Crescer melhor

Ainda há meses muitos garantiam ser impossível atingir a meta do governo – 1,5% de subida do PIB no corrente ano. Pois a maioria das últimas previsões, nacionais e estrangeiras, aponta para percentagens superiores.  

A melhoria das nossas perspectivas económicas tem muito a ver com factores externos, que não dependem de nós. É a queda do preço do petróleo, as baixas do câmbio do euro e das taxas de juro (baixas por sua vez ligadas à compra maciça de títulos de dívida iniciada pelo BCE), e em geral a subida, ainda que ligeira, da previsão para o crescimento económico na Zona Euro. A Espanha, o primeiro parceiro económico do nosso país, deverá este ano crescer 2,8%. A boa evolução das receitas do turismo também se deve em alguma medida aos problemas no Norte de África, desviando potenciais visitantes para Portugal.

Ora, nada garante que estes factores favoráveis se mantenham por longo tempo. A situação cada vez mais complicada no Médio Oriente é susceptível de fazer subir o preço do petróleo, o que aliás já está a acontecer. O drama da Grécia poderá levar à subida das taxas de juro, sobretudo se do lado da Reserva Federal dos EUA surgirem sinais de uma próxima alta das suas taxas directoras, etc. A curto prazo haverá melhoria, mas depois poderemos andar para trás.  

Por outro lado, a falta de investimento empresarial faz que o stock de equipamento e máquinas por empregado seja, em Portugal, cerca de metade do que existe na Irlanda, em Espanha e até na Grécia. O que representa um travão para o nosso crescimento económico futuro. E mostra que ganhos de competitividade já não dependem de baixar salários mas de mais investimento nas empresas.
 
Daí que, mais importante do que crescer mais, será a economia crescer melhor, de modo sustentado. Não interessa um crescimento assente na procura interna, que aumenta o endividamento. 

Do lado do Estado não há muito a esperar. Na reforma do Estado deram-se poucos e tímidos passos nos últimos anos, apesar de o programa de ajustamento oferecer uma oportunidade porventura única para ir mais longe.

As mudanças estruturais têm que acontecer sobretudo no sector privado. Uma está aí à vista: depois de durante mais de dez anos muitas empresas portuguesas se terem virado para o mercado interno, por recearem a concorrência estrangeira, um bom número delas arriscou exportar. E ganhou. 

Foi uma viragem imposta pela «necessidade que aguça o engenho'. A austeridade reduziu o já pequeno mercado interno nacional, por isso a única saída para muitas empresas estava na exportação de bens e serviços. Só que a continuidade do sucesso exportador depende de haver mais investimento empresarial. 

Tal sucesso provavelmente não teria acontecido caso não tivesse havido alguma renovação na gestão de numerosas pequenas e médias empresas. O dinamismo e a resiliência manifestados por boa parte do tecido empresarial português não foram certamente alheios à circunstância de várias unidades terem passado a ser geridas por gente mais nova e com melhor formação do que os pais e avós que antes administravam essas empresas. 

Terão as novas gerações de gestores condições para dar a volta ao investimento? Essa é a grande dúvida. É uma ilusão esperar tudo dos fundos de Bruxelas. Pois se o célebre 'banco de fomento' ainda não funciona…