Estarão os filmes para adultos a substituir a educação sexual?

A pergunta é colocada pelo El País e aplica-se à realidade espanhola, mas a dúvida é partilhada pelos pais portugueses. Perante a ausência de aulas de educação sexual em todas as escolas, será que a pornografia está a preencher o vazio entre os adolescentes? 

Uma mãe fica em choque quando descobre que a filha de 15 anos já depila as partes íntimas. E mais surpreendida fica quando ouve a justificação: “Os meninos acham estranho que não estejamos completamente depiladas”. Este é apenas um episódio que o jornal espanhol aponta como um exemplo da influência que a pornografia tem no desenvolvimento da sexualidade adolescente.

Em causa está o facto de, em Espanha, a educação sexual não ser obrigatória, ficando ao critério de cada estabelecimento e de cada encarregado de educação. Em resultado, muitos adolescentes procuram na internet as respostas às dúvidas que não vêem esclarecidas em casa nem na escola. Mais de metade dos alunos espanhóis dos 14 aos 17 anos acede regularmente a conteúdos pornográficos na web. E uma crescente maioria utiliza aplicações de chat como o popular Whatsapp que, classificado para maiores de 16 anos, é também um meio de difusão de fotos e vídeos de sexo explícito.

Juan Madrid, um responsável de pediatria da Câmara de Madrid, aponta o impacto da pornografia na formação (e deformação) da identidade sexual dos adolescentes. “Se te acostumas a excitar-te vendo determinados vídeos, estás a condicionar as tuas preferências”, afirma, citado pelo El País.

Outro problema é a criação de expectativas irrealistas face ao sexo. “Os rapazes vêem porno e deduzem que a sua vida sexual vai ser muito parecida”, afirma Noemí Sánchez, professora de educação sexual em vários colégios de Alcalá de Henares.

Por fim, há quem responsabilize a difusão da pornografia entre os adolescentes pelo aumento de atitudes sexistas e violentas. De 2010 para 2013, subiu de 14% para 23% a percentagem de raparigas que se dizem sujeitas a insultos de índole sexual por parte de rapazes. Juan Madrid alerta ainda para o facto dos smartphones e das respectivas aplicações permitirem um controlo cada vez mais abusivo dos parceiros numa relação, sendo as meninas o elo tradicionalmente mais fraco na equação. A coacção sexual aumenta e torna-se ao mesmo tempo mais sofisticada.

Os estudos mostram que a igualdade entre sexos é uma noção cada vez mais proclamada pelos adolescentes espanhóis, mas que a teoria não passa à prática no contexto de uma relação. “A violência de género está a começar a ficar na moda em determinados meios”, é dito num relatório recente da Comunidade de Madrid. “Ser ‘fixe’ está cada vez mais vinculado a ser agressivo com ela”, lê-se. Um possível efeito, dizem, da tradicional agressividade entre homem e mulher nos filmes pornográficos.

Em Portugal, a educação sexual é obrigatória em todas as escolas do ensino público, mas não existe uma disciplina específica. Os conteúdos são transmitidos por vários professores.