Tecnologia, emprego e salários

Uma coluna de comentário económico, como esta, deve ocupar-se de temas de actualidade. Que não faltam, muitas vezes pelas más razões. Mas de vez em quando é necessário tomar alguma distância em relação à espuma dos dias e abordar questões que envolvem tendências de fundo susceptíveis de afectarem o nosso futuro e o das próximas…

Por isso já aqui falei nos receios quanto aos efeitos do progresso tecnológico no mundo do trabalho. É uma falácia conhecida a ideia de que existe um número mais ou menos fixo de empregos, o que levaria a propor, por exemplo, que os mais velhos saíssem do mercado de trabalho para dar lugar aos novos. Ou que houvesse partilha desse 'bolo', para que mais gente pudesse ter emprego.

De facto, o 'bolo' varia, desde logo com a automatização. É evidente que esta, num primeiro momento, destrói empregos, substituídos por máquinas. É o desemprego tecnológico. Mas, a médio e a longo prazos, o progresso técnico pode criar muitos mais empregos do que aqueles que inicialmente eliminou. Foi o que aconteceu na Revolução Industrial.

Nessa altura houve operários que destruíram máquinas (teares) que lhes tiravam trabalho. Mas nas décadas seguintes os avanços tecnológicos criaram muitíssimo mais empregos do que aqueles que num primeiro momento destruíram.

Será que algo idêntico irá acontecer com os computadores, a informática, a inteligência artificial, os robôs e todas as novas tecnologias que estão a surgir e a espalhar-se no tecido produtivo? Muita gente duvida. Por exemplo, a robotização faz com que grande parte da indústria transformadora deixe de ser uma importante fonte de postos de trabalho. Há meses referi aqui um estudo norte-americano e outro britânico com previsões negras sobre a destruição de empregos pelo progresso tecnológico nas próximas décadas.

Mas há quem não pense assim. É o caso de Walter Isaacson, que foi amigo e biógrafo do falecido Steve Jobs, o 'génio' da Apple, e hoje é director do Aspen Institute, um think tank sediado em Washington. Num artigo publicado no Financial Times Isaacson dá vários exemplos da capacidade das novas tecnologias para criarem emprego.

Desde logo a decisão de Steve Jobs, em 2008, de desafiar gente de fora da empresa a criar aplicações para o iPhone. Diz Isaacson que, sete anos depois, a economia das aplicações – que não existia antes – vale 100 mil milhões de dólares, mais do que a indústria de cinema. É que essas aplicações e outros avanços tecnológicos promoveram novas formas de trabalho, extremamente flexíveis, e de alguma forma recriaram, em termos modernos, o antigo trabalho artesanal. Quanto aos robôs, afirma W. Isaacson que em 2014 a introdução de novos sistemas robóticos gerou três milhões de empregos nos EUA.

O argumento deste antigo colaborador de Steve Jobs é que o aumento de produtividade e riqueza trazido pelas novas tecnologias multiplica a procura de bens e serviços, logo mais empregos, em áreas que antes não se podiam sequer imaginar.

De facto, a taxa de desemprego nos EUA caiu para 5,5% da população activa.

Problema diferente é o nível dos salários dos trabalhadores. Este praticamente não subiu durante os seis anos que leva a recuperação económica americana, ao contrário do que dantes era habitual acontecer. Para essa questão não encontro optimistas.