Deitar cedo e cedo erguer dá saúde e faz… correr de madrugada em Lisboa

Isabel Félix levantou-se às 04:50 da manhã porque o treino de corrida no Parque Florestal de Monsanto, em Lisboa, começou às 05:30 e 12 quilómetros depois, com sorriso rasgado, garante sentir-se “muito bem”.

Deitar cedo e cedo erguer dá saúde e faz… correr de madrugada em Lisboa

Completado o treino e com os raios de sol a começarem a despontar, Isabel explica como faz sentido juntar-se a um grupo para percorrer trilhos, que têm de ser iluminados por luzes frontais colocados na cabeça dos corredores.

“O que motiva principalmente o acordar (de madrugada) é porque penso sempre nos treinos quando terminam: sinto-me tão bem, tão bem. Fico muito feliz e o grupo é espectacular”, resume a corredora, que entre os habituais companheiros de corrida sente apoio e entreajuda.

Pelas 08:30 é tempo de “continuar a ‘correr’” no trabalho, onde os seus colegas se dividem nas opiniões quanto aos seus horários: “Basicamente acham que sou louca. Uns admiram, há outros que gostavam de fazer, há outros que nem pensar (em correr de madrugada) porque acordar está fora de questão.”

Neste grupo, denominado Hora do Esquilo, há dias em que se juntam 20 a 25 elementos, graças às redes sociais da internet, mas há três anos eram “três ou quatro pessoas amigas” que começaram a marcar o treino a “esta hora mais imprópria” por “necessidades de horário”, recorda Pedro Conceição.

Este ‘pioneiro’ do grupo ouve habitualmente o despertador, de segunda a sexta-feira, pelas 05:15 para estar 45 minutos mais tarde no Monsanto, numa rotina que “depois de umas duas semanas” de prática se torna fácil.

Em média, os corredores do grupo ‘converteram-se’ à prática há cerca de 04/05 anos e as idades oscilam entre os 30 e os 40 anos, até porque, como nota Pedro, os “mais jovens não acham muita piada”.

A maioria dos madrugadores disputa provas, mas num “carácter amador”, salienta Pedro, explicando ser um grupo alavancado pela ‘moda’ de correr e, sobretudo, pela tendência mais recente de praticar ‘trail’, ou seja corrida em montanha.

Didier Valente trocou a BTT pela corrida e há cinco anos achava que seria difícil completar uma hora a percorrer os trilhos ladeados por árvores, em Monsanto. Actualmente treina para disputar, em Agosto, as 100 milhas (168 quilómetros) nos Pirenéus.

Ao trabalhar por turnos, percebeu ser mais fácil “retirar algumas horas à cama, ao sono”, em vez de “tirar horas à família”.

“Temos é de ter a disciplina de deitar mais cedo”, comenta à Lusa, fazendo algumas contas, até porque às vezes os seus treinos começam pelas 05:00: “em vez de me deitar à meia-noite, deito-me às dez e assim são as duas horas do treino da manhã”.

Também a completar cinco anos de treinos e várias provas disputadas, incluindo a primeira maratona em 2014, Filipa Siopa admite que as primeiras impressões que teve da “Hora do Esquilo” é que, além de ser muito cedo, “tinha fama de ter treinos bastante duros”.

“Uma pessoa vai adiando até que chega o dia em que vem”, conta a corredora, que testemunha como se pode “ganhar arcaboiço para dar aqueles passos que são mais difíceis” e que com “pequenos passos, se acaba por ir crescendo”.

Muitos despertadores continuarão a tocar antes das 06:00 e do sol nascer, pelo menos até ao Verão.

Lusa / SOL