O Hobbit: Adeus à Terra Média

Foram 474 minutos para contar uma história que originalmente não chega a 300 páginas. A trilogia baseada em O Hobbit (Uma Viagem Inesperada, A Desolação de Smaug e este A Batalha dos Cinco Exércitos) chega ao fim, para desconsolo dos fãs e desdém dos críticos. O que ganhou ou perdeu o mundo com esta adaptação…

Em primeiro lugar, a aparente impossibilidade de o universo de J.R.R. Tolkien voltar ao grande ecrã. O filho Christopher, que detém os direitos da obra, quebrou o silêncio de décadas em 2012, ao dar uma entrevista ao Le Monde. Na ocasião, o filho que se dedicou a compilar e editar o material do pai (desde O Silmarillion, em 1977, até à tradução em prosa para inglês moderno de Beowulf, uma epopeia medieval, editado em Maio deste ano) criticou a «mercantilização» da obra, que «reduziu a nada a estética e o impacto filosófico da criação». Depois, essa mesma indústria cinematográfica tão desprezada por Christopher alcançou somas tão astronómicas quanto o tesouro que o dragão Smaug guarda na Montanha Solitária: a trilogia O Senhor dos Anéis terá facturado três mil milhões de dólares desde 2001, ao passo que os dois primeiros filmes da trilogia de O Hobbit somaram 1,98 mil milhões. A este valor há que subtrair os custos de produção, que derraparam até aos 745 milhões de dólares (números da Box Office Mojo). 

Por fim, há que referir a utilização de câmaras que captaram as imagens em 48 frames por segundo (ao invés das tradicionais 24), uma tecnologia que foi alvo de muitas críticas no primeiro filme. Mas o realizador neozelandês defende-se. Em conferência de imprensa que precedeu a antestreia, lembrou que os realizadores têm como missão tentar tirar os espectadores de casa e levá-los ao cinema, usando para tal tecnologia. «Como serão os filmes daqui por cem anos? Podemos garantir que não terão 24 frames por segundo nem serão em duas dimensões», disse. 

E o filme agora estreado? Já habituados à fórmula de Peter Jackson, seria difícil a surpresa – talvez a maior resida no facto de esta versão ter menos de 2h30, mas já foi revelado que surgirá outra com mais meia hora. A acção começa de imediato, recordando o espectador que a Cidade do Lago está à mercê da ira do dragão, com o arqueiro Bard (Luke Evans) aprisionado, tal como o mago Gandalf (Ian McKellen) em Dol Guldur. 

Em breves minutos Smaug passa à história e o mal do dragão (obsessão com a posse do tesouro, em particular com a pedra Arken) passa para o rei dos anões, Thorin Escudo-de-Carvalho (Richard Armitage), que tomou a Montanha Solitária. É para aí que os homens da Cidade do Lago, os elfos e os orcs se dirigem; os primeiros e segundos querem negociar o seu quinhão do tesouro, os orcs e os wargs querem invadir, e tudo acaba na batalha que dá o nome à película. É aqui que encontramos a melhor cena, a que opõe Thorin ao orc-mor, Azog, numa camada de gelo junto a uma queda de água congelada. Mas a chegada do quinto exército, e a partida, no final, de Bilbo (Martin Freeman, que aqui tem um papel secundário) dá-se de forma apressada e atabalhoada. No fim de contas, é bem melhor que o início da trilogia, mas fica a dever à Desolação de Smaug.

O Hobbit – A batalha dos cinco exércitos

De Peter Jackson, com Ian McKellen, Martin Freeman, Richard Armitage 

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