Também “não se compreende” que Santos Silva tenha começado por afirmar tratarem-se de empréstimos, reconhecendo a seguir não haver qualquer anotação dos mesmos nem prazos de pagamento, terminando por assumir “que nem estava a pensar que houvesse pagamentos”.
Para os desembargadores, “é completamente inaceitável no plano das expectativas da comunidade dos cidadãos que, tendo sido o arguido José Sócrates primeiro-ministro deste país, com a elevação e exigência de transparência de probidade de comportamentos que lhe era e é exigível, venha dar a entender que o 'estilo de vida' luxuoso que levava, a não ter fontes sólidas de rendimento, em manifesta desconformidade com os seus rendimentos, era apenas da sua conta”. “Até podia ser da sua conta, mas que levantava sérias e fortes suspeitas, disso não podia fugir, pois, como refere o adágio popular, 'quem cabritos vende e cabras não tem, de algum lado lhe vêm'“.
Resumindo: existem fortes indícios da prática destes crimes e é preciso acautelar que a investigação reúna todas as provas que faltam, sendo certo que Sócrates, pelas capacidades intelectuais e relações que demonstra, tem todas as armas para perturbar essa recolha. Por isso, deve manter-se preso preventivamente, conclui a Relação.