Problemas no Montepio

O “Público” de hoje, 20 de Abril, tem um extenso artigo em que nos dá conta de problemas sérios no Montepio e das consequentes preocupações no Banco de Portugal.

O Montepio é detido maioritariamente por uma associação mutualista (AM) que conta com 650.000 pessoas. Estes sócios não estão protegidos em caso de dificuldades na AM, muito embora os seus depósitos a prazo estejam protegidos até ao limite de 100.000 euros por pessoa. Além disso, a AM não responde perante o Banco de Portugal, como a mais elementar prudência ditaria que acontecesse.

O capital do Montepio é sobretudo detido pelos associados da AM, mas pelo menos uma parte é constituída por um instrumento financeiro: unidades de participação (UP). E no Montepio começam a haver práticas comerciais agressivas, em tudo semelhantes às que se passaram no BES, embora em menor escala. Já chegaram queixas ao Banco de Portugal e à CMVM de clientes do Montepio a quem os funcionários tentam que se desfaçam dos respectivos depósitos a prazo e que, com esse dinheiro, comprem UP’s, sem lhes explicarem que o dinheiro deixa assim de estar protegido. Além disso, segundo o Montepio, as UP’s conheceram uma forte desvalorização: se em Dezembro de 2013 valiam quase 1 euro, a cotação actual está na casa dos 80 cêntimos.

Apesar deste fiasco, a AM ou o Montepio podem vir a ter de emitir mais títulos até ao final deste ano, porque o banco poderá ter mais prejuízos. Um banco lucra quando os clientes lhe pagam os empréstimos; se o cliente deixa de pagar, o banco tem prejuízos. E, segundo o Público, do crédito que o Montepio deu à indústria da construção, uns aterradores 42% estão em incumprimento. Em 2013 e 2014 o Montepio teve prejuízos de 485 milhões de euros. Por essa razão, o Banco de Portugal terá, com toda a probabilidade, de exigir ao Montepio um aumento de capital (a pedir dinheiro “fresco” aos accionistas) até ao final deste ano. Veremos quem terá dinheiro para investir. Esse aumento de capital poderá ser indispensável porque o Banco de Portugal já obrigou o Montepio a fazer provisões (a colocar dinheiro de parte para cobrir eventuais prejuízos), e pode exigir uma nova provisão nos próximos meses.   

Uma última nota: o BPI é maior que o Montepio; tem sensivelmente o dobro do tamanho. Mas, nas contas da AM, a sua própria participação no capital do Montepio está contabilizada em 1.700 milhões de euros, isto é, em mais 500 milhões de euros do que o BPI é avaliado pela bolsa. Ou seja, se o Montepio estivesse cotado em bolsa, e as suas acções fossem avaliadas pela mesma medida que são as do BPI, muito provavelmente a AM estaria falida. Mas não está, graças àquilo que se chama, com sarcasmo, “contabilidade criativa”.