias ideais vs férias possíveis

As férias ideais para a estrutura mental de uma criança passam pelo equilíbrio. Bruno Gomes, psicólogo, defende que “o ideal será a criança poder passar tempo de qualidade com os pais, a família e os amigos, podendo existir espaço também para novas descobertas e novas amizades”. Actividades conjuntas, como ir a museus ou simplesmente passear sem pressa, são das melhores a ter em tempo de férias com os filhos. “As férias não são das crianças nem dos adultos”, afirma Bruno Gomes. “Quanto mais nos divertirmos em família, melhor será a dinâmica das férias, preferencialmente possibilitando novas experiências aos nossos filhos, novos conhecimentos e muito movimento, evitando o uso excessivo de equipamentos electrónicos”.

O especialista defende a família como “porto seguro” dos mais novos em tempo de férias. No entanto, cada caso é um caso: “Cada família deve procurar ver o que é melhor para si. Muitas vezes, mais do que o dinheiro implicado nas u actividades, importa o quanto nos entregamos na relação com as crianças. E é positivo que, nas férias, dentro dos limites estabelecidos pelos pais, a criança possa participar na tomada de decisões”.

Actividades radicais

Tiago Lima é um habitué de colónias de férias. Aos 16 anos, já fez dezenas. Este ano optou pelo Verão Radical da Junta de Freguesia de Benfica, uma colónia de férias reservada a residentes ou frequentadores das escolas da freguesia e que, por 100 euros, ocupa jovens entre os 13 e os 17 anos durante duas semanas, com alimentação incluída. “Normalmente, faço sempre colónias enquanto os meus pais não entram de férias, mas acho giro para conhecer pessoas novas e aprender mais sobre o mundo”.

À imagem de anos anteriores, o Verão Radical da Junta de Freguesia de Benfica tem uma passagem obrigatória pelo Parque Municipal do Cabeço de Montachique, em Loures, uma área com mais de 30 hectares, explorada por uma empresa de actividades radicais com tradições em colónias de férias. Para Sério Moreira, coordenador do Verão Radical da junta, “os dois dias que passamos neste parque incluem o campismo e são muito engraçados para estes jovens, contribuindo para que interajam uns com os outros e entrem no espírito das férias”. Além do campismo, os dois dias incluem actividades como paintball, slide, jogos tradicionais e arborismo. “O feedback dos jovens tem sido extremamente positivo, a única coisa difícil foi fazer com que conseguissem dormir”, graceja Sérgio Moreira. Além dos dias passados em Montachique, a colónia proporciona idas à praia, à piscina e actividades como bowling ou espeleologia. 

Férias para todos os gostos

As necessidades dos pais durante este período foram encontrando resposta no nascimento de diversas empresas de ocupação de tempos livres, que disponibilizam as mais variadas actividades. A Azimute Radical é uma delas. No mercado há mais de 13 anos, explora o Parque Municipal do Cabeço de Montachique e recebe milhares de crianças, de todas as idades, entre o final de Julho e meados de Setembro. Para Vasco Estevão, responsável máximo da empresa, o segredo foi criar “uma rede de parcerias com entidades públicas e privadas para chegar a todo o tipo de público. Hoje temos uma oferta que vai das colónias abertas – de uma ou duas semanas – aos campos de férias fechados”. Entre as várias actividades que a empresa proporciona destacam-se o arborismo, escalada, rapel, paintball, canoagem, orientação, pedipaper, jogos tradicionais, BTT e caça ao tesouro. A procura por parte de escolas, juntas de freguesia, câmaras municipais, empresas e particulares é tão grande que a Azimute Radical chega a ter mais de 2.000 crianças por semana, em actividades que oscilam entre os dois e os 20 euros por pessoa.

A UPAJE – União para a Acção Cultural e Juvenil Educativa – dispõe de uma oferta de campos de férias para crianças e jovens dos seis aos 18 anos, em regime residencial e não residencial (as crianças dormem em casa), e aposta nas visitas a praias fluviais, piscinas naturais e aldeias, através de jogos de orientação nocturnos e diurnos. Com actividades que vão do tiro com arco aos karts, passando pela escalada e idas ao cinema, a UPAJE leva as crianças ainda a visitar os estádios do Sporting e do Benfica, bem como museus e complexos aquáticos em vários pontos do país. “Em média, costumamos ter 50 crianças por semana, em Campos de Férias Residenciais, e 40 em Campos Não Residenciais, sendo que algumas das nossas actividades chegam a esgotar, principalmente no mês de Julho”, revela Vera Fernandes, responsável da UPAJE. Os valores variam entre os 230 euros semanais para um Campo Residencial e os 160 semanais num Campo Não Residencial, incluindo transporte, alimentação e os seguros respectivos. “Sendo a UPAJE uma associação sem fins lucrativos, trabalhamos com margens reduzidas. Mesmo assim compreendemos que este possa ser um custo difícil de suportar”, reconhece Vera Fernandes. “Temos programas especiais a um valor mais baixo”.

O Tempo de Aventura, por seu turno, disponibiliza uma oferta de campos de férias de Verão, em regime residencial, na zona do Cadaval, perto de Óbidos, e Paialvo. Os turnos têm a duração de uma ou duas semanas, incluindo actividades como laser-tag, stand up paddle, zarabatana, fisgaball, bigball, orientação, gincana da aldeia, piscina, danças, teatro, música, karaoke e até noites na discoteca. Destinados a crianças entre os seis e os 17 anos, os campos de férias do Tempo de Aventura “estão bastante preenchidos entre Julho e Agosto”, revela Henrique Cabral, director de campos de férias da empresa. Os valores rondam os 265 euros semanais e os 490 euros por quinzena.

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