A verdade dos amigos de Sócrates

A prisão de José Sócrates tem provocado um verdadeiro ataque à Justiça, mas por razões completamente opostas às que eram comuns. Até ao dia em que o antigo primeiro-ministro foi detido, muito se ouvia e lia sobre a ineficácia da dita Justiça. Os poderosos conseguiam, regra geral, escapar-se por entre recursos ou manhas engendradas pela…

É perfeitamente compreensível e aceitável que os amigos e familiares de José Sócrates acreditem na sua inocência, pois até agora não consta que tenha sido condenado em tribunal. Mas se aos amigos e familiares se pede solidariedade, a quem desempenha ou desempenhou cargos políticos exige-se alguma contenção nas críticas aos responsáveis do processo. As provas conhecidas, nomeadamente as razões da detenção, demonstram claramente que não existe qualquer perseguição política.

Se excluirmos Mário Soares, que tem tido um comportamento lamentável, chegando mesmo a colocar em causa o Estado de Direito, não se percebe como tantos outros se querem substituir à Justiça, decretando já a inocência do ex-primeiro-ministro. Esta semana, o JN revelou a troca de missivas entre Sócrates e Soares e ficamos a saber, finalmente, que o homem que se disse um 'animal feroz' sabia perfeitamente que ia ser detido quando regressasse a Portugal. Foi aliás por essa razão que adiou duas vezes o seu regresso.

Mas o mais preocupante para a democracia é que muitos dos actores da esfera política acreditam que o poder irá mudar de mãos e que o processo poderá levar, nessa altura, uma grande reviravolta. Basta ler os sinais para perceber as movimentações de alguns que tentam a todo o custo pressionar os responsáveis do processo. Não nos esqueçamos do que se passou num passado muito recente quando a cúpula judicial 'rasgou' supostas provas incriminatórias contra precisamente o agora preso mais famoso de Portugal.

Em 2015 esperemos pois que os processos judiciais cheguem ao fim, que não haja destruição de provas e que nenhum processo seja arquivado, dando azo a todas as especulações, como foi o caso dos submarinos. A Justiça não pode olhar às cores partidárias, sejam elas azuis, rosas, laranjas ou vermelhas. O que interessa é se alguém cometeu crimes e prejudicou os outros…

vitor.rainho@sol.pt