Polícia de Ferguson novamente acusada de racismo em relatório

É verdade que são a maioria, 63% dos 21 mil habitantes de Ferguson, mas um novo relatório do Departamento de Justiça dos Estados Unidos confirma que os negros da cidade do Missouri foram sistematicamente alvos de racismo pela Polícia. Bastava andarem a pé ou de carro para arriscarem uma multa.

O relatório de 100 páginas divulgado ontem – que analisou documentos das autoridades de 2012 a 2014 – revela, por exemplo, que 85% dos condutores mandados parar pela Polícia eram afro-americanos. Prova que a sua selecção em operações de stop era totalmente aleatória e na maioria das vezes sem qualquer fundamento, uma vez que outros carros podiam continuar tranquilamente.

E uma vez parados, os negros enfrentavam tratamento diferenciado também. A probabilidade de serem revistados era o dobro face aos brancos, apesar de essas buscas provarem que os brancos tinham 26% mais probabilidades de terem em posse artigos ilegais como droga, armas ou contrabando.

Quanto a multas propriamente ditas – que o Departamento de Justiça afirma que serviam mais para os cofres da cidade do que para garantir a segurança e o cumprimento das regras no trâsnsito – 90% iam parar a condutores afro-americanos. Quanto ao jaywalking, que pode ser definido como atravessar a estrada fora da passadeira ou em locais proibidos, os negros pagaram 95% dessas multas.

Finalmente, os dados sobre múltiplas contra-ordenações registadas pela Polícia entre 2012 e 2014 também pendem a favor dos brancos. Os afro-americanos de Ferguson incorreram em quatri ou mais multas na mesma situação 73 vezes, contra apenas dois casos de brancos.

Ferguson, junto a St. Louis, entrou nas bocas do mundo em Agosto do ano passado após a morte de um jovem negro de 18 anos, Michael Brown, abatido a tiro pela Polícia. Gerou-se uma onda de indignação com várias manifestações e tumultos na cidade, que tiveram resposta violenta das autoridades, chegando a ser decretado recolher obrigatório. Em Novembro os tumultos voltaram quando se soube que a actuação do polícia responsável pela morte de Brown não iria ter quaisquer consequências judiciais.

emanuel.costa@sol.pt