“Ninguém observou o meu irmão”

A família do doente de 61 anos que esteve três horas à espera de ser atendido no Hospital Garcia de Orta e acabou por morrer de enfarte, garante que, ao contrário do que concluiu o inquérito interno, ele não teve qualquer vigilância. “No relatório médico cedido pelo hospital, é dito que o meu irmão teve…

Durante o tempo em que estive com ele, não houve um médico, um enfermeiro ou auxiliar de saúde a fazê-lo”, explica ao SOL João Inácio, irmão de Francisco que faleceu no dia 11 deste mês. 

No processo de inquérito aberto pelo hospital, a que o SOL teve acesso, os responsáveis da unidade “lamentam” a espera de três horas, mas garantem que o desfecho, fatal, seria sempre o mesmo tendo em conta o problema (ruptura da parede livre do ventrículo esquerdo). No relatório, assinado pelo médico e presidente da sociedade portuguesa de medicina intensiva, garante-se, porém, que durante a espera “o doente esteve sempre sob vigilância no SU [serviço de urgência], enquanto aguardava observação médica”. Mas a família da vítima tem outra versão.

João garante que, depois de fazer a triagem e receber uma pulseira amarela, os bombeiros que  transportaram o irmão na ambulância encaminharam-no para a sala de espera e colocaram-lhe oxigénio. Eram 19h16 minutos. “Até às 21h30, altura em que foi anunciado que todos os acompanhantes tinham de sair para os médicos fazerem troca de turno, ninguém se dirigiu ao meu irmão para o observar e saber como se sentia”, afirma João Inácio, recordando que, quando regressou, às 23 horas, foi levado para uma sala onde recebeu a notícia.

“As dúvidas são muitas, as resposta poucas”, diz agora João Inácio, desabafando: “Eu e a minha família só queremos que casos trágicos como este não aconteçam. Não faz sentido alguém precisar de auxílio e não se ser atendido por as urgências estarem cheias”.

catarina.guerreiro@sol.pt